O tilintar dos copos de vidro despertou-me dos pensamentos. Terminei de brindar, olhando para cada uma daquelas pessoas ao redor da grande mesa. Sam havia pedido para Mayá exagerar na comida, mas ninguém tinha um motivo concreto para aquele jantar aleatório organizado às pressas. Talvez Gustavo fosse o único que tivesse uma razão para aquilo tudo, mas ele não havia me dito nada.
As pessoas que eu amava estavam presentes: Cecília com os seus cabelos louros presos e a maquiagem impecável, mais linda do que nunca. O seu namorado já citado, totalmente radiante. O meu irmão cabeludo, que não desgrudava de mim por nenhum segundo. Virgínia e Ben, que passaram a noite conversando comigo. E, por fim, Greg, que só largou Nathan quando Mayá insistiu para segura-lo.
A noite foi longa. Comemos, conversamos, trocamos o máximo de afetividade possível. Já de madrugada, quando eu havia me despedido de todos, Gustavo sentou ao meu lado no grande sofá da sala. O pequeno ofereceu-me um aparelho de música, e eu soube exatamente qual deveria ouvir. Havia sim um motivo para aquilo tudo.
♦
Trinta de abril bateu em minha porta. Cinco exatos meses que eu havia conhecido Jonas. Era a noite seguinte ao jantar da mansão, e eu estava à espera. Quando o telefone tocou, corri para atender.
– Sophia... – a voz de Mia era monótona. – O baú!
– Ahn?
– Estava limpando a casa. Você sabe, sou uma mulher organizada. – exibiu-se. – Encontrei um baú, algo bem feio na verdade.
O baú de vovó, pensei.
– Quis logo jogar fora, mas...
– Não!
– Pff, está vendo como eu sou uma pessoa bondosa? Venha buscar essa porcaria agora!
A linha ficou muda.
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Abri a porta da casa roxa por conta própria, sem nem mesmo tocar a campainha. Mia não se importaria tanto assim. O máximo que eu poderia ver seria... Ok, prefiro nem pensar.
Entrei no local, interrogando-me o porquê daquela súbita escuridão. Alguém havia esquecido o significado dos interruptores de luz?
– Mia? – chamei-a.
Ninguém respondeu. Provavelmente a minha mãe havia voltado a ficar louca, e agora andava esquecendo até a porta de casa destrancada. Sem contar na inexplicável fumaça que rodeava a sala de estar. Mia não fumava, então não havia motivos para aquele cheiro horrível de cigarro que adentrava as minhas narinas.
– A boa filha a casa torna. – ouvi uma voz.
Meu olhar voltou-se rapidamente para o mezanino, encontrando aquela figura masculina. A luz das estrelas e da lua que insistia em ultrapassar o vidro das janelas ajudou-me, iluminando-o levemente. Foi o bastante para reconhecê-lo.
Fiquei animada a princípio. Quis rapidamente abraça-lo, mas lembrei-me do que havia acontecido. Já fazia um curto tempo, mas ainda estava claro em minha cabeça que aquele homem em minha frente não era o meu verdadeiro pai.
Eu estava surpresa. Quer dizer, pensei que saberia de antemão a data de sua liberação, mas não haveria um motivo para me contarem. Eu não havia o visitado nunca mais, pois apenas não fazia questão. Ele também escondeu de mim que eu era adotada, e aquilo me deixava com certo incômodo. Além do mais, explicar todas as reviravoltas sofridas por mim nos últimos meses seria uma grande tarefa.
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O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...