Na manhã seguinte, entrei no parque correndo, procurando por meu salvador. Os balanços, o gira-gira, e até mesmo o escorregador estavam vazios. Parei no meio do local repleto de areia e girei o corpo, verificando cada lugar. Inclinei um pouco a cabeça para trás, olhando para o alto. O sol não me cegou, pois estava parcialmente fraco naquela manhã. Os dias ainda continuavam nublados, parecendo que choveria a qualquer hora. 'Ei Bella, olhe quem tem uma Forks particular agora.'
Jonas estava sentado no galho da mais alta árvore do local. A mesma em que ele havia me levado para quase tocar o sol e contar-me que havia fugido de casa. Não fiz muito barulho, e tive que equilibrar-me sozinha para que não caísse quando a escalei. Arie estava com o pensamento longe, pois não reparou que eu chegava por trás dele. Cobri seus olhos com minhas mãos. Mordi o lábio para que não risse.
– Deixe-me adivinhar... Malka?
Descobri seus olhos.
– Como se não fosse óbvio. – falei.
Sentei no mesmo grosso galho, atrás do meu garoto. Dessa vez foi ele quem jogou-se para trás, deitando em meu peito.
– Eu gostaria de estar em uma posição melhor para poder te abraçar. – eu disse. – E agradecer.
– Você não precisa me agradecer. Fiz o que estava ao meu alcance.
– Se não fosse você, meu irmão estaria...
– Ei! – ele gritou, interrompendo-me. – Já passou, certo?
Deitado ali, ele olhou para cima, fitando meu rosto. Curvei-me, beijando seus lábios.
– Você sabe que cada coisa que faz deixa-me mais apaixonada por você?
– É a minha intenção. Vivo para isso.
– Não vive não.
O garoto retirou algo do bolso. Era a sua moeda da sorte, mas o objeto prateado estava diferente.
– O que você fez com a moeda mágica?
Jonas ficou de pé no galho, sentando novamente, mas ficando de frente para mim. Ele abriu a palma da mão, onde escondia o seu amuleto da sorte. A moeda havia sido destruída, e agora parecia uma coroa circular. O centro havia desaparecido.
Ele pegou a minha mão direita, depois olhou-me nos olhos.
– Você quer gastar um pouco mais de tempo comigo? Não que isso seja um compromisso, mas eu gostaria de deixar claro que você pertence ao garoto fugitivo.
O sangue em minhas veias tornou-se energético. O meu coração transformou-se em uma bexiga cheia de ar, os meus neurônios pulavam em diferentes direções. Havia uma festa dentro de mim.
Sorri para Arie, ficando tímida. As bochechas vermelhas faziam parte.
– Eu aceito namorar com você.
Ele colocou gentilmente o anel de moeda em meu dedo anelar. Antes que eu o beijasse, retirei meu colar de clave de sol do pescoço, passando para o de meu namorado.
– Você não pode ficar desprotegido. – falei.
Beijei o garoto do parque. Os seus lábios tinham gosto de balas Tic Tac dessa vez. A lentidão daquele movimento deixava tudo melhor e mais intenso. Com a mão em sua nuca, atrevi-me a morder levemente o seu lábio inferior.
– Pensei que você fosse tímida, Malka. – ele disse-me entre o nosso beijo.
– Pensei que você gostaria, Arie. – retruquei.
– Então você acertou.
Ficamos trocando beijos por um tempo longo. Falamos sobre o tempo, o que até poderia parecer meio conversa de taxista, mas tudo ligado aos fenômenos naturais nos deixava impressionados. Nosso primeiro beijo havia sido regado pela chuva, então nós particularmente gostávamos dela. As nuvens negras no céu deram um sinal, mostrando-nos um relâmpago que iluminou todo o nosso campo de visão.
Perguntei sobre a visita de meu namorado à casa antiga.
– Ele não estava lá. E dessa vez nada mais estava. Quebrei a janela do porão para que pudesse entrar. Todos os móveis desapareceram, a casa está completamente vazia agora. O meu pai desapareceu.
Estávamos desorientados, sem um novo plano em mente. A única coisa que vinha-me à cabeça era correr para a polícia e falar tudo, mas quanto a isso Jonas ainda relutava.
– Já faz tempo que não temos nenhum sinal dele.
– Está na hora de fazer algo.
– Você tem alguma ideia?
– Antes de irmos até a polícia, podemos tentar uma última coisa. Pensei em ir até a cidade de meus tios. Se ele não está aqui, provavelmente deve estar lá, ao lado de minha mãe. Aquele cretino mentiroso!
Segurei em suas mãos para acalmá-lo.
– Eu não queria ir no começo, você sabe. Mas cansei disso tudo agora. Eu não posso viver fugindo, não vou chegar a lugar nenhum. Me importa muito quem o meu pai é, mas quanto a isso, no momento, não posso fazer nada. A pior das verdades é a de que eu preciso dele.
– E o que você pretende fazer quando vê-los?
– Não sei. Acho que vou voltar como se nada tivesse acontecido. Explicarei que fugi de casa por algum tempo, pois estava com uns problemas. Posso até inventar alguma história qualquer. Eles vão acreditar em qualquer coisa, desde que eu volte a morar com eles. A minha mãe deve estar desesperada, só não entendo porque ela não me encontrou ainda.
– Rodar o mundo atrás de um filho desaparecido leva alguns dias. – expliquei. – Posso ir com você? – perguntei.
Não custava tentar. Eu sabia que a resposta de Jonas seria...
– Sim. – ele disse, contrariando o meu achismo.
Tudo bem, eu havia errado.
– Amanhã. – comprometi-me.
– Amanhã. – concordou.
♦
O quarto estava horrivelmente escuro. Os meus olhos quase estavam fechados, mas os passos vindos da rua me obrigavam a mantê-los abertos. Não tive forças para levantar, o sono estava imperando sobre mim. Apenas percebi um toque em minha mão, e então pude enxergar o semblante de Jonas ao meu lado.
– Sophia, ele está aqui. – ele me avisou.
Resmunguei um pouco, revirando-me na cama. Aquele menino poderia tentar de tudo, mas nunca conseguiria me tirar dali. Ele cutucou a minha mão com mais força, mas eu fechei os olhos. Ouvi mais alguns passos – dessa vez ecoados de dentro do meu quarto mesmo – e caí no sono mais uma vez. Não sabia se o dia já havia chego, mas eu provavelmente ficaria dormindo por mais algumas longas horas. Era o meu desejo.
Perdi-me em algum sonho confuso qualquer. Estava tudo escuro, e no meio do nada havia uma bala de goma colorida. Aproximei-me, juntando-a do chão. Com um sopro, qualquer impureza que estivesse a cobrindo voou para longe. Abri a minha boca, levando diretamente o doce dos meus dedos, para que eu pudesse degustar. Antes mesmo que eu pudesse sentir o gosto do açúcar, um som instantâneo e ensurdecedor ecoou. A bala de goma caiu ao chão, e então o que escutou-se em seguida fora algo veloz que passou por mim. Obviamente a sua identificação foi impossível. Coloquei a mão em meu bolso, decifrando o tal volume que havia ali. Era uma caixa de fósforos, assim como no meu sonho das maçãs. Acendi o único que a caixinha continha, e pude enxergar as marcas pretas no chão.
Acordei de súbito, pulando na cama. Ofegante, agradeci por ter sido apenas um sonho. Mas na verdade, os pesadelos haviam voltado.
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O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...