Capítulo 75☘

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Então o mar frio e sem carinho
Também cansou de ficar sozinho
Sentiu na pele aquele brilho tocar
E pela lua foi se apaixonar

Luz que banha a noite
E faz o sol adormecer (faz o sol adormecer)
Mostra como eu amo você  

Se a lenda dessa paixão
Faz sorrir ou faz chorar
O coração é quem sabe
Se a lua toca no mar
Ela pode nos tocar
Pra dizer que o amor não se acabe  

Fiz uma das maiores burrices da minha vida: permiti Isaac ir embora, sem ao menos implorar um pouco mais de compreensão. Ele estava disposto a me ajudar e ele sabia que eu ainda sentia uma atração por Christian e meu subconsciente deve ter agido quando me senti vulnerável e não tive condições de filtrar meus pensamentos. Foi um breve sonho capaz de estragar tudo. 

Agora, eu tento ligar e as chamadas vão até a caixa postal e Isaac está muito bravo comigo. Por que ele não entende que não é fácil esquecer assim tão fácil. Eu ainda acho até que Gaby mora em seus pensamentos e se ele vacilasse, com certeza, acabaria confundindo os nomes. Eu o perdoaria e voltaríamos a tentar esquecer e retornaríamos à estaca zero.  Estou até chegando a conclusão de que a coisa mais certa a ser feita é esquecer e viver em paz. Estou muito bem sozinha, assim não preciso me preocupar em agradar os outros. Prefiro ficar solteira. E assim farei. Estamos na metade do ano e preciso decidir o que farei depois do término do Ensino Médio. Não terei tempo para pensar em Isaac ou Christian. Os dois só sabem atestar minha vida com problemas. 

Meu pulso está engessado e preciso cuidar dele. Consegui alguns dias de licença, até lá, conseguirei pegar a matéria, exceto com Clarisse e Eva. As duas nem imaginam o ocorrido depois que elas puderam ir embora. 

Eu só queria ter ido com elas, porém estou mais do que inserida nessa situação e espero não me deparar com Matheo. Aliás, o nome dele será o primeiro a constar no meu depoimento de amanhã. 

Ele é um rapaz meio perturbado das ideias, acredito até que o nível de periculosidade seja a mesma do Vini, pego em flagrante. 

Tenho medo de olhar a conta de meu Instagram e encontrar uma mensagem de ameaça, não quero perder a coragem ao falar na polícia. Preciso contar todos os detalhes e levar as mensagens salvas. Não vou me esconder mais. Não vou arriscar minha vida, com medo de dizer a verdade. 

Passo as mãos nos meus cabelos e penso em passar no cabeleireiro amanhã depois do depoimento. Mas se o Matheo estiver me seguindo, então terei de viver uma vida totalmente com medo. Saio da cama e vou até a escrivaninha e escrevo linha por linha, detalhadamente. Não quero esquecer de nada e se algo me impedir de prosseguir, então esta carta será minha verdade.

As imagens de Christian socando Vini vem à cabeça e sorrio, satisfeita. Ele fez exatamente o que eu desejava ter feito. Coço a cabeça e não aguento ficar aqui, preciso falar com Isaac, não podemos terminar através de uma discussão calorosa.  Volto ao meu celular e vejo as porcarias das notificações do Instagram. 

Não vou olhar, não vou olhar, não vou olhar e ninguém pode me obrigar...se eu não ver, como vou saber, algumas pessoas estão me seguindo, mas são muitas notificações e só vou conseguir dormir quando ver todas. 

Recebi mais de quarenta mil seguidores nessas últimas horas sem meu celular. Aliás, encontrei meu celular dentro de uma bolsa feminina, sem dúvidas, pertencia à Miriam. É claro que não tinha como provar, ela tomou cuidado para não deixar uma pista.

No Direct, uma mensagem de Christian chamou totalmente a minha atenção e absolutamente nenhuma notificação mais me importaria.

christian97: Você está bem? Eu queria conversar, tem como a gente marcar algum dia? É sério, não quero discutir. Eu fiquei muito assustado quando vi você sendo levado numa maca, desacordada. 

Lisandra123123: Eu quero te ver hoje, é possível? Tenho medo de sair sozinha, pode ser em frente à minha casa?

[Depois de dez minutos]

Eu já estava quase pegando no sono quando Christian respondeu a mensagem.

christian97: Já estou aqui, vem me encontrar. 

Olhei para a janela e me lembrei do sonho e ri só de imaginar que meu sonho era tão salafráio quando não dava para ver Christian por ela, na realidade. Saio do meu quarto e vejo meu pai sentado na sala de estar, assistindo televisão e minha mãe está na cozinha, preparando alguma coisa. 

— Não saia de casa, Lisandra! —ela ordenou. —Por que Isaac foi embora, se ele ia dormir aqui?

— Nós terminamos e só vou falar com meu amigo que me salvou no momento mais aterrorizante da minha vida, posso falar com ele? Ele está muito preocupado. 

— Ele pode entrar, se quiser, mas não saia e não fique muito tempo, estou falando sério! 

— Ok — concordei, saindo apressadamente  e avistando Christian me olhando com aqueles olhos sedutores. Abri o portão e ficamos parados, um de frente para o outro. Meu coração se derreteu por ele e algo me impedia de abraçá-lo. Eu sentia uma vontade de beijá-lo, porém não achava certo e meu corpo se recusava em seguir meu coração. Tenho medo de estragar o que construímos. Nossa amizade vale mais do que qualquer beijo ou sonho erótico. 

— Lisandra...como você está? —ele iniciou, com as mãos nos bolsos da calça. Seu rosto estava um pouco machucado. A boca tinha marcas, como resultado da agressão. 

— Estou melhor. Meu pulso está engessado e peguei alguns dias para ficar em casa. 

Christian não se aproximou, continuou no mesmo lugar, um pouco embaraçado. 

—E...como vai ficar? Conversou com a polícia?

—Só amanhã e vou dizer tudo. Como você conseguiu se soltar para pegar o mascarado?

— Eu consegui cortar a fita. Miriam me ajudou, porque ela desistiu e fugiu. Bem, não vou tomar muito seu tempo, eu só precisava ter a certeza de que estava bem. O tiro foi de raspão, certo?

— Sim...eu vou ficar melhor. Obrigada por ter me defendido pela enésima vez.

Christian se aproximou e tirou as mãos do bolso, segurando meus ombros. 

— Sou eu que devo agradecer pela coragem, porque o que você fez foi uma das coisas mais incríveis que pude presenciar. Desculpas se algum dia eu fui chato ou arrogante com você. 

Ele me soltou e se virou de costas para atravessar a rua, quando meu peito começava a gritar. 

— Christian! 

Ele me ouviu e se voltou para mim. 

— Sim?

— Amigos de novo?

— Sempre — ele respondeu e acenou. 


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