Capítulo 24

4.1K 621 90
                                    


– Boa noite, Cecília – falei impaciente.

Contei os segundos mentalmente. Meus dedos enroscados uns nos outros por debaixo das cobertas demonstravam a minha aflição. Não demoraria muito para minha irmã pegar no sono, então eu poderia colocar meu plano em ação. Visitar alguém durante a madrugada poderia ser algo arriscado, mas o meu propósito vencia qualquer hesitação.

O som do relógio era a melodia que embalava a minha espera impaciente. Olhei para a cama ao lado, fitando a jovem grávida. Ela não deixava de ser bonita nem quando dormia. A facilidade que minha irmã tinha em pegar no sono era incrível, assim como a minha. Devia ser algo genético, não sei.

Sentei na cama, tentando fazer o menor barulho possível. Não precisei trocar de roupa, pois já estava estrategicamente com a certa. Pensei em sair pela janela como sempre, mas lembrei-me do quão emperrada ela costumava ficar, então desci as escadas da casa lentamente, contornando o sofá vazio. Greg não estava mais dormindo ali, Mia o tinha 'perdoado'.

Saí pela porta da frente, agradecendo por não estar fazendo frio. Dei alguns passos em direção a rua, quando Brad Pitt começou a latir. A princípio assustei-me e pensei em correr, mas ele não ficaria quieto. Mia acordaria e acabaria descobrindo que eu não estava em minha cama. Aproximei-me do cachorro, a fim de ele perceber que era apenas eu. Dizem que eles só enxergam em preto e branco, então por tratar-se de um período noturno, era muito fácil com que ele me confundisse com alguma estranha. Fiz carinho em sua cabeça, passando a mão por seu pêlo. Ele estava quieto novamente.

Minha caminhada ganhava mais velocidade a cada passo. Os poucos postes de luz que ainda não estavam danificados iluminavam para onde eu deveria ir. Nenhum carro completava a cena, e o único som era o de meu tênis sobre o asfalto. Meus dedos cruzaram-se dentro de meu bolso, e esse era o meu jeito de pedir para que Jonas estivesse no mesmo local de sempre. Seria ridículo ter que esperar o sol nascer novamente para ir atrás de minhas respostas.

Faltando duas quadras para o meu destino final, encontrei o que tanto temia: Pessoas. Caras, na verdade. Daqueles que ficam até tarde na rua, bebendo e contando quantos cigarros conseguem fumar. Era meio previsível que eu encontrasse esse tipo de bando há essa hora, mas não seria a minha primeira vez. Aos doze eu tinha fugido de casa, insatisfeita com a vida, e encontrado alguns homens no meio da rua. Eles perguntaram se eu estava perdida, então eu fiquei parada, os olhando e pensando no quão bom seria se eu tivesse algum tipo de poder e pudesse queimá-los com laser ou algo do tipo. Eu era apenas uma criança inocente, e meu pai logo chegou para me tirar daquele lugar. Acontece que eu nunca tive poderes, nem quando criança, e muito menos com um pouco mais de idade, então a única maneira que encontrei para enfrentar estes casos era apenas ignorar. Abaixar a cabeça e fingir que não estavam falando comigo.

Eram cinco. Dispostos dentro e fora de um carro, bebiam enquanto escutavam algum tipo de música que para mim soava desconhecida. Tentei não encarar, então apenas fiz com que meus ouvidos ficassem atentos. Eles falavam alto, não se importando com algumas casas que haviam perto dali. Quando já estava quase fora do campo de visão da matilha (fala sério, eu adorava apelidar as pessoas e grupos), aconteceu o que eu havia previsto.

– E aí, gatinha? – perguntou alto um deles.

'Ignore, Sophia', pedi para mim mesma.

Continuei caminhando, tentando acelerar um pouco os meus passos. Não queria parecer assustada, só iria dar maior chance para que se aproximassem.

– Não seja grossa e venha falar com a gente. Não vamos te moder, a menos que você nos peça. – falou o mesmo.

Um cara diferente, o que estava sentado em cima do carro, juntou as mãos e imitou um lobo, uivando. Os outros riram, menos um.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora