Mia aproximou-se de Cecília assim como um pecador aproxima-se da cruz.
– Aonde você vai? – perguntou a general enfraquecida.
– Não te interessa. – respondeu a grávida.
Mia aproximou-se dela, puxando-a com força. Quase corri para ajudar a minha irmã. Aquela mulher, que usualmente era chamada de mãe, havia enlouquecido. Acho que a sua paciência com relação à nossa tarefa em ignorá-la havia acabado.
– Escute-me, mocinha. Você está na minha casa, são as minhas regras. A culpa não é totalmente minha se eu não me encontrava no momento em que meu filho teve uma crise asmática, pois isso pode acontecer a qualquer hora. Você deveria parar de culpar-me por um momento e observar que já tem vinte e um anos, idade suficiente para agir como adulta nestes casos. Se a menininha pensa que vai ficar culpando-me pelo tempo que desejar dentro da minha própria casa, saiba que você pode fazer as suas malas agora mesmo, ok?
Cecília olhou para a mulher um pouco assustada, mas não perdeu a pose. Gustavo desceu as escadas gritando.
– Mia, pare! Largue-a! – ele ordenou. – Você está alterada. Tome os seus remédios. – a voz dele foi sumindo.
– A conversa não é com você agora. – ela falou para o pequeno e depois voltou a olhar para a grávida. – E você vai sair com os seus irmãos essa noite. Vá para longe. Não estou pedindo, estou ordenando. Você não vai me deixar mal, entendeu?
Era claro entender tudo: Mia, a durona, estava ameaçada de perder seus poderes. A única vez em que pisou em falso, foi acusada e ficou tentando defender-se sozinha, sem sucesso. Em sua cabeça ela estava sempre certa, e ninguém nunca a poderia deixar mal, ou fazer sentir-se culpada. Ela era perfeita. Minha mãe não perderia uma guerra, muito menos quaisquer batalhas que a compusessem. Ela sempre destacava-se, saindo por cima de todos, mesmo que fosse preciso pisar em qualquer um. Até em seus filhos. Efeitos da sua bipolaridade, acrescentada às características que faziam parte de sua personalidade: Individualista, egoísta e insensível. Você pode pensar que pessoas assim não existiam no mundo, mas acredite em mim: Há piores, e eu lamento por isso.
A loira alta estava de volta no jogo, e seria difícil demais para que os inúteis e fracos peões derrubassem a rainha. Xeque Mate.
– Não temos para onde ir. – falou Cecília, tentando não gaguejar.
– O problema não será meu. Preciso da casa vazia. Preciso de um tempo para mim. – sua voz grossa era forte e irrevogável.
Desci uns degraus da escada, encarando-a. Eu estava cansada de tudo aquilo, queria falar tudo que guardava para mim há dezesseis anos. Era impossível suportar qualquer minuto mais tendo que ser adulta ou mãe de meus próprios irmãos, quando a responsabilidade era toda dela. Aquilo era patético, caricato até demais. Mia parecia uma vilã de novela, e das piores. Mas a mulher estava em minha frente, ela existia de verdade. Ela não viraria boa no final – se existisse um – ou iria presa. Aquilo era a vida real acontecendo diante dos meus olhos, e eu simplesmente não a suportava mais. Eu não importava-me se ela sofria de um transtorno ou qualquer outra doença. Sabendo das alterações de humor que faziam parte de si, ela deveria correr atrás para lidar com isso.
– Podemos saber para que? Você irá trazer um de seus amantes para aproveitar que Greg está fora? – joguei da maneira mais suja possível. Quis irritá-la de verdade. – Vamos, diga logo quem você é quando está escuro e ninguém pode te enxergar.
– Sua filha da... – ela falou, aproximando-se de mim com certa rapidez.
Mia ainda apontou o dedo para mim, subindo o primeiro dos degraus. Senti medo obviamente, mas permaneci no lugar. Correr seria infantil e demonstraria fraqueza demais. Eu precisava ficar imóvel, esperando ser devorada pela rainha da tribo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...