Capítulo 44

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            – Você está abusando. – Jonas falou.

– Qual é, é só um jantar! – deixei claro. – Eu não vou deixá-lo beijar-me novamente.

Arie olhou-me pensativo por alguns segundos.

– Você pode ir, Malka. Divirta-se.

– Sério? Tipo... Mesmo?

– Sério. – falou seco.

– Você não vai ficar bravo comigo depois? – perguntei.

– Não. Eu também irei sair, tenho um compromisso.

– Ah. Você vai sair com a sua namorada?

– Não, ela estará ocupada hoje à noite.

Sorri para o garoto. Ele colou seu rosto ao meu, beijando-me. Cada vez que meus lábios cumprimentavam os dele, eu sentia-me no céu.

– Vou dar uma olhada na minha antiga casa novamente.

– Havia me esquecido disso. Você nunca mais viu o seu pai por aí?

– Não, e ainda não quero.

– Então para que ir atrás disso? Você e minha cama estão muito bem, e...

– Não posso ficar aqui para sempre, Sophia.

Sentados nos balanços do parque, peguei na mão do meu garoto.

– Então você cansou de fugir...

– Quero a minha vida de volta. Não estou mais gostando de brincar de esconde-esconde. Posso não aceitar o meu pai, mas a vida que ele me proporcionava era incontestável.

Pensei um pouco em tudo aquilo.

– Então volte para casa. Avise a sua mãe, fale com o seu pai. E aí seremos um casal de namorados comuns. Quer dizer, você na sua casa, eu na minha. Encontros rotineiros, saídas ao cinema...

– Você gostaria de mais emoção?

– Seria legal.

O garoto do parque empurrou o meu balanço subitamente. A força foi tanta, que eu comecei a balançar no ar e rodar.

– Está bom assim? – perguntou.

Corri para matá-lo.



Era a terceira vez que eu esperava na frente daquela porta de madeira. Dessa vez eu tinha a certeza de que não encontraria a mãe de Ben, e isso já aliviava um pouco toda a situação. Bati na porta e esperei aflita. O garoto abriu-a e surpreendeu-se com o que viu. Acho que ele procurou por alguma palavra, mas não encontrou nenhuma que estivesse procurando.

– Nossa... – falou fitando-me.

– Estou patética? – perguntei.

– Você está linda.

Eu não estava diferente. Apenas como sempre. Meu jeans favorito quase preto, uma camisa xadrez vermelha, o colar de clave de sol no pescoço e um pouco de lápis preto no olho. Ok, talvez não tão pouco. O perfume era o mesmo de sempre.

– O que você fez no cabelo?

– Está feio?

– Já disse que você está linda. Então não, não está feio.

– Obrigada. – agradeci tímida.

Não era a minha intenção impressionar. Eu estava ali para passar um tempo com meu amigo e esclarecer algumas coisas. Talvez eu tivesse exagerado na produção, mas não tinha sido nada demais.

Ben convidou-me para entrar.

– Você já conhece a casa. Sinta-se a vontade.

O cheiro que invadiu minhas narinas era muito bom. Não soube imediatamente decifrar do que se tratava, então fui obrigada a perguntar:

– Posso saber o que teremos para a janta?

Ben estava de costas para mim.

– Estrogonofe de Sophia! – falou, apontando para mim uma faca.

– Por favor, não me mate antes de provar sua comida. Se é que foi você mesmo quem a fez. Ainda estou duvidando de tudo isso.

Ele riu, sentando-se em cima da bancada da cozinha. Puxei um banco ali perto para mim.

– É tão estranho assim? – perguntou.

– Você não tem cara de quem leva jeito com essas coisas mais simples. Para mim você só sabia jogar basquete. Sabe, sem ofensas.

Comecei a reparar no local. A luz estava mais agradável. Talvez por ser noite, sendo que das outras vezes em que eu havia visitado a casa de meu amigo fosse dia. A iluminação era amarelada e na medida certa. As cortinas fechadas deixavam o ambiente mais aconchegante.

– Mas saiba que eu sei cozinhar. E muito bem. Tive até que procurar alguma receita que não levasse vinho ou algo alcoólico. Não é fácil fazer comida para crianças.

Ele começou a rir de mim. Eu levantei, aproximando-me dele.

– Quem é a criança aqui? – perguntei, olhando para Finta. Foi aí que percebi que eu realmente era baixa demais se comparada a ele. – Ok, sou eu.

– Mais dois anos só. Você agüenta.

– Não quero ser adulta. – declarei.

– Síndrome de Peter Pan? – questionou-me.

– Não. Só não quero tornar-me uma chata sem graça. Quer dizer, você acha que teria sido legal se eu te conhecesse com uns trinta anos? Provavelmente nos encontraríamos em uma exposição sem graça, daquelas em que servem champanhe. Falaríamos sobre trabalho e discutiríamos sobre a atual situação do país.

Ele analisou-me, tentando entender meu pensamento.

– Você tem razão. Não seria tão bom quanto é agora. Eu provavelmente não poderia fazer isso. – Ben falou e no fim empurrou-me de leve, irritando-me.

Olhei-o negando com a cabeça e então o empurrei de volta. O garoto entrelaçou as suas mãos nas minhas e ficamos nos empurrando. Eu de pé e ele sentado em cima da bancada de granito. No fogão, alguma coisa de aroma bom cozinhava. Empurrei-o com um pouco mais de força, e então ele me puxou para si. Ben inclinou-se para trás, praticamente deitando. Meu corpo caiu sobre o dele.

Olhei-o por o mínimo de tempo que consegui (a cena era constrangedora o suficiente) e resolvi dar um fim naquilo tudo.

– Você quer me responder aquelas perguntas agora?

– Essa seria a parte em que o beijo aconteceria se nós estivéssemos tendo um romance ou coisa parecida.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora