Capítulo 54

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As paredes brancas daquele hospital lentamente tornavam-se pretas. Os súbitos pintores eram os meus olhos que ameaçavam fechar, mas voltavam a abrir-se por conta de minha insistência. E lá estavam as paredes novamente. Geladas e duras. Incansáveis.

– Você pode dormir se quiser. – Sam falou de repente.

Meus olhos abriram-se por completo.

– Não quero.

– Se algum médico chegar eu chamarei você. Prometo.

Olhei para o homem que fazia meu irmão menor dormir em seus braços e então minha cabeça tentou assentir, mas o pescoço não suportou o peso e ela acabou caindo. Meus olhos abriram-se gradativamente, e mais uma vez o branco sem graça me encarava.

– O que você quer de mim? – murmurei para as paredes.

Ela não respondeu.

– Sophia?!

Eu não acreditei no começo, então precisei me certificar:

– Parede?

Aqueles tijolos pintados estavam falando comigo.

– Sou eu. Ben.

Virei a minha cabeça pesada um pouco para a esquerda, enxergando a figura de meu vizinho. Ele estava de pé em minha frente, tocando o meu braço esquerdo e olhando-me como se constatasse que eu não estava nem um pouco bem.

– Vamos, vou dar um jeito em você.

Ben agarrou-me pela cintura, colocando-me em cima de seu ombro direito. Eu estava praticamente de cabeça para baixo ali em cima. Qualquer um diria que eu estava bêbada, mas na verdade tudo fazia parte da minha crise de stress.

Sam levantou-se, ainda com Nathan no colo, e se aproximou do garoto novo. Ele estendeu a mão.

– Ah, você é o cara que atropelou a Cecília...

– Parece que serei rotulado assim mesmo a partir de agora.

– Foi mal. Você pode cuidar das crianças um pouco? Preciso trazer a Sophia de volta.

– Enquanto elas estiverem dormindo, tudo bem. Depois não me garanto como bom guardião. Não levo jeito para isso.

– O bebê adora você! – eu gritei.

Uma das recepcionistas mandou-me calar a boca gentilmente. Ela podia ter percebido que eu não estava no meu melhor estado.

– Tudo bem, Sophia. – o basqueteiro falou, dando-me dois tapinhas nas pernas, por onde me segurava. – Vamos procurar um desfibrilador por aí. Alguém precisa ser reanimada.

Fui carregada nas costas por algum tempo. Não posso falar por onde passei, porque acho que dormi nos ombros de Ben durante o trajeto. Quando acordei, encontrei-me em uma sala pequena e escura – até as paredes claras haviam cansado de mim –, deitada em um sofá velho. Apesar de ter aberto os olhos, desejei para que pudesse fechá-los novamente. Talvez aquela história toda de abandonar a casa roxa, seguida de um atropelamento, não tivesse passado de um sonho. Pesadelo, na verdade.

Encolhi-me, ficando em posição fetal. Estava um pouco frio ali, mas algo me cobria. Cansada de não entender nada, sentei no sofá e observei a jaqueta que cobria meu corpo durante o sono. Uma porta foi aberta, iluminando por alguns segundos aquele local escuro.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora