Então isso significava que se engravidasse, eu seria do tipo fácil que deixa qualquer um fazer o que quiser. Mas com minha irmã era diferente, tudo normal. Ela poderia dar para quem quisesse que não existia problema algum.
Comi meu cereal enquanto imaginava estar longe dali. Aos dezoito, mesmo que falida, eu moraria sozinha. Não importaria o lugar, não importaria com quem (nem se fosse sozinha). Eu estaria livre da casa roxa. E, o mais importante: das pessoas da casa roxa.
– Onde você esteve esta manhã? – perguntou minha mãe. – Esqueceu que está de castigo?
Eu tinha esquecido. Mas a culpa era dela, por não ter enfatizado o suficiente na noite anterior.
– Quanto tempo ficarei assim? – quis saber.
– Até você se tornar responsável e parar de faltar às aulas. Eu não pago aquele colégio para você fazer isso.
– O colégio é público. – corrigi.
Ela odiava ser corrigida.
– Pior ainda. Você sabe quantos meninos de rua dariam tudo para estar no seu lugar?
– Não finja se importar com eles. – falei sem medo.
Mas deveria ter.
– O que você disse, Sophia? – olhou-me com reprovação.
Desejei nunca ter dito nada.
– Acho que meu castigo não se aplica ao lugar que eu fui esta manhã. – fugi do assunto.
– E aonde você foi? – perguntou.
Ela não gostaria de saber, mas tinha perguntando. Eu precisava responder.
– Ao presídio. Fui ver o papai. – respondi. – Como todo domingo eu faço, você deveria saber. Greg soube.
Sua perna cruzada, que antes balançava no ar, parou. Marga e Cecília pararam de falar sobre fetos.
– Pra que você tem que ir lá toda semana? Ele vai continuar igual por muito tempo.
– Porque ele é o meu pai e me preocupo com ele.
Mia era mais uma das que exageravam. Tudo bem que ser um pai ausente e provavelmente não a satisfazer na cama tinham levado os dois diretamente para a separação, mas eu não entendia a sua constante raiva para com ele. Existia a coisa toda de ele ter sido preso e isso ter dado mais um mal exemplo para todos seus filhos, mas isso não era motivo para ela odiá-lo. Eles já se amaram um dia, eu acho. Quando fui 'fabricada', espero.
– Não tem nada para fazer naquele lugar que ele está.
Ela nunca dizia que ele estava preso. A única que sabia era Marga. Para todos os outros, ele tinha mudado de cidade.
– Tem sim, você nunca foi para saber. Eu levei biscoitos e conversamos sobre tudo que anda acontecendo. – expliquei.
Levantei e coloquei na pia a minha tigela vazia. Fui para a sala, onde todas as mulheres se encontravam. Mia levantou-se do sofá e parou em minha frente. Algo ruim estampava seu rosto.
– Sobre o que exatamente vocês conversaram? – perguntou.
Arqueei os ombros.
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O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...