Capítulo 6

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Eu estava sentada mais uma vez na cama, quando o garoto ao meu lado mexeu-se. Gustavo abriu os olhos lentamente e fitou-me assustado. Tentei sorrir para acalmá-lo.

– Sophia... – ele sussurrou.

– Ei, volte a dormir.

Ele estava sonolento, mas a sua intenção era a de me falar alguma coisa.

– Vovó me contou que esse bebê mudará tudo a partir de agora.

Encarei meu irmão sem respirar. Crianças costumam ter pesadelos frequentemente, mas aquele era estranho demais. A nossa avó estava morta há anos.

– Foi só um sonho ruim. – falei.

Apertei a sua mão e ele voltou a fechar os olhos.


A gritaria só acabou por volta das três horas da manhã. Quando nada mais se pôde ouvir, destranquei a porta do quarto com cuidado para que meus irmãos não acordassem. Cecília não havia voltado ainda, e eu não fazia ideia de onde ela poderia estar. Fui até o quarto de meus pais e apenas Mia dormia na cama. Ela estava deitada ao contrário, e seu corpo formava um 'L'. Suas pernas estavam escoradas na parede. Ela costumava dormir em posições diferentes a cada dia. Alguma coisa a ver com energia.

No mezanino, enxerguei Greg dormindo no sofá da sala. Minha irmã não estava em lugar algum. Procurei no banheiro, mas também foi inútil. Talvez eles houvessem decidido alguma coisa e Cecília não tivesse concordado, e aí poderia ter deixado a casa. Mas ela era vulnerável e medrosa demais para se cuidar sozinha.

Quando Brad Pitt latiu, pude adivinhar onde ela estava. Saí de casa e uma brisa leve fez meus cabelos dançarem. Andei um pouco pelo jardim, até parar em frente à casa do cachorro. Cecília estava sentada na grama, encostada ao lado da casa do labrador. Este, que voltou a dormir dentro de sua casa, e apenas o choro de minha irmã eu pude escutar.

– Você está bem? – perguntei.

Ela não tinha percebido que eu estava ali. Quando me viu, preocupou-se em secar as lágrimas e parecer bonita novamente. Como se ela deixasse de ser em algum minuto.

– Eu pareço bem? – respondeu com outra pergunta.

– Pra falar a verdade, não. – eu disse.

– Então eu não estou bem. – Cecília confessou.

Sentei-me do lado de minha irmã e ficamos em silêncio por alguns minutos.

– O que vocês conversaram? – era mais que curiosidade, era minha obrigação perguntar.

Ainda entre lágrimas, ela esforçou-se para responder.

– Eu não vou abortar. – falou diretamente.

Meus olhos arregalaram-se, surpresa com o que eu tinha escutado. Era incrível o jeito com que a jovem loira agia em diversas situações.

– Isso já é um bom começo. Quer dizer, eu nem pensei nisso. Mia ficou feliz com sua gravidez. – tentei enxergar o lado bom das coisas.

– Até o Greg convencê-la do contrário. Eu o odeio! – gritou, acordando o cachorro novamente. – Ele não é o nosso pai, não tem poder de decisão sobre nós.

Em partes ela estava certa, mas no momento em que minha mãe juntou-se a ele e teve um filho, o quatro dedos tornava-se nosso meio pai. A minha vontade era de defendê-lo, assim como ele fez comigo no jantar. Olhei para Cecília e a poupei disso, ela já tinha escutado demais.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora