Capítulo 82☘

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Miriam providenciou um berço de rodinhas para Bernardo enquanto eu dançava com Matheo. Nossas mãos se tocavam e o rádio tocava uma música clássica. 

  — Nem nos filmes mais produzidos essa cena se repetiria —  ele falou, olhando em meus olhos e apertando minha mão e cintura. Segui seus passos e aquela música adentrava minha mente, fazendo-me chorar involuntariamente. Olhei fixamente para Matheo e nossos pés puderam seguir uma sintonia. 

— Nunca desejei lhe fazer algum mal, Lisandra. Apenas estou um pouco confuso. Não sou um psicopata —  ele continuou.

— Eu vou com você para aonde quiser, mas deixe Bernardo com sua família. Precisaremos de um tempo para nós e só vou ficar tranquila quando o bebê voltar para a família e você esquecer essa ideia absurda de fazer mal a Christian. 

A mão direita de Matheo saiu de minha cintura e foi até minha nuca, pegando meus cabelos e aproximando minha cabeça contra seu rosto. 

  — Diz que me quer. Diz que é possível me amar. 

Alisei seu rosto e aceitei a lhe dar um breve beijo. 

— Você tem valor, Matheo. Não precisa implorar por uma retribuição de carinho. Eu ainda não te amo, mas se continuar assim, dificilmente será amado por alguém —  falei, temendo o pior. Eu só não conseguia mentir.

Ele se afastou de mim a passos largos e boquiaberto, Matheo começou a se desesperar, passando as mãos em seus cabelos levemente arrepiados e escuros. 

— Sobre para o quarto e leve o garoto com você. Fique lá —  ele disse, virado de costas para mim. Se eu estivesse correta em minha dedução, então ele sentia um pouco de vergonha por prestar àquele papel. 

Retirei Bernardo do berço e peguei a mamadeira deixada sobre a mesa para esfriar. Subi as escadas e olhei de relance para trás: Matheo estava ajoelhado, com as mãos na cabeça. 

Abri a porta e me sentei na cama. Inclinei Bernardo e lhe ofereci a mamadeira. Só não me entreguei ao desespero, capaz de me defender com unhas e dentes, porque Bernardo era minha âncora para evitar que eu fizesse besteiras. Não era somente minha vida, eu precisava pensar na dele mais do que tudo. 

Quando a porta rangeu ao ser aberta, eu engoli em seco e fiz Bernardo respirar um pouco após afastar a mamadeira dele. 

Era Matheo. Seu rosto estava avermelhado, semelhante a uma pessoa que estivesse chorando. 

  — Estraguei nosso jantar? —  perguntei, querendo criar um clima mais favorável a nós. 

— Não. Mas o garoto sim, por isso eu vim buscá-lo— disse Matheo esticando os braços. 

Neguei, encolhendo meus braços em volta da criança. Jamais entregaria Bernardo a ele, isso não aconteceria, se dependesse de mim. 

— Se você não me entregar o bebê, eu vou machucá-lo! —  ele ameaçou, alterando sua voz e sacando uma pequena navalha. —  Agora! Eu não estou brincando, Lisandra!

—  Você não seria capaz! Eu sei disso! Não adianta! Eu não vou baixar a cabeça para você! Ninguém vai tocar nele! — enfrentei-o, custando o choro de susto de Bernardo. 

 

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