Toquei a campainha e esperei alguns minutos ali parada. A casa de minha melhor amiga era amarela, outra cor peculiar, porém um pouco mais normal do que a minha. A família de Virgínia tinha muito mais dinheiro do que a minha, mas eles não eram esnobes nem nada parecido. O pai dela trabalhava em uma seguradora, acho que por isso eles eram ricos o bastante para viajar até lugares distantes em todas as férias. Já a mãe dela era tão maluca quanto Mia. Ela dizia que a educação pública era infinitamente superior à particular, e por isso Virgínia estudava no mesmo colégio que eu. E isso era mais uma das coisas ridículas que a mãe dela fazia ou dizia.
Ninguém atendeu. Voltei a apertar a campainha, até que ouvi a voz de Virgínia vindo de dentro da casa.
– Já vai! – gritou ela.
Enfim a porta foi aberta. A garota em minha frente estava com roupas bonitas – daquelas que você só usa para sair – e um lenço na cabeça. Confesso que aquilo a deixava com cara de mãe de família demais.
– Que bom que você veio. Vou poder descansar. – falou ela.
– Por que o lenço? – perguntei.
– Estamos empacotando tudo para a viagem. Simplesmente odeio todo esse ritual. Ah, o lenço faz com que o cabelo não atrapalhe. Estou parecendo ter mais de quarenta e cinco?
Analisei-a.
– Eu diria que uns quarenta e dois. – afirmei.
– Oh, está ótimo. Entre, acho que ainda sobrou algo na geladeira para tomarmos. – ela disse, dirigindo-se para a cozinha.
Virei à direita, no que antes era chamado de sala. Somente os dois sofás e a mesa de centro ainda estavam no lugar. Todos os objetos de decoração que costumavam ficar sobre a lareira, além dos outros móveis, haviam sumido. Várias caixas estavam espalhadas pelo local. Até parecia que eles estavam de mudança.
Sentei em um dos sofás, olhando para os outros cômodos. Estava tudo igual na sala de jantar: caixas e só uma mesa, sem as cadeiras. As escadas centrais aparentemente continuavam iguais, até porque não tinha nada para tirar dali. Percebi um vulto se movendo lentamente no fundo da sala, mas foi rápido demais para que eu pudesse perceber de quem se tratava.
– Virgínia? – chamei.
Ninguém respondeu. Se não fossem os passos no andar de cima, eu pensaria que a casa estava vazia, e que minha amiga havia sido abduzida.
O silêncio reinou. Os passos haviam parado, e o vulto aparentemente tinha sumido. Eu estava quase certa de que agora todos tinham sido abduzidos mesmo, até que ouvi um barulho estranho demais. O que pareceu foi algo como um som emitido por alguma espécie de ave. Veio do jardim de inverno, ao lado da sala de jantar. Era o vulto novamente. Começou baixo, mas foi crescendo à medida que eu me aproximava dali. Um som desconfortável, eu diria. Olhei entre as plantas, e nenhuma ave se encontrava ali, apenas a mãe de Virgínia.
– Senhora Bitte... – tentei chama-la, mas fui interrompida.
– Shhh! – exclamou ela, mandando-me fazer silêncio.
A senhora estava entre duas grandes plantas, vestida com roupas camufladas e um chapéu tosco na cabeça. Seus ombros apoiavam um cantil enorme que o peito sustentava. Nas costas, uma mochila gigante. Ela estava parada como uma garça, pronta para dar o golpe. Os braços estendidos para o alto e uma das pernas flexionadas. De sua bolsa, retirou um binóculo parecido com o que eu tinha e grudou nos olhos. O lugar não era grande o suficiente para precisar de um.
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O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...