Capítulo 29 ☘

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Christian acordou meio atordoado e preocupado com seu irmão caçula, acalmei-o para não acordar o menino.

—Ele está dormindo — avisei num tom baixinho.

Christian concordou com a cabeça e se levantou do sofá, puxando-me pela mão. Isso não estava no script, produção.

Passamos pelo corredor e descemos as escadas, chegando à sala de estar.

— Minha mãe deve estar na cozinha — ele informou, bocejando após uma breve soneca.

— É melhor eu ir embora, sério. Não quero incomodar.

— Para de ser boba, fica e almoça com a gente.

Agradeci pelo convite e falei sobre o horário e não ter avisado para minha mãe que estaria preocupada.

— Envia uma mensagem e diz a verdade. Nem invente, isso é chato.

Era impressão minha ou aquele rapaz estava mudado tão repentinamente.

— Ok.

Enviei uma mensagem a ela e menti. Não dava para falar a verdade, então falei de estar na casa de Eva. E ela respondeu:

"Como você está na casa de Eva, se ela disse que estava na casa da Clarisse e havia esquecido a mochila?"

Agora sim, estou encrencada e mostrei a mensagem para Christian.

— Falei para você não mentir, agora me dê isso — ele tomou o celular das minhas mãos e me fez correr atrás dele e pular para tentar pegar o aparelho.

— Para, Lisandra. Vou ligar para ela, para de ser chata.

— Não!

— Qual o nome dela?

— Não te interessa!

— Alô, é a dona Não te interessa?

— Filho da mãe!!!

Ele deu risada e me devolveu o celular.

— Liga e fala a verdade.

Tive de obedecer e ligar para a minha mãe, que não brigou, apenas quis falar com a minha professora e pude receber autorização para almoçar. E eu imaginando levar um sermão daqueles:  "Vem para casa agora!".

Durante o almoço, fiquei sem jeito para comer, só que Danúbia me tratou tão bem e não pude recusar,  não é legal fazer desfeitas.  A conversa estava fluindo e Christian se mostrou ser um rapaz educado e amoroso com a mãe. Impressionante.

— Meu filho agora está mais caseiro, não aguentava mais vê-lo chegar de madrugada.

Christian começou a balançar a cabeça negativamente. Quando a mãe dele perguntou de onde conhecíamos, o nome de Gaby foi citado e Danúbia foi bem clara:

— Aquela garota não tem juízo. Namorou Christian e só sabia beber.

Christian contorceu a boca.

— Mãe, não começa...

— A menina é linda, virou até famosinha na internet  e tudo, mas quando era minha nora, aprontava todas.

Christian soprou e alisou o pescoço, querendo aliviar a tensão.

— Eu vou lavar a louça e vocês podem ficar aí, conversando— disse Danúbia, levantando da cadeira e juntando os braços. 

Boquiaberta, não pude evitar.

— Namorou Gaby?

—Pois é.

— Faz tempo?

— Faz um ano, ela estava começando a ficar conhecida — ele desviava os olhares.

— Terminaram por quê?

— Não quero falar, não tem importância.

— Fala, um pouco só, sei lá. Deve ter várias fotos de vocês juntos. 

  —  Não tem, nunca me expôs a isso, na época. Namoramos e terminamos porque não aguentava mais as festas, bagunças, bebidas exageradas de uma garota de dezesseis anos emancipada. Nossos ritmos eram diferentes.

— Entendi...

— Só isso.

— Ah, então, fazer o que né, e pelo jeito se pegar é uma alternativa, né.

Ele riu e balançou a cabeça, cruzando os braços. 

— Isso aí. Ficamos algumas vezes só porque deu vontade, mas não quero mais continuar. 

— Isaac não merece isso — enfatizei.

— Isaac é um bobão. Já enjoei de Gaby, fica sossegada. Naquela noite, nem estava combinado, mas rolou.  

— Eu não entendo você, sério. Você consegue ver a garota que você ama namorando outro?

O deboche dele me irritava de um jeito que fazia meus punhos se fecharem.

— Não amo Gaby, nosso lance durou pouco e terminou. Mas quando a química rola, não precisa ter sentimento.

— Nem quando ela perdeu o bebê? — disse Danúbia, ressurgindo e compreendendo bem a conversa.

As bochechas de Christian coraram e ele desejou se esconder debaixo da mesa. Não insisti no assunto, estava no momento certo para ir embora. Mas ele não desistiu de me oferecer carona.

— Não liga para isso — ele falou enquanto eu abraçava a minha professora.

— Vão com Deus.

Danúbia me pediu para voltar outras vezes, e agradeci pelo almoço agradável. Christian estava literalmente envergonhado. Não conseguia nem falar.

Quando estávamos dentro do carro, prometi guardar segredo e nem insisti mais no assunto, era chato se eu tentasse acordar algo de seu passado. 

— Por favor, não comente mesmo. Isso aconteceu e ela perdeu e foi rápido. Ninguém sabe disso e não quero expô-la.

E mais uma viagem em silêncio acontece. Iniciamos outro assunto quando me lembrei de te visto no instagram dele de que trabalhava como blogueiro de esportes e era bastante conhecido.

— Você fala muito de esportes, né?

— Falo sim, mais no instagram. Faço postagens, gravo vídeos e esse é o meu trabalho. Comecei a pouco tempo. Antes eu nem imaginava trabalhar na internet. 

— Mas é bem conhecido também por trabalhar como modelo — lembrei.

— Sim. Sou modelo de algumas marcas.

Depois o silêncio voltou e não progredimos mais o diálogo, não dava. Aquela revelação me desestruturou.

O celular dele tocou e ele atendeu, sorrindo ao reconhecer o nome da pessoa.

— Ah, fala amor, já já eu passo na sua casa. Beijo, se cuida.

Quando ele desligou a ligação, perguntei:

— Mais uma na lista?

Ele me olhou e depois retornou atenção para o volante.

— Não. Essa é séria, não quero mais saber de ficar com ninguém a toa, eu estou gostando muito dessa menina e só falta ela aceitar meu pedido.

— Boa sorte.

Nossa que gelo levei agora. Surpresa atrás de surpresa. Perdi até o jeito e quando em frente a minha casa.

— Chegamos— ele falou, olhando-me e destravando as portas.   — Até mais —  ele se despediu enquanto eu saía do carro e fechava a porta, muda.

  —  Obrigada pela carona. 

Ele fez o sinal com a cabeça e foi embora.  





Alguém em choque depois desse capítulo? Preciso saber rs

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