Capítulo 17

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Aposto que minha bicicleta quis me matar quando a joguei abruptamente no chão, deixando-a ali, no meio da calçada deserta. Cruzei os dedos e entrei no pequeno parque pela segunda vez. Meus olhos correram lentamente, cobrindo todo o espaço, a fim de encontrar o menino que eu procurava. Era inútil, ele não estava ali.

Quis fugir. Fui estúpida o suficiente para correr e tentar encontrá-lo, sem pensar que talvez ele não ligasse tanto assim para mim do mesmo jeito que eu ligava tanto assim para ele. Lembrei de descruzar os dedos, estava parecendo uma trouxa desesperada por companhia. Tudo bem que eu ficaria sem amiga pelos próximos três meses, mas eu ainda tinha... Ok, ninguém interessante. Provavelmente eu passaria as férias inteiras jogando Banco Imobiliário com meu irmão, que insistia em ser o banco, só para roubar todo o dinheiro.

Eu estava decepcionada. Estava mesmo. O garoto falava que eu sabia onde encontrá-lo, e isso deveria significar que ele estaria sempre ali quando eu precisasse, certo? Errado, pelo visto.

Virei-me, deixando o lugar. Nunca mais voltaria ali. Tive sorte por não haver ninguém no parque mais uma vez, seria péssimo constatarem a menina que procurava por alguém que não se importava o suficiente. Não que ele precisasse se importar, mas qual é, nós havíamos tido um dia bom. Eu pensei que talvez pudéssemos repetir, que talvez eu teria mais uma tarde perfeita.

– Como você procura mal. – aquela voz doce apareceu do nada.

Meu rosto virou com rapidez demais, o que foi incrível por eu não ter ficado com torcicolo ou algo do tipo. Era Jonas que estava ali parado, com o mesmo sorriso que parecia malicioso – mas não era, ok? Era algo convidativo, que de algum jeito me deixava confortável até demais – estampado na face. Os seus olhos brilhavam contra o sol, fazendo-me esquecer por algum tempo de que eu deveria falar alguma coisa. Mas ele estava ali. Quer dizer, ele tinha aparecido e me esperado, do jeito que era para ser. Eu só não havia procurado bem o suficiente. Meus sentimentos de raiva momentânea por ele fugiram, assim como os pensamentos que rondavam minha mente, e eu agradeci. Finalmente consegui falar.

– Jonas! – murmurei.

Aproximei-me e o abracei. Eu sei que foi repentino e ridículo, mas você não pode imaginar o tamanho da felicidade que eu estava sentindo. Não só por vê-lo novamente, mas por ele estar ali para me ver. Apertei meu corpo contra o dele forte demais, imaginando o que ele pensaria de mim. Quero dizer, foi a segunda vez que o abracei do nada. Se ele não estivesse acostumado a receber abraços inesperados (o que eu duvidava, pois ele era lindo demais para passar qualquer minuto livre), ele me acharia louca e arranjaria algum jeito de se desfazer de mim o mais rápido possível. Mas eu não me importei. Mesmo. Como Virgínia disse, era hora de 'não ser Sophia demais'. Acontece que ele também me abraçou, assim como no dia anterior. Os seus longos braços voltaram a me proteger.

– Onde você estava? – perguntei.

– Sempre estive aqui, Sophia.

– Ah é, você é mágico e pode aparecer e desaparecer com mais facilidade do que qualquer outro ser humano. – brinquei.

Ele riu, mostrando os seus dentes perfeitamente alinhados.

– O que você tem feito?

'Pensado em você'. Ok, eu não respondi assim. Isso sim seria abuso demais da minha parte.

– Nada. Pretendo fazer algo com você. – pensei em como isso soava estranho, então me apressei em corrigir. – Eu digo, observar o céu ou assistir suas mágicas... Não outras coisas. Não.

Ele não parou de gargalhar nenhum momento.

– Você poderia ser uma comediante, sabia? É tão fácil rir com você.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora