Deram-me um tapa. Não foi forte nem dolorido, mas eu pude sentir. Abri os olhos com dificuldade, voltando a enxergar o teto da mansão. Sam estava sobre mim, fitando-me com certo desespero, querendo saber o que havia acontecido. Cecília estava parada em sua cadeira ao meu lado, surpresa e apavorada.
– Dê outro se ela não acordar! – gritou a jovem.
A minha cabeça estava doendo. Eu poderia dizer que alguém havia martelado o meu crânio por repetidas vezes. Nada girava mais, porém ainda a visão era-me embaçada e confusa. Tentei ficar sentada, quando reparei em um pano que repousava sobre a minha barriga. Aquilo cheirava a álcool.
– O que vocês fizeram comigo? – falei lentamente, parecendo estar bêbada.
– Você apagou. – explicou Sam.
A minha irmã confirmava com a cabeça.
– Só escutamos o seu corpo caindo no chão de uma vez só, e...
– Quanto tempo? – interrompi-a.
– Uns dez minutos. – falou o cara, olhando em seu relógio reluzente.
Ele ofereceu-me a sua mão e puxou-me para que eu pudesse ficar de pé.
– O que aconteceu? – perguntou.
Eu lembrava de tudo. Os malditos refletores.
– Eu...
Olhei para o pequeno garoto sentado na mesa da sala de jantar. Gustavo analisava-me com o seu olhar petrificado e incomunicável. Nenhuma expressão compunha seu rosto, nenhum sinal de querer dizer 'eu te avisei'.
Mas foi a face de meu irmão que fez-me lembrar de que Jonas estava morto.
♦
Eis o passo a passo de minha dor. Meus desabafos, meus pensamentos tardios demais para que pudessem reverter algo, meus medos, minha morte fantasiada de vida:
Dia 1
Ele se foi.
Não sei lidar com isso.
Arie.
Ele se foi.
E eu fui junto.
Dia 2
Trinta e oito horas desde a nossa última conversa.
Quarenta e cinco horas sem alimentar-me.
Cecília tentou entender o que havia acontecido.
Cecília tentou empurrar um bolo para dentro da minha garganta.
Cecília tentou adivinhar o que eu estava sentindo.
Mas é impossível sentir a dor da perda sem que haja uma.
Quarenta e cinco horas e dois minutos alimentando-me unicamente da esperança.
De que tudo não passe de mais um pesadelo.
Dia 3
Sempre soube que tinha um coração frágil.
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O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...