Estávamos no quarto há umas duas horas e meia. A nossa sorte é que Mia não havia mexido em nada, então tínhamos o que fazer ali dentro. A casa estava silenciosa, nenhum sinal de nossa assassina. Até que alguém bateu na porta.
– Crianças, o bolo esfriou, mas ainda assim continua delicioso!
Eu e minha maldita boca.
Gustavo parou de jogar Playstation e fitou-me. Coloquei o indicador nos lábios, sinalizando para ele ficar quieto.
– Ok então, vejo que não estão com fome. Deixarei um pedaço aqui no chão, na frente do quarto. Comam quando sentirem-se a vontade.
Pude escutar ela descendo as escadas.
– Estou com fome. – disse o meu irmão.
– Eu não arriscaria a comer esse bolo. Ela deve ter envenenado.
O telefone tocou, fazendo-me saltar da cama. Meu olhar voou para o de meu irmão, e ele pensou a mesma coisa que eu. Aproximamo-nos da porta, tentando escutar por ela. Três toques se passaram, até que Mia atendesse. Ela trocou duas palavras, e então a casa voltou ao silêncio. Não escutávamos nenhum passo, nenhuma respiração. Acho que uns trinta silenciosos segundos passaram-se e nada. As minhas esperanças de ser alguém tentando comunicar-se conosco acabaram.
Com ouvidos grudados na porta, pudemos escutar enfim um barulho forte. Acontece que vinha da própria porta do quarto, e isso fez com que nos assustássemos, afastando-nos dali rapidamente. Encarei a madeira que recebia socos descontrolados.
– Sophia, a sua irmã está no telefone! – gritou a mulher. – Venha atender logo!
Dei um passo para frente. Gustavo segurou em minha mão.
– É uma armadilha. – avisou-me.
Se fosse ou não, precisaríamos descobrir. Eu não estava em nenhum filme, fugindo do assassino que estava matando todos. Por mais medo que eu tivesse a cada crise sua, aquela ainda era a minha mãe. Ela não faria nada sem pensar duas vezes.
Destranquei a porta e observei a mulher que descia as escadas mais uma vez. Mantive uma certa distância, mas a segui. Quando atingi o último degrau, parei e olhei para a fera que voltou a segurar o telefone. Ela grudou o ouvido no aparelho.
– Cecília, diga para a sua irmã que ela vai morrer de fome se não comer o bolo que fiz com tanto carinho. Ensine ela a não ser mal criada, ok?
Ela esticou o braço, oferecendo-me o telefone. Com um movimento lento, aproximei o meu braço. Mia puxou-o para si, desligando-o rapidamente. Gargalhou.
– Tempo esgotado! – gritou.
Como ela podia? Dei mais um passo e a atingi com um tapa. Apliquei toda a minha força. Estávamos imitando a cena que havia acontecido há algum tempo antes naquela casa. Mas a diferença era que os papéis estavam invertidos. Agora era ela quem repousava a mão sobre o local atingido, olhando-me por sobre o seu cabelo bagunçado. Mia cerrou os dentes, ela estava pronta para atacar. Eu havia a despertado outra vez.
– Sobe! – gritou Gustavo.
Virei e corri ao subir os degraus. Não olhei para atrás, pois a mulher que me seguia facilmente me alcançaria. Quando cruzei a porta do quarto, caindo de joelhos no chão, o meu irmão a fechou, trancando-a. Mais socos foram aplicados naquela porta, quase a derrubando. 'Abra isso, sua covarde!' era o que podíamos escutar. Se não fosse por aquele obstáculo, eu já estaria sem vida.
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O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...