Capítulo 29

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Eu não podia deixar de reparar no dado preto e branco de pelúcia que balançava no espelho retrovisor do carro do garoto. Meus olhos estavam fixados no acessório há bastante tempo.

– Gostou? – ele perguntou.

– Eu gosto do jeito que balança quando o carro está em movimento.

– Ele guarda umas coisas importantes. – disse. – Bom, está entregue. – Ben falou, sorrindo maliciosamente outra vez.

Durante o trajeto o garoto havia perguntado mais sobre Jonas. Menti dizendo que ele era um amigo de escola e só. Não queria dizer que eu estava gostando dele um pouco mais do que deveria, muito menos contar que meu amigo era um fugitivo. Ok, eu já tinha meio que falado sobre isso para ele, mas acho que ele havia esquecido. Ainda bem.

– Eu estou te devendo duas, né? – perguntei.

– Por que duas?

– Por ir até a sua casa sem avisar antes e por você me trazer até aqui. – expliquei.

Ben passou a mão pelos cabelos, como se estivesse pensando.

– Hm, eu vou cobrar, ta? E eu falo sério.

– Tudo bem, você merece. – eu parecia uma vadia oferecida quando falava certas frases.

Era agora. Eu devia me despedir, mas como? Um simples 'tchau' com a mão ou um beijo no rosto? Fiquei olhando para ele, esperando que se manifestasse, mas não ocorreu. Então eu tomei a iniciativa.

– Obrigada outra vez. Até outra hora que eu apareça no seu quarto sem avisar.

– Ah, tente me avisar. Não quero estar semi-nu e fazer você ficar envergonhada. Mesmo que seja engraçado.

– Não deveria ser, ok?

Ele aproximou o rosto de mim, dando-me um beijo na bochecha. Quase o agradeci por ter feito isso, pois assim a responsabilidade não cairia sobre mim. Sorri de lábios fechados e saí do carro.

– Ei, Sophia! – gritou ele quando eu já estava fora.

Virei-me, olhando-o dentro do automóvel.

– Juízo. – falou.

O sorriso malicioso estava de volta.



Entrar naquele parque sempre me proporcionava uma sensação diferente a cada visita. Ainda mais agora, quando eu tinha certeza de que encontraria Jonas ali. Nas costas minha mochila pesava, cheia de objetos úteis – ou não – que eu tinha planejado usar. Como o garoto não podia me convidar para um encontro, havia resolvido que eu mesma faria um. Nada sofisticado e com direito a frio na barriga, era só mais uma noite com ele, mas eu queria que fosse especial. O vento forte balançou meus cabelos.

– Olá, Malka. – falou o meu garoto, sentado no gira-gira de onde eu o tinha visto pela primeira vez.

– Malka? – perguntei confusa.

– Foi uma longa tarde sem você, precisei procurar o que fazer. A biblioteca da cidade é ótima para passar o tempo. – falou.

– E o que o 'Malka' tem a ver?

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora