Capítulo 32

3.5K 576 82
                                    


Sorri antes de abrir os olhos. Não era a manhã seguinte apenas. Alguns dias já haviam se passado, e essa era só mais um amanhecer rotineiro. Jonas havia se adaptado muito bem ao nosso plano noturno, e ninguém ainda – muito obrigada, Deus – havia o descoberto.

Eu estava sentindo-me muito bem naquela manhã, até abrir os olhos e deparar-me com a face de Arie quase colada à minha, sorrindo. Fiquei estática, meus olhos arregalados. Ameacei gritar, mas o garoto cobriu a minha boca com sua mão direita.

– Você não quer que me descubram. – ele sussurrou.

Puxei o edredom, escondendo meu rosto.

– Eu te falei para não olhar-me enquanto durmo ou acordo! – falei.

– Você é mais linda que sua irmã, sabia?

– Mentiroso. – a minha voz estava abafada por baixo do pano.

– Se tem alguma coisa que eu não faço é mentir, ok?

– Sei.

Ouviu-se um barulho vindo do lado de fora. Jonas olhou rapidamente para a janela aberta e jogou-se sem medo. No instante seguinte, Cecília apareceu no ambiente, fitando-me com uma cara confusa.

– Por que você estava falando sozinha? – perguntou ela.

Sentei na cama, aproveitando para pensar em alguma resposta convincente.

– Estava aquecendo a voz. – menti, fazendo alguns sons com a boca depois. – Não passo a noite inteira falando como você faz.

Ela aproximou-se, abrindo a boca.

– O que você quer dizer?

– Que você fala enquanto dorme. Estou reparando isso há dias. – olhei-a nos olhos.

– Er... Ahm... Duh, eu não faço isso!

– Faz sim... Duh! – a imitei.

Cecília cruzou um braço, apoiando a mão no queixo. Ela estava pensando, olhando para o nada, imaginando se havia dito mesmo algo durante a noite ou não. Ignorei-a, lembrando-me de Jonas. Não liguei para o fato de estar usando pijamas, apenas deixei o quarto correndo, estranhando pela família toda estar em casa. 'Anormal', pensei.

– Sophia? – o quatro dedos me chamou, mas não olhei para ele.

Ouvi a voz de minha irmã, no alto das escadas. 'Você está ficando louca ou o que?' foi o que ela disse para mim em voz alta para que todos pudessem ouvir claramente.

Abri a porta da frente, fechando-a logo em seguida. Dirigi-me até a lateral da casa roxa, onde encontrei Jonas sentado no meio da grama.

– Ai meu Deus, você está bem? – perguntei.

– Sobreviverei.

Peguei em seu pulso, analisando-o.

– Você é um tipo de mutante que nunca se machuca? Nenhum arranhão? – procurei por algum machucado em seus braços.

– Eu estou bem.

Observei meu pijama, pensando na minha cara de derrotada. Olhei para as ruas para ver se nenhum vizinho estava presenciando minha humilhação.

– Você se preocupa muito com os outros, hein. – falou o garoto.

– Não é você que está vestindo florzinhas coloridas em um pijama curto.

Levantamos da grama, encarando a árvore já familiar. Era rotina ter que escala-la todas as noites, então não havia problema algum fazer isso outra vez. O garoto auxiliou-me com suas mãos geladas. Sempre agarrava-me com força aos galhos velhos, pois sabia que um dia ou outro acabaria caindo dali. Olhei para a janela já aberta do quarto, enxergando Cecília.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora