Olhei no fundo dos olhos dela. Procurei por algum vestígio que pudesse responder as minhas perguntas, mas com certeza não havia nada ali. Devia ser algo interno, e provavelmente eu nunca veria com os próprios olhos. Mas eu continuei analisando a loira em minha frente, pensando e procurando ao mesmo tempo.
– O que você está fazendo? – ela perguntou.
Tirei a minha mão do peito de minha irmã. Encarei-a, ainda com a minha expressão confusa.
– Tem alguma coisa diferente em você, e eu quero saber o que é. Você mudou muito nesses últimos tempos.
– Alô, eu estou em uma cadeira de rodas! – ela evidenciou. – Não é mudança o bastante para você?
– Duh, eu sei disso. Estou dizendo que a sua... – não quis dizer burrice. – falta de conhecimento sumiu. Ou talvez você tenha adquirido um pouco. O que foi que aqueles médicos do hospital fizeram com você? Acho que são milagrosos!
Cecília empurrou a minha mão, suspirando.
– Não seja ridícula, Sophia. Eu apenas... amadureci. A experiência que estou vivendo me obriga a amadurecer.
Inclinei um pouco a cabeça para a esquerda.
– A questão não é essa. Acontece que você nunca mais falou errado. Uma vez ou outra.
– Estou escolhendo melhor as palavras. Li muitas revistas naquele hospital entediante.
– Quais? Aquelas inúteis para meninas bobocas que falam sobre as modinhas do momento?
– Percebi que elas estavam deixando-me burra. Passei a olhar as que Greg costumava ler, e que eu nunca havia me interessado.
– Ok, você passou a olhar ou a ler também?
– Foi uma mudança lenta, tive que ir com calma. Você sabia que cirurgia não se escreve com S?
– Pare! – gritei alto. – Vou manter você longe das revistas. Mais um pouco e você ganha o prêmio Nobel!
Ela revirou os olhos.
– Vou fazer Pet-Gato para mim. Você quer?
Olhei-a como se quisesse dizer 'ok-tente-mais-uma-vez-se-você-quis-dizer-Petit-Gateau'. A minha irmã riu.
– Estou só brincando, sua boba. Eu sei que o certo é Petit Gateau. Só nunca soube que um alimento derivado dos gatos poderia ser tão bom.
Aí estava ela de volta.
♦
O carro luxuoso parou na rua que eu tanto temia. Eu não havia acostumado-me ainda com tanta modernidade. Havia de tudo dentro daquele automóvel.
– Ligue-me quando quiser que voltemos para buscá-los. – avisou Cecília.
– Certo.
Desci do carro, então Gus correu até a casa de nossa vizinha. Aproximei-me da parte da frente do veículo, flexionando-me para dentro da janela do passageiro.
– Você vai levar Sam até o lugar que você costumava trabalhar? Você sabe... – sussurrei em seu ouvido.
– Cala a boca, Sophia! – ela empurrou-me para fora.
Eu estava rindo alto demais. O motorista não estava entendendo nada.
– Não, eu não vou levar o Sam até lá. Acho que ele não quer conhecer. Sabe, estaremos com o Nathan junto, então não é uma boa ideia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...