Capítulo 73

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Deram-me um tapa. Não foi forte nem dolorido, mas eu pude sentir. Abri os olhos com dificuldade, voltando a enxergar o teto da mansão. Sam estava sobre mim, fitando-me com certo desespero, querendo saber o que havia acontecido. Cecília estava parada em sua cadeira ao meu lado, surpresa e apavorada.

– Dê outro se ela não acordar! – gritou a jovem.

A minha cabeça estava doendo. Eu poderia dizer que alguém havia martelado o meu crânio por repetidas vezes. Nada girava mais, porém ainda a visão era-me embaçada e confusa. Tentei ficar sentada, quando reparei em um pano que repousava sobre a minha barriga. Aquilo cheirava a álcool.

– O que vocês fizeram comigo? – falei lentamente, parecendo estar bêbada.

– Você apagou. – explicou Sam.

A minha irmã confirmava com a cabeça.

– Só escutamos o seu corpo caindo no chão de uma vez só, e...

– Quanto tempo? – interrompi-a.

– Uns dez minutos. – falou o cara, olhando em seu relógio reluzente.

Ele ofereceu-me a sua mão e puxou-me para que eu pudesse ficar de pé.

– O que aconteceu? – perguntou.

Eu lembrava de tudo. Os malditos refletores.

– Eu...

Olhei para o pequeno garoto sentado na mesa da sala de jantar. Gustavo analisava-me com o seu olhar petrificado e incomunicável. Nenhuma expressão compunha seu rosto, nenhum sinal de querer dizer 'eu te avisei'.

Mas foi a face de meu irmão que fez-me lembrar de que Jonas estava morto.


Eis o passo a passo de minha dor. Meus desabafos, meus pensamentos tardios demais para que pudessem reverter algo, meus medos, minha morte fantasiada de vida:


Dia 1

Ele se foi.

Não sei lidar com isso.

Arie.

Ele se foi.

E eu fui junto.



Dia 2

Trinta e oito horas desde a nossa última conversa.

Quarenta e cinco horas sem alimentar-me.

Cecília tentou entender o que havia acontecido.

Cecília tentou empurrar um bolo para dentro da minha garganta.



Cecília tentou adivinhar o que eu estava sentindo.

Mas é impossível sentir a dor da perda sem que haja uma.


Quarenta e cinco horas e dois minutos alimentando-me unicamente da esperança.

De que tudo não passe de mais um pesadelo.





Dia 3

Sempre soube que tinha um coração frágil.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora