Capítulo 30

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E eu dormi mesmo. Tudo bem, nenhuma novidade até aí. Não foi um tipo de sono confortável, mas os braços de Jonas haviam me esquentado.

– Sophia, acorde! – sussurrou Arie em meu ouvido.

Eu não queria. Poderia ficar ali deitada para sempre, apenas lembrando as suas palavras.

– Eu não quero. – relutei.

– Mas você precisa. Olhe! – ele ainda sussurrava, dessa vez apontando para a janela quebrada, coberta por aquele cobertor fino. Um facho circular de luz forte estava focado no pedaço de pano. Imóvel.

– O que é isso? – perguntei.

– Os guardas. Cuidam do condomínio atrás das árvores e de vez em quando expulsam os mendigos que ficam por aqui.

Lembrei-me do que Ben tinha falado sobre eles no dia anterior. Jonas era um tipo de Jedi por nunca ter sido pego.

– Quer dizer que eles pensam que nós somos mendigos?

– E nós não somos quase isso? Quem fica em um parque abandonado a essa hora da noite? E pelo cobertor na janela, eles devem pensar que viemos aqui para...

– Ok. – não o deixei concluir.

Pudemos escutar passos vindos do lado de fora. Acho que era apenas um dos seguranças, porque se houvessem dois eles certamente estariam conversando. Também se pôde escutar um curto barulho de correntes balançando, então o facho de luz mudou de direção.

– Você acha que ele foi embora? – perguntei para o garoto.

– Não se... – respondeu, sendo interrompido.

O guarda bateu na porta três seguidas vezes, como alguém civilizado bateria na porta de uma casa de família. Olhei para Arie, sem saber o que fazer. Ele apontou para a mochila. Fiquei de pé, tentando não fazer barulho nenhum. Aproximei-me dela e a abri, guardando nossas lanternas – acho que Jonas as tinha apagado ao ver o facho de luz, ainda antes de eu acordar – as barras de cereal, as luzes e a fita. Coloquei a mochila nas costas e juntei-me ao garoto, que esperava também de pé, olhando fixo para a porta. Grudei minha mão na dele. Talvez se esperássemos, o guarda desistiria.

– Abram essa porta! – gritou ele.

Não tinha desistido. Ele bateu mais três vezes, dessa vez como alguém não civilizado faria se fosse uma casa de família. Sua mão era pesada e jogada com força contra a madeira. De dentro, consegui observar que havia um cachorro. A corrente de sua coleira balançava enquanto ele rosnava. Parecia ser dos grandes. Tirando Brad Pitt, eu era péssima com esse tipo de animal.

Jonas apontou para a janela fechada com o cobertor. Acho que o segurança era inútil demais para perceber que era mais fácil entrar por ali. Retirei com cuidado a fita, segurando o cobertor na mesma posição. O guarda bateu mais vezes na porta, com ainda mais força. Entreguei o cobertor para o meu garoto, e ele mandou-me sair da casa primeiro. Olhei para o trinco que prendia a porta, ele estava quase destruído. Minha cabeça saiu por primeiro, procurando observar se o guarda poderia me enxergar. Nada. Então voltei para dentro, e coloquei a minha perna para fora. Implorei para que ele não nos ouvisse. Quando conseguisse entrar na casa, não haveria mais ninguém. A minha outra perna saiu, e então deslizei para fora, segurando na madeira. Pronto. Agora só faltava Jonas sair também.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora