Solidão

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*Tori*

 Depois da ligação e da conversa que tive com o Carlos e com Max fiquei meio perplexa. Meu coração errou uma batida e meu estomago parecia estar entrando em festa. Uma bagunça total. Eu sei como ele esta se sentindo. A sensação do vazio. Não são cinco meses ou um ano. São três anos. Como se metade das memórias e lembranças fossem arrancadas dele. Metade de mim queria voltar e ajudar ele com essa sensação horrorosa. Como ele me ajudou. Me levando à minhas raízes. Me contando algumas coisas.

Mas a outra metade estava certa que ficaria aqui, onde minha vida vai ter um recomeço e a dele também. Afinal, a gente não esta mais juntos, e contando todos os fatos que aconteceram desde que decidimos nos apaixonar um pelo outro acho que devemos mesmo ficar longe. Quem sabe as coisas melhoram? 

Eu sei que dentro de mim eu queria estar com ele, queria beijar ele e não sair de seus braços tão cedo assim. Mas pensei em tudo que já sofri por sua causa. Primeiramente só fui perseguida por causa do nascimento dele. Não que ele vir ao mundo tenha sido uma coisa ruim mas... Depois todas as vezes em que meu coração se quebrou em pedacinhos vendo ele com outra, mas logo depois tudo se juntou com o brilho daqueles belos olhos azuis... Não posso negar que tudo de ruim que nós vivemos não pode apagar tudo de bom mas também não posso apagar os momentos ruins com os bons por que se eu contar qual marcou mais em mim os ruins ganhariam sem duvidas. 

Depois de algumas horas pensando em tudo que havia acontecido decidi pensar no presente. Saí da casa que eu estou alugando aqui e fui ver o que havia de bom nas redondezas. Queria fazer um amigo mas não sei se vou conseguir. Minha parte social ficou perdida na minha mãe. Pensei em ligar para o meu pai. Então me sentei no píer enquanto observava o oceano à minha frente. Isso dá alguma dica de onde estou, o barulho das gaivotas.

No terceiro toque ele me atendeu. 

- Sim?

- Prometa pra mim que não vai me rastrear por favor. - Pedi. Apesar de já ter tomado as providências para não poder ser rastreadas. Pérolas da CIA. 

- Filha? Ah, que bom que ligou. 

- Bom ouvir sua voz também. Então como estão as coisas por aí sem mim?

- Péssimas, não é segredo pra ninguém. 

- Sei que sou especial mas não esperava tanto. - Ele riu. 

- Soube do Rafael certo? - Ele perguntou e minha feição mudou um pouco.

- Estava quase esquecendo. Obrigada, aliás.

- Desculpa, mas precisava saber como você está em relação á isso. 

Péssima. - Ah, acho que vai ser bom para nós dois. - Falei. 

- Tem certeza? - Não.

- Sim. Claro. A gente já sofreu muito nesse relacionamento louco e acho que vai ser melhor assim. Ele se esquecendo de mim. 

- Só assim pra alguém te tirar da cabeça, mocinha. - Ele disse e eu sorri. Ouvi ele limpando a garganta. - Eu sinto sua falta.

- Está chorando?

- Pode se dizer que sim. Mas isso fica só entre nós. - Ele disse. - Não fica não! - Carlos.

- A minha mãe está aí?

- Bom, ela está empolgada com o casamento da Bi. Então ela e as meninas estão vendo tudo para que ocorra como os sonhos de uma garota. - Fizemos barulho de nojo. - Bom, o vestido das madrinhas parece ser bonito. Vamos enviar pra você... Se soubermos onde você está. 

- Eu chego umas horas antes e me visto aí. Pode ser? - Falei ele suspirou.

- Você é boa. Não consegui te rastrear. 

- Fui treinada pelos melhores. Acredite em mim, estou segura. Tenho tudo sobre controle. - Falei. - O vestido é muito menininha?

- Não conto, se não me contar onde está não conto como é o vestido. Ia até te mandar uma foto mas...

- Esqueça, chantagem não funciona comigo. - Falei. - Vou desligar, preciso ir ao mercado comprar algumas coisas. - Falei.

- Está sem carro?

- Sim, comprei uma bike. - Falei olhando pra frente.

- Bike? E se chover.

- Fico em casa. Ela está meio feia mas estou trabalhando nisso. Vou comprar umas tintas. - Falei e ele riu.

- Levou todas as suas roupas certo? Pelo menos isso.

- Sim. Mas pense na parte boa, vivendo onde eu vivo ninguém pensaria em me assaltar.

- Você esta vivendo em um beco?

- Pra falar a verdade é bem tranquilo. Foi uma brincadeira. Relaxe. - Falei. - Vocês dois.

- Sentimos sua falta. - Carlos disse.

- Sinto saudades de vocês também. Preciso ir. Amo vocês. - Falei e desliguei.

Guardei o celular e fechei os olhos. Senti a brisa quente soprar meus cabelos e ouvi a solidão. Levantei e fui até o mercadinho que tem ali por perto. Parei a bike por perto tentei entrar por uma porta mas estava enterrada. Então, para não usar uma força que eu poderia usar o homem que estava no caixa apareceu para abrir. Ele riu e me olhou. Dei um sorriso simpático em forma de agradecimento e entrei. Senti seu olhar pesar em mim então fui para o mais longe possível. Peguei um saco pequeno de arroz, algumas outras coisas para sobrevivência então vi um catalogo de cores de tintas. Fui até o caixa e vi um menininho de uns sete anos por aí.

- Com licença, esse catalogo... Ahn, não vi nenhuma tinta por aqui. - Falei pro moço mais alto que o de sete anos. Que me ajudou com a porta.

- É por encomenda. Você escolhe a cor e encomendamos pra você. - Ele disse. Concordei com a cabeça. Olhei as cores por cima e vi um tom meio rosa puxado pro vermelho escuro.

- Quero duas latas brancas e duas dessa cor. - Falei mostrando pra ele.

- Decidida você. - Ele disse anotando meu pedido.

- Você não imagina o quanto. - Disse e ri descontraída. - É só isso. - Entrei minha cestinha pra ele.

- Certo. - Ele foi passando as coisas pro garotinho enquanto ele somava tudo. - Trinta dólares. - Ele falou e eu entrei o dinheiro pra ele e peguei minha sacola. - Ahn, meu nome é Josh pra quando vir buscar a tinta. Pode ser que meu esteja aqui. - Ele disse e eu concordei. - Chega daqui uma semana no máximo.

- Daqui uma semana eu volto.

- E se chegar antes? Tem algum número que eu possa ligar? - Boa. 

- Venho de novo antes disso. Não se preocupe. 

- Tenha um bom dia. - Ele disse.

- O mesmo. - Saí de lá e coloquei a sacola na bike e pedalei até em casa. 

Dreaming out loudOnde histórias criam vida. Descubra agora