Miriam providenciou um berço de rodinhas para Bernardo enquanto eu dançava com Matheo. Nossas mãos se tocavam e o rádio tocava uma música clássica.
— Nem nos filmes mais produzidos essa cena se repetiria — ele falou, olhando em meus olhos e apertando minha mão e cintura. Segui seus passos e aquela música adentrava minha mente, fazendo-me chorar involuntariamente. Olhei fixamente para Matheo e nossos pés puderam seguir uma sintonia.
— Nunca desejei lhe fazer algum mal, Lisandra. Apenas estou um pouco confuso. Não sou um psicopata — ele continuou.
— Eu vou com você para aonde quiser, mas deixe Bernardo com sua família. Precisaremos de um tempo para nós e só vou ficar tranquila quando o bebê voltar para a família e você esquecer essa ideia absurda de fazer mal a Christian.
A mão direita de Matheo saiu de minha cintura e foi até minha nuca, pegando meus cabelos e aproximando minha cabeça contra seu rosto.
— Diz que me quer. Diz que é possível me amar.
Alisei seu rosto e aceitei a lhe dar um breve beijo.
— Você tem valor, Matheo. Não precisa implorar por uma retribuição de carinho. Eu ainda não te amo, mas se continuar assim, dificilmente será amado por alguém — falei, temendo o pior. Eu só não conseguia mentir.
Ele se afastou de mim a passos largos e boquiaberto, Matheo começou a se desesperar, passando as mãos em seus cabelos levemente arrepiados e escuros.
— Sobre para o quarto e leve o garoto com você. Fique lá — ele disse, virado de costas para mim. Se eu estivesse correta em minha dedução, então ele sentia um pouco de vergonha por prestar àquele papel.
Retirei Bernardo do berço e peguei a mamadeira deixada sobre a mesa para esfriar. Subi as escadas e olhei de relance para trás: Matheo estava ajoelhado, com as mãos na cabeça.
Abri a porta e me sentei na cama. Inclinei Bernardo e lhe ofereci a mamadeira. Só não me entreguei ao desespero, capaz de me defender com unhas e dentes, porque Bernardo era minha âncora para evitar que eu fizesse besteiras. Não era somente minha vida, eu precisava pensar na dele mais do que tudo.
Quando a porta rangeu ao ser aberta, eu engoli em seco e fiz Bernardo respirar um pouco após afastar a mamadeira dele.
Era Matheo. Seu rosto estava avermelhado, semelhante a uma pessoa que estivesse chorando.
— Estraguei nosso jantar? — perguntei, querendo criar um clima mais favorável a nós.
— Não. Mas o garoto sim, por isso eu vim buscá-lo— disse Matheo esticando os braços.
Neguei, encolhendo meus braços em volta da criança. Jamais entregaria Bernardo a ele, isso não aconteceria, se dependesse de mim.
— Se você não me entregar o bebê, eu vou machucá-lo! — ele ameaçou, alterando sua voz e sacando uma pequena navalha. — Agora! Eu não estou brincando, Lisandra!
— Você não seria capaz! Eu sei disso! Não adianta! Eu não vou baixar a cabeça para você! Ninguém vai tocar nele! — enfrentei-o, custando o choro de susto de Bernardo.
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Ficção AdolescenteLisandra é uma adolescente que não compreende o porquê das pessoas seguirem outras e admirá-las, como se fossem intocáveis, entretanto, ela não se dá conta de que também faz parte desse mundo e sempre está de olho nos passos de seu cantor favorito q...