Hora de ir embora.

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  Tudo começou a ficar cada vez mais longe e meu sono mais pesado.

Quando despertei no dia seguinte estava apenas eu ali. Sozinha. É de noite ainda mas quase amanhecendo de acordo com o céu lá fora. Isso é bem incomum. Eu acordar em um hospital sozinha. Aproveitei para pensar um pouco nas coisas. 

Meu momento de reflexão não durou muito porque o Rafael entrou pela porta exalando aquele perfume maravilhoso.

  - Oi, como esta se sentindo? - Foi a primeira coisa que ouvi de sua boca. Ele se sentou ao meu lado e eu quieta.

  - Eu estou com câncer. Como você acha? - Ele passou seus dedos pelo meu rosto e fiquei novamente envergonhada. Ele não precisava me ver nesta situação. Ninguém precisava.

  - Durante a madrugada fiz os exames necessários para saber se podia ser o doador.

  - Deu tudo errado? - Era minha esperança. Chega de todo mundo se sacrificar por mim.

  - Eu vou me internar as oito. - Ele pegou minha mão e eu recuei. - O que foi?

  - Nada. Já são quase oito. Melhor ir procurar o médico.

  - Está querendo se livrar de mim?

  - Não. Apenas estou te alertando. Você vai doar parte do seu fígado pra mim. Não precisava fazer isso e eu não queria. - Falei com minha voz fraca.

  - Mas eu quero. Quantas vezes eu vou ter que te dizer que faria de tudo para poder te ver bem? - Ele se aproximou e o médico entrou no quarto.

  - Senhor Bennett me acompanhe, por favor. - Ele saiu e me levaram para um outro quarto. Queria perguntar o que eu fazia ali mas minhas forças estão por um fio. Então trouxeram o Rafael. Ele ficou em uma cama ao meu lado. Eu o olhei e ele retribuiu. - Vocês vão ficar aqui por uma hora mais ou menos e então venho buscar vocês para cirurgia. Tentem não se esforçar muito. - Então o médico se foi. Ficamos só nós dois.

Ia me preparar para falar algo para ele então Bianca apareceu. Junto de seu fiel acompanhante.

  - Como estão? - Perguntou.

  - Fraca. - Falei.

  - Com fome. - Rafael me fez querer rir mas não conseguia. Nenhum som, nenhuma expressão facial. - Tudo que eu consigo pensar é em uma pizza com muita calabresa e muito queijo.

  - Vai perder metade do seu fígado e tudo em que consegue pensar é em uma pizza? - Perguntei.

  - E em você. Mas ficar queimando minha energia ficando nervoso não vai ajudar a cirurgia ser bem sucedida. - Ele falou fitando o teto.

  - Então... Eu vou lá fora tomar um café.

Depois de um tempo com aquele silêncio insuportável o médico veio nos levar para a sala de cirurgia. Dei uma última olhada para o Rafa e sua expressão é serena. De quem está fazendo sua parte e fica feliz se ele sair bem dessa ou não. E então apaguei.

Algumas horas, imagino, acordei no mesmo quarto. Me sentia melhor, confesso, mas ainda cansada e com dor. Dor no local da cirurgia. Virei a cabeça e ele estava me olhando com os olhos preocupados e alegres.

  - Deu tudo certo.

  - Como sabe?

  - Você ficou mais tempo apagada. Ele já veio aqui e eu perguntei. Ele falou que a cirurgia foi um sucesso, como eles dizem. Logo você está bem novamente.

  - Nós. - Corrigi. Então ouvimos a porta abrir e os nossos vários amigos entrarem junto com os diretores da CIA. Ryan se aproximou de mim junto de minha mãe com aquele ar de alívio.

  - Como está se sentindo? - Ryan passou a mão no meu rosto.

  - Estou bem. Apenas com sede. - E realmente minha boca está muito seca. Então providenciaram minha água. Quando eu bebi passou rasgando minha garganta mas logo melhorou a sensação.

  - Como você está? Está com dor? - Perguntaram.

  - Eu estou bem. Aliás, estamos. - Disse em relação ao Rafael que me olhava sem parar.

  - Ótimo. Quando vão poder sair desde lugar? - Bianca perguntou.

  - Bom dia pessoal. Sinto em informar mas quero que fiquem aqui somente os responsáveis pelos dois. O resto pode se retirar por favor. - Então todos saíram ficando apenas as pessoas requisitadas. - Ahn, deixe me ver. - O médico nos examinou em mínimos detalhes. - Estão enjoados? Tontos ou algo assim?

  - Eu me sinto bem. Muito bem. Acho que já podemos ir embora. - Falei.

  - Ainda não. Amanhã pela manhã vocês poderão ir, por enquanto ficarão aqui em observação. - Ele falou e saiu do quarto.

  - Podem nos deixar uns instantes sozinhos? - Rafael pediu e eles saíram. - Você está mesmo bem? - Ele perguntou depois que todos saíram.

  - Fisicamente, incrível. Psicologicamente, horrível. Depois de ficar em um hospital a pior sensação que eu poderia ter é te ver aqui. Por minha causa. Eu odeio isso. - Falei olhando para cima.

  - Eu estou aqui por minha causa. Por que eu quis. Eu faria qualquer coisa para você ficar bem. Independente se eu ficaria bem com isso ou não.

  - Muito altruísmo da sua parte.

  - Na verdade é muito egoísmo. Não aceitaria te perder.

  - Mas aceitaria o fato de eu ter que passar o resto da minha vida sem você caso alguma coisa desse errada.

  - Eu sabia das probabilidades de isso der certo ou não. Mas eu tinha que eu correr o risco. E sei que faria a mesma coisa por mim. - Eu odeio o fato de ele estar certo. - Meu anjo, ei, olha pra mim. - Olhei. - Eu te amo. E faria isso cem vezes para te ver bem. Entende isso?

  - Entendo. Eu também te amo. - Nós demos as mãos.

  - Tem noção do quanto eu queria te beijar agora? - Ele sorriu.

  - Sim eu tenho. - Nós rimos levemente. - Mas primeiro vai ter que me pagar um jantar.

  - Sem vinho, de preferência. Nem nada que contenha álcool.

  - Concordo. Vou sentir falta do bourbon. - Disse suspirando.

Depois eles voltaram e ficaram nos distraindo até de noite. O nosso grude chamado jantar chegou. Comi e logo depois senti muito sono como sempre.

No outro dia logo de manhã ouvi barulho da porta abrir e de alguém abrindo uma bolsa. Abri os olhos e vi a Bianca com Justin tirando roupas pra gente.

  - Bom dia. Vocês podem ir embora.

  - Que horas são? - Perguntei.

  - Já são dez horas. Vamos. - Ela me deu suporte para levantar e já tinham tirado as agulhas de mim. Cheguei perto do Rafael e bati de leve no rosto dele.

  - Que foi? - Perguntou assustado.

  - Hora de ir embora. Vamos. Levanta. - Bianca com seu jeito delicado.

Fui me arrumar então o Ryan chegou perguntando por mim. Sai do banheiro vestida com cabelo preso.

  - Boa notícia: contratei uma enfermeira pra cuidar de vocês.

  - Só uma? Não sei se percebeu mas nós somos dois e moramos em casas diferentes. - Falei me sentando ao lado do Rafael.

  - Eu sei. Vocês vão ficar na minha casa por um tempo. - Ele disse e eu concordei mesmo não querendo. Espero me recuperar logo.

Dreaming out loudOnde histórias criam vida. Descubra agora