Capítulo 63

3K 436 48
                                    

Olhei no fundo dos olhos dela. Procurei por algum vestígio que pudesse responder as minhas perguntas, mas com certeza não havia nada ali. Devia ser algo interno, e provavelmente eu nunca veria com os próprios olhos. Mas eu continuei analisando a loira em minha frente, pensando e procurando ao mesmo tempo.

– O que você está fazendo? – ela perguntou.

Tirei a minha mão do peito de minha irmã. Encarei-a, ainda com a minha expressão confusa.

– Tem alguma coisa diferente em você, e eu quero saber o que é. Você mudou muito nesses últimos tempos.

– Alô, eu estou em uma cadeira de rodas! – ela evidenciou. – Não é mudança o bastante para você?

– Duh, eu sei disso. Estou dizendo que a sua... – não quis dizer burrice. – falta de conhecimento sumiu. Ou talvez você tenha adquirido um pouco. O que foi que aqueles médicos do hospital fizeram com você? Acho que são milagrosos!

Cecília empurrou a minha mão, suspirando.

– Não seja ridícula, Sophia. Eu apenas... amadureci. A experiência que estou vivendo me obriga a amadurecer.

Inclinei um pouco a cabeça para a esquerda.

– A questão não é essa. Acontece que você nunca mais falou errado. Uma vez ou outra.

– Estou escolhendo melhor as palavras. Li muitas revistas naquele hospital entediante.

– Quais? Aquelas inúteis para meninas bobocas que falam sobre as modinhas do momento?

– Percebi que elas estavam deixando-me burra. Passei a olhar as que Greg costumava ler, e que eu nunca havia me interessado.

– Ok, você passou a olhar ou a ler também?

– Foi uma mudança lenta, tive que ir com calma. Você sabia que cirurgia não se escreve com S?

– Pare! – gritei alto. – Vou manter você longe das revistas. Mais um pouco e você ganha o prêmio Nobel!

Ela revirou os olhos.

– Vou fazer Pet-Gato para mim. Você quer?

Olhei-a como se quisesse dizer 'ok-tente-mais-uma-vez-se-você-quis-dizer-Petit-Gateau'. A minha irmã riu.

– Estou só brincando, sua boba. Eu sei que o certo é Petit Gateau. Só nunca soube que um alimento derivado dos gatos poderia ser tão bom.

Aí estava ela de volta.


O carro luxuoso parou na rua que eu tanto temia. Eu não havia acostumado-me ainda com tanta modernidade. Havia de tudo dentro daquele automóvel.

– Ligue-me quando quiser que voltemos para buscá-los. – avisou Cecília.

– Certo.

Desci do carro, então Gus correu até a casa de nossa vizinha. Aproximei-me da parte da frente do veículo, flexionando-me para dentro da janela do passageiro.

– Você vai levar Sam até o lugar que você costumava trabalhar? Você sabe... – sussurrei em seu ouvido.

– Cala a boca, Sophia! – ela empurrou-me para fora.

Eu estava rindo alto demais. O motorista não estava entendendo nada.

– Não, eu não vou levar o Sam até lá. Acho que ele não quer conhecer. Sabe, estaremos com o Nathan junto, então não é uma boa ideia.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora