Capítulo 109☘

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Engoli muita água salgada e cuspi fora depois de ter sido socorrida por aquele rapaz. Respiração boca a boca foi o primeiro procedimento a ser feito para eu voltar e apenas ergui meu tronco e sentada sobre a areia, observei aquele jovem me olhando, assustado. Seus cabelos estavam molhando e sua feição mostrava uma surpresa muito grande. Em sua mente devia estar passando o quanto eu sou doida por estar de calças jeans e sutiã com resquícios de sangue. 

Minha primeira atitude foi querer ir embora e esquecer de tudo, mas ele me impediu e apertou levemente meu ombro direito, querendo saber como poderia me ajudar. 

  — Eu estou fugindo. Nem sei, mas acho que caí numa armadilha —  falei, sentindo minha testa franzindo. —  Estou um pouco confusa, desculpas...

O jovem rapaz, cujo nome era Noah, não conseguia me dizer nada, apenas me olhar com aquele olhar sem definição. Ele era muito bonito. Ouvi seu suspiro e não queria deixá-lo naquela situação constrangedora.Christian estava um pouco longe de nós e nem percebeu da minha presença. Eu me afastei para ir até o final do mar e acabei me distanciando de quem eu mais queria próximo. 

— Pode me explicar melhor essa história? —  Noah me perguntou, ajeitando-se ao meu lado. Abraçando as próprias pernas e olhando para o horizonte, debaixo daquele sol ardente, penetrando em nossas mentes tão confusas e bobas. 

— Na verdade, foi uma armadilha, tenho certeza. Ninguém mataria aquele homem. Eu fui uma presa fácil. Eu estava numa sessão de fotos e de repente, encontro-me ao lado de um rapaz com sangue sobre o peito ao meu lado. Foi horrível! Eu não sei como cheguei a esse ponto. Aquela garota me odeia e foi mais esperta. Planejou tudo para estragar tudo!

Desesperei-me, chorando e me esforçando para se levantar e fui acompanhada por aquele jovem rapaz. Ele seguia meus passos, sem dizer nada. Olhei para trás e avistei Christian, mexendo em seu celular, sem ter ideia de que eu estava ali.

— Espere! —  Noah apressou os passos e conseguiu me fazer parar abruptamente. Eu enxugava meus olhos e olhava para a areia, eu só queria ir embora. Eu estava descalças e sentia a areia querer queimar meus pés.  —  Você precisa de ajuda. Isso é a coisa mais humana de nós. Não precisa ter vergonha. 

— Agradeço por estar viva, e sinto muito deixá-lo nessa situação. 

Avistei seus amigos acenarem para a nossa direção, mas Noah queria conversar e me ajudar. 

— Vamos conversar mais. Tem um quiosque lá em cima.

—  Você não entende, cara! Estou sendo acusada de um assassinato. Não percebe? 

Noah não sabia como me acalmar e me apressei a pedir desculpas. Ele não tinha culpa pelo o momento ruim que eu estava passando e minha vontade era de correr para os braços de Christian e pedir sua ajuda, seus braços.

—  Me conta toda a história e eu tentarei ajudar no meu alcance —  ele disse, coçando a nuca e acenando para os amigos.

— Você não me conhece e nem sei por que está oferecendo ajuda. Essa história não cabe a você, somente a mim. Preciso ir. 

— Então, não fuja do problema. Se você não matou o cara, não tenha medo. Pois a verdade será revelada cedo ou mais tarde. 

Meneei a cabeça positivamente, cobrindo meus braços com as mãos, sentindo um frio descomunal.

—  Só queria voltar para casa —  falei, pensando nas chaves que foram levadas pelo mar. 

— Eu posso te levar para a casa. Eu vim no carro com meus amigos e se quiser, podemos ir. 

Senti medo, não confiei, ele era estranho e eu não podia confiar na primeira pessoa que surgisse na minha frente com a intenção de me ajudar. 

— Eu não conheço você. Tenho medo de estar sendo empurrada para uma nova armadilha. São raras as pessoas dispostas a ajudarem. 

Minhas palavras foram duras, mas verdadeiras. Ele suspirava, encontrando uma maneira de me ajudar, sem se comprometer. E meus olhos avistavam Christian, ainda absorto em seu celular. Se ele erguesse os olhos, poderia me encontrar facilmente. 

— Na verdade sou eu que deveria ter medo de você. Sua história é muito louca e a encontrei com sangue sobre o corpo. Se eu estou arriscando, então eu sou um idiota corajoso, porém idiota. 

Noah me pediu um tempo e correu, aproximando-se do mar e passando pelos seus amigos. Ele pegou uma camisa preta sobre a areia e voltou correndo para minha direção. Entregou-me a camiseta e eu a usei, sentindo mais alívio. 

—  Eu pago um táxi. Assim vai ser melhor. E tente resolver da melhor forma —  ele disse e suspirou em seguida, olhando para o lado direito, sem ter as palavras certas para mim. 

— Obrigada —  agradeci, envergonhada. 

—  Só tome cuidado, garota —  ele me alertou, próximo de mim.

Eu olhava para cima, percebendo o quando ele era alto. 

—  Se cuide. Estou chamando carona pelo aplicativo —  avisou, tentando encontrar um pouco de alegria em mim. 

—  Obrigada —  agradeci e pensei em pegar seu número quando me lembro de ter deixado meu celular no meu quarto.  — Você tem Instagram?

Ele sorri e consente.

  — Legal! Assim você pode me avisar que está tudo bem quando chegar em casa. Tenho certeza que tudo vai dar certo —  ele diz. Passo o meu Instagram a ele para me seguir e sua surpresa com o número de meus seguidores me deixa encabulada. 

—  Uau! Você é famosa! —  ele exclama e começa a me seguir. 

Somente em meu pensamento, imagino o quanto eu não queria ser. Nossa despedida acontece por meio de um breve abraço e me afasto, usando sua camiseta preta. Olho para onde Christian deveria estar e o vejo saindo da praia, acompanhado por sua família. Aquilo parte meu coração. Eu quero muito correr até ele e chorar feito criança. Vejo aquelas pessoas como parte de minha família, mas sinto um medo tão forte. Sinto a necessidade de ser dura comigo mesma. Penso no rapaz ensanguentado e suspiro, querendo uma saída daquele pesadelo. Espero até ter a certeza de que não iremos nos encontrar. 

  —  Está tudo bem? —  pergunta Noah, atrás de mim. 

— Sim. Estou sim. Muito obrigada e nem como agradecer —  viro-me para ele e tento esmagar minhas lágrimas. 

—  Quem sabe um dia eu também não irei precisar de sua ajuda —  ele fala e sorri. 

"Quem sabe", penso e olho para o meu lado direito, encontrando o mar que quase me levou.  

  

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