Eu precisava conversar com a minha avó e não podia mais adiar nosso encontro. Eu estava ao lado de Léo e ele tinha sido o único a tocar em meus profundos sentimentos e arrependimentos. Entramos no asilo e observamos aquele espaço silencioso, com algumas pessoas sentadas em bancos, observando a natureza e até lendo livros. Alguns idosos jogavam xadrez e outros praticavam tai-chi-chuan. Senti um alívio por saber que minha mãe tinha escolhido um lugar bom para minha avó morar.
Minha avó se chamava Eliane e tinha setenta e nove anos, sua lucidez estava intacta, porém minha mãe foi egoísta e achou melhor deixá-la aqui, como se fosse totalmente normal. Uma cuidadora apareceu, conduzindo minha avó até o sofá da sala arejada e com móveis claros.
— Dona Eliane é uma menina muito esperta, não acha? - disse a cuidadora, sorrindo e ajudando a minha avó a se sentar.
—Menina? Tá louca, é? Você acha que está falando com uma velha abobalhada? E me traga aquele chá verde com gengibre, do jeitinho que eu gosto, vai lá, vai — minha avó ainda continuava com seu jeito mandona de sempre.
Léo e eu rimos e nos sentamos em seguida no sofá ao lado dela. Peguei sua mão e observei cada ruga traçada naquela mão de grandes histórias.
— Está procurando o quê? - ela perguntou, com o semblante sério, afastando a minha mão.
— Nada. Só estava com saudades de conversar com a senhora, e de tocá-la.
Ela riu e me deu um tapa na cabeça. Léo achou engraçado e lhe dei outro. Parecíamos três crianças bobas.
— Quem é esse garoto aí? Christian está magrinho, hein.
Léo disfarçou um riso e eu apenas arregalei os olhos.
— Não é o Christian, avó. Este daqui é meu novo namorado, Léo.
Minha avó começou a gargalhar e inclinar o corpo para trás, como se a risada estivesse a tocando pelo estômago.
— Nossa, vocês, jovens, são tão bobos. Eu sei que esse moleque aí não é o Christian. Apenas brinquei para você achar que estou uma velha biruta, sem juízo, sem discernimento algum.
Aproximei-me mais dela e alisei seu rosto, tocando em seus cabelos brancos como a neve. Depois beijei sua testa e me aconcheguei em seus braços.
— Eu tenho sido uma neta muito ruim com a senhora, não é? Me perdoa, vó.
— Só um pouquinho, mas está tudo bem. Aliás, eu sempre estou lhe acompanhando pelo Instagram.
Ergui minha cabeça e a encarei, surpresa.
— A senhora mexe no Instagram?
— Lógico! Eu sigo um monte de gente e adoro seguir as receitas de bolos, nossa, eu realmente adoro. Tenho mais de dez mil seguidores, claro que tive que dizer que sou sua avó e postar umas fotos antigas para o pessoal começar a me seguir, claro. A famosa de verdade é você e não eu.
Pisquei várias vezes, impressionada. Minha avó me mostrou seu celular e realmente ela tinha uma conta no Instagram.
— E aí? Só descobri da sua gravidez pelo próprio Instagram. Então, você descobriu que estava grávida e de repente, começou a se sensibilizar e vir me visitar.
Olhei para Léo e ele baixou a cabeça, como se quisesse dizer que a responsabilidade era minha para falar.
— Olha, já vou avisando que se meu neto ou neta tiver uma conta no Instagram, eu vou ficar brava com você. Não exponha meu neto para isso, não.
— Eu não estou grávida, avó. Foi apenas uma confirmação precipitada da minha cabeça. Só isso.
— Ok. Bem, então tá, olha o meu chá vindo - ela apontou para a cuidadora que se aproximava com uma bandeja com dois copos de suco e uma xícara.
— E minha mãe, está vindo aqui?
— Está sim, minha neta. Volte a falar com sua mãe. Não é porque você tem dezessete anos e é emancipada que pode se distanciar de seus pais. Eles erraram, mas você não pode repetir os erros dele. Eu vim para este asilo, porque eu estava doente e sua mãe estava se mudando e eu vim, porque eu quis. Mas ela disse que se eu quiser sair daqui, posso muito bem tomar essa decisão, só depende de mim. Não sou obrigada a ficar aqui. Agora, aqueles, infelizmente, foram abandonados, construíram uma vida inteira, tiveram filhos para serem descartados, como se não servissem para mais nada. É triste, porque os jovens que fazem isso hoje, serão os velhos a sofrerem amanhã— ela apontava para outros idosos. — Mas o lugar aqui é maravilhoso e somos bem tratados. Estou até fazendo exercício físico para meu esqueleto não travar — ela riu.
— E a senhora vai sair?
—Não sei, não. Estou bem aqui, fiz amigos e tenho mordomia ao meu dispor —ela começou a rir e tomar um gole de seu chá.
— E se a senhora viesse morar comigo? Eu preciso da senhora para me ajudar.
—Trabalhar para você? Ah, não, Gaby, sem chance. Deixa sua velha aqui em paz. Eu gosto de jogar dama, vai embora, vai.
— Vovó! Pare de brincadeira e pense no assunto, nós iríamos nos divertir muito. Tenho certeza que com sua ajuda, poderei me reaproximar de minha mãe.
— Só se você me ganhar uma partida de dama, combinado? - ela estendeu a mão para um acordo.
— Combinado - concordei e apertei sua mão.
E Léo, feliz por mim, beijou minha testa e tentou abraçar minha vó e eu.
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Novela JuvenilLisandra é uma adolescente que não compreende o porquê das pessoas seguirem outras e admirá-las, como se fossem intocáveis, entretanto, ela não se dá conta de que também faz parte desse mundo e sempre está de olho nos passos de seu cantor favorito q...