Christian acordou meio atordoado e preocupado com seu irmão caçula, acalmei-o para não acordar o menino.
—Ele está dormindo — avisei num tom baixinho.
Christian concordou com a cabeça e se levantou do sofá, puxando-me pela mão. Isso não estava no script, produção.
Passamos pelo corredor e descemos as escadas, chegando à sala de estar.
— Minha mãe deve estar na cozinha — ele informou, bocejando após uma breve soneca.
— É melhor eu ir embora, sério. Não quero incomodar.
— Para de ser boba, fica e almoça com a gente.
Agradeci pelo convite e falei sobre o horário e não ter avisado para minha mãe que estaria preocupada.
— Envia uma mensagem e diz a verdade. Nem invente, isso é chato.
Era impressão minha ou aquele rapaz estava mudado tão repentinamente.
— Ok.
Enviei uma mensagem a ela e menti. Não dava para falar a verdade, então falei de estar na casa de Eva. E ela respondeu:
"Como você está na casa de Eva, se ela disse que estava na casa da Clarisse e havia esquecido a mochila?"
Agora sim, estou encrencada e mostrei a mensagem para Christian.
— Falei para você não mentir, agora me dê isso — ele tomou o celular das minhas mãos e me fez correr atrás dele e pular para tentar pegar o aparelho.
— Para, Lisandra. Vou ligar para ela, para de ser chata.
— Não!
— Qual o nome dela?
— Não te interessa!
— Alô, é a dona Não te interessa?
— Filho da mãe!!!
Ele deu risada e me devolveu o celular.
— Liga e fala a verdade.
Tive de obedecer e ligar para a minha mãe, que não brigou, apenas quis falar com a minha professora e pude receber autorização para almoçar. E eu imaginando levar um sermão daqueles: "Vem para casa agora!".
Durante o almoço, fiquei sem jeito para comer, só que Danúbia me tratou tão bem e não pude recusar, não é legal fazer desfeitas. A conversa estava fluindo e Christian se mostrou ser um rapaz educado e amoroso com a mãe. Impressionante.
— Meu filho agora está mais caseiro, não aguentava mais vê-lo chegar de madrugada.
Christian começou a balançar a cabeça negativamente. Quando a mãe dele perguntou de onde conhecíamos, o nome de Gaby foi citado e Danúbia foi bem clara:
— Aquela garota não tem juízo. Namorou Christian e só sabia beber.
Christian contorceu a boca.
— Mãe, não começa...
— A menina é linda, virou até famosinha na internet e tudo, mas quando era minha nora, aprontava todas.
Christian soprou e alisou o pescoço, querendo aliviar a tensão.
— Eu vou lavar a louça e vocês podem ficar aí, conversando— disse Danúbia, levantando da cadeira e juntando os braços.
Boquiaberta, não pude evitar.
— Namorou Gaby?
—Pois é.
— Faz tempo?
— Faz um ano, ela estava começando a ficar conhecida — ele desviava os olhares.
— Terminaram por quê?
— Não quero falar, não tem importância.
— Fala, um pouco só, sei lá. Deve ter várias fotos de vocês juntos.
— Não tem, nunca me expôs a isso, na época. Namoramos e terminamos porque não aguentava mais as festas, bagunças, bebidas exageradas de uma garota de dezesseis anos emancipada. Nossos ritmos eram diferentes.
— Entendi...
— Só isso.
— Ah, então, fazer o que né, e pelo jeito se pegar é uma alternativa, né.
Ele riu e balançou a cabeça, cruzando os braços.
— Isso aí. Ficamos algumas vezes só porque deu vontade, mas não quero mais continuar.
— Isaac não merece isso — enfatizei.
— Isaac é um bobão. Já enjoei de Gaby, fica sossegada. Naquela noite, nem estava combinado, mas rolou.
— Eu não entendo você, sério. Você consegue ver a garota que você ama namorando outro?
O deboche dele me irritava de um jeito que fazia meus punhos se fecharem.
— Não amo Gaby, nosso lance durou pouco e terminou. Mas quando a química rola, não precisa ter sentimento.
— Nem quando ela perdeu o bebê? — disse Danúbia, ressurgindo e compreendendo bem a conversa.
As bochechas de Christian coraram e ele desejou se esconder debaixo da mesa. Não insisti no assunto, estava no momento certo para ir embora. Mas ele não desistiu de me oferecer carona.
— Não liga para isso — ele falou enquanto eu abraçava a minha professora.
— Vão com Deus.
Danúbia me pediu para voltar outras vezes, e agradeci pelo almoço agradável. Christian estava literalmente envergonhado. Não conseguia nem falar.
Quando estávamos dentro do carro, prometi guardar segredo e nem insisti mais no assunto, era chato se eu tentasse acordar algo de seu passado.
— Por favor, não comente mesmo. Isso aconteceu e ela perdeu e foi rápido. Ninguém sabe disso e não quero expô-la.
E mais uma viagem em silêncio acontece. Iniciamos outro assunto quando me lembrei de te visto no instagram dele de que trabalhava como blogueiro de esportes e era bastante conhecido.
— Você fala muito de esportes, né?
— Falo sim, mais no instagram. Faço postagens, gravo vídeos e esse é o meu trabalho. Comecei a pouco tempo. Antes eu nem imaginava trabalhar na internet.
— Mas é bem conhecido também por trabalhar como modelo — lembrei.
— Sim. Sou modelo de algumas marcas.
Depois o silêncio voltou e não progredimos mais o diálogo, não dava. Aquela revelação me desestruturou.
O celular dele tocou e ele atendeu, sorrindo ao reconhecer o nome da pessoa.
— Ah, fala amor, já já eu passo na sua casa. Beijo, se cuida.
Quando ele desligou a ligação, perguntei:
— Mais uma na lista?
Ele me olhou e depois retornou atenção para o volante.
— Não. Essa é séria, não quero mais saber de ficar com ninguém a toa, eu estou gostando muito dessa menina e só falta ela aceitar meu pedido.
— Boa sorte.
Nossa que gelo levei agora. Surpresa atrás de surpresa. Perdi até o jeito e quando em frente a minha casa.
— Chegamos— ele falou, olhando-me e destravando as portas. — Até mais — ele se despediu enquanto eu saía do carro e fechava a porta, muda.
— Obrigada pela carona.
Ele fez o sinal com a cabeça e foi embora.
Alguém em choque depois desse capítulo? Preciso saber rs
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Ficção AdolescenteLisandra é uma adolescente que não compreende o porquê das pessoas seguirem outras e admirá-las, como se fossem intocáveis, entretanto, ela não se dá conta de que também faz parte desse mundo e sempre está de olho nos passos de seu cantor favorito q...