Capítulo 27

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Não tinha como dar errado. A minha família era ocupada demais para perceber que havia um menino debaixo da minha cama. Jonas poderia ficar durante o dia no parque e ir para minha casa de noite. Seria simples e resolveria todos os nossos problemas.

Fui filosofando meu grande plano até chegar em casa. Abri a porta do local roxo, desejando que Mia tivesse saído com Gustavo e o bebê, mas ela foi a primeira pessoa que eu encontrei.

– O que você está fazendo aqui? – perguntei parecendo grossa.

– Essa é a minha casa, onde eu deveria estar? – respondeu com outra pergunta.

– Pensei que você tinha saído, não sei. Cadê o Gus?

Só o bebê estava em cima do sofá, olhando para os desenhos na televisão.

– Está na casa de Marga, brincando com Cinderela. Ah, vá falar com sua irmã e pergunte como foi o seu primeiro dia de trabalho. Ela não quis comentar nada comigo, acho que está nervosa.

Limpar camas depois que ocorreram relações sexuais nelas deve gerar um certo nervosismo mesmo.

Assenti com a cabeça. Subi as escadas, entrando no meu quarto.

– Ah, que bom que você chegou! – falou Cecília quando eu passei pela porta. Essa que foi fechada por ela logo depois.

– Como foi lá? – quis saber.

– Horrível. Eu não mereço tanta humilhação! – ela estava prestes a chorar.

Puxei-a, para que pudéssemos sentar um pouco. Minha irmã afundou-se numa almofada gigante de espuma.

– Vamos lá... Você não comeu os chocolatinhos, certo? – perguntei.

Ela balançou a cabeça.

– Nenhum. Tive que me segurar para não comer os morangos com chantilly, foi a pior parte da manhã.

– E como estava tudo? Quer dizer, estava... Sujo?

– Demais. O que essas pessoas tanto fazem? Elas não podem chegar e agir como seres humanos cilivizados?

– Civilizados – corrigi.

– Isso. Aquele quarto parecia algum lugar depois de um furacão desses que ocorrem pelo mundo. Aconteceu algo bem...

– Selvagem – concluí.

Ela olhou-me, colocando a mão no queixo e inclinando um pouco a cabeça.

– Como você entende tanto de motéis? – eu sabia que ela perguntaria algo do tipo.

– Hm, todo mundo sabe disso, ok? – desconversei. – Que seja. Por que você não procura um emprego melhor então?

– Não posso perder tempo procurando outro. É nojento pegar nos lençóis que os outros usaram, mas eles são bonzinhos e nos dão luvas para isso. Depois é só colocar dentro do carrinho tudo que foi usado e jogar na máquina de lavar. Simples. Mas ajude-me a lembrar de levar um lenço e óculos escuros amanhã. Será melhor.

– E para que você vai precisar disso?

– Disfarce, duh. O que pensarão se alguém me ver entrando em um motel as sete da manhã?

– Podem pensar que você prefere fazer à luz do dia e sozinha, ou que você trabalha lá mesmo. – brinquei.

– Não gosto de nenhuma alternativa.

Ri um pouco, levantando em direção ao armário. Abri-o, agarrando minha mochila preta. Joguei-a em cima da cama, transportando alguns itens essenciais para o início de meu plano.

– Vou aproveitar que você está boazinha hoje e te pedir ajuda. – falei para minha irmã. – Você me dá cobertura?

Ela olhou-me com curiosidade.

– E o que exatamente você irá fazer? – perguntou ela.

Inventei uma desculpa, falar toda a verdade seria inútil também. Logo o humor de Cecília mudaria.

– Sairei com o nosso vizinho. – falei a primeira coisa que me veio à cabeça, sem pensar na possibilidade de fazer com que ela parecesse real ou não.

Ela apontou as duas mãos para mim, com palmas abertas como em um sinal de 'pare', e também abriu a boca.

– Ai-meu-Deus! – gaguejou. – O Ben?

– Como você sabe o nome dele?

– Alô Terra! – gritou. – Toda garota que... É garota sabe o nome dele! Até as meninas que moram do outro lado da cidade – explicou.

Arregalei os olhos.

– Ele é alguém famoso que eu não estou lembrando?

– Não, mas é o garoto mais gostoso do mundo. Você já viu a barriga dele? E aquele cabelo que parece sujo, mas totalmente sexy, coberto pelo boné vermelho?

Arregalei os olhos mais ainda.

– Vocês só ligam para quantos quadrados existem na barriga dos garotos, que inútil. – voltei a arrumar minha mochila.

Cecília suspirou.

– Enfim, o que você vai fazer com ele? Quer dizer, o que ele vai fazer com você? Como ele sabe que você existe? Conte-me!

– Eu hein, calma! – falei. – O conheci ontem... Na rua e tal. Ele veio falar comigo, então conversamos um pouco.

Minha irmã estava gargalhando.

– E você quer que eu acredite que o Ben foi conversar com você? Eu nunca tinha visto vocês juntos antes!

– E nunca tínhamos estado mesmo. Foi a nossa primeira conversa, e ele é um cara... Legal – disse.

Os ombros de Cecília na posição correta desfizeram-se.

– Legal, Sophia? Só legal? – questionou.

Assenti.

– Você vai me dar cobertura ou não?

– Sim, se você prometer lembra-lo de que eu existo – pediu.

– Tudo bem.

Só faltava o Finta saber que eu iria para a casa dele passar algumas horas, o que seria impossível. Tudo bem, ele tinha sido legal comigo, mas isso não significava que eu poderia aparecer na sua porta pedindo para ficar umas horas ali. Não que eu fosse realmente ficar, porque seria só mais um pretexto para depois eu sair e encontrar Jonas no parque.

– Parece que a sua sorte está mudando nessas férias, irmãzinha – disse Cecília, saindo do quarto.

Eu nunca tive sorte na vida, mas dizem que para tudo há uma primeira vez. Naquele momento abri um sorriso, como se fosse o meu jeito de dizer boas-vindas para aquilo.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora