Capítulo 66

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– Vocês não podem fazer isso! – gritou Cecília, passando por minha frente com a cadeira de rodas.

Os policiais olharam como se quisessem dizer 'mas-é-claro-que-podemos'. Gustavo aproximou-se de mim, agarrando a minha mão. Já eu, estava incrédula. Poderia imaginar que aquela mulher detestável iria denunciar Greg por tê-la espancado, mas ela havia sido mais esperta, optando por tocar o seu ponto fraco.

Olhei para o meu padrasto. Eu não sabia o que fazer. Mais uma vez.

– Essa mulher é louca, ela não pode cuidar de nós! – gritou o meu irmão.

– Está tudo bem. – eu disse.

A minha irmã virou-se para mim.

– Você não vai voltar para aquela casa, Sophia. – falou lentamente.

O meu olhar estava indiferente. Não havia o que pudéssemos fazer naquele momento. Era a lei contra nós, e teríamos de obedecer aos tiras.

– Ela tem que ir.

A jovem loira olhou para o lado, observando Sam.

– Eu pensei que você estivesse do nosso lado! – a cadeirante começou a soltar lágrimas.

O dono da casa abaixou-se e abraçou-a.

– Vai ficar tudo bem. Não podemos fazer nada agora. – ele sussurrou. – Você esqueceu que eu tenho um plano?

Ela fitou-o por dentre o choro. O rapaz piscou.

Apertei a mão de meu irmão e dei o primeiro passo. Ele puxou-me para trás. Pude ver o seu olhar suplicante.

– Sophia... – balbuciou. – Nós vamos morrer lá.

Aquele olho encharcado matava-me por dentro. O meu coração estava reduzido a mil pedaços. Mas eu ainda estava de pé, e poderia a todo custo proteger meu irmão. Até mesmo na casa roxa.

– Vem. – ordenei.

Eu sabia que aquilo não seria nada bom. Eu sabia que Mia nos faria de escravos e nos humilharia várias outras vezes. Porém, eu ainda acreditava em Sam. Ele segurou em meu ombro antes que eu pudesse deixar a mansão, e então me ofereceu o seu melhor sorriso compreensivo. Ele tinha um plano em mente, e sendo um advogado rico, eu deveria acreditá-lo.

Greg olhou-me com raiva nos olhos, mas sabia que nada poderia fazer. Cecília recusou-se a nos ver partir, então apenas continuou chorando, olhando para baixo. Seguimos os policiais. Descer cada degrau daquelas escadas da entrada da mansão deixava-me mais perto da pessoa que eu mais odiava. Eu estava cometendo suicídio.

O oficial mais alto abriu a porta do carro para nós. Entrei primeiro, pois assim ficaria entre Mia e meu irmão. Gustavo não largou a minha mão por nenhum segundo, mas seria ridículo reclamar sobre a dor nesse momento. Procurei olhar para frente sempre, e nunca encarar o animal feroz ao meu lado.

– Estava com saudades. – falou a mulher.

Virei o rosto, fitando-a pela primeira vez. Os óculos escuros – provavelmente para esconder os machucados – impediam-me de visualizar o seu olhar. Porém, o discreto sorriso em sua face já foi o bastante.


A viatura parou na rua tão tradicional. A casa roxa estava ao nosso lado, esperando os seus convidados daquela vez. Os dois tiras abriram as portas do carro, e eu tive que forçar o meu irmão a sair.

– Obrigado, senhores oficiais. – disse Mia.

– As ordens, madame!

E o veículo partiu.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora