Capítulo 121☘

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Estava tudo planejado para matar Vini e se livrar de suas ameaças. Mas a paz tão ansiada estava ultrapassando o horizonte e a impossibilidade. Nós duas estávamos machucadas e Gaby, com as mãos de sangue, gemia de dor. As explosões tinham acabado e em breve a polícia e o corpo de bombeiros estariam presentes. Gaby só pensava em se livrar da caixinha de fósforo. 

  — Meu Deus!!! —  eu só chorava, presenciando aquele fogaréu tomar de conta de tudo. Havia três pessoas lá dentro e nenhuma delas estava viva. Minha consciência começou a derreter, como se um ácido tivesse a penetrado.  

  — Grite, chore, mas nunca admita que fui eu, ok? —  dizia Gaby, com a voz embargada, arrastando seu corpo para trás, tampando o nariz e boca, forma de se proteger da toxicidade da fumaça.

Eu tossia e no chão, arrastando-me ao seu lado, eu queria entender a realidade ao meu redor. 

— Vini foi o causador de tudo isso, nunca esqueça disso! —  Gabi enfatizava. —  Ele estava cego por mim e apesar de ter sido internado num hospital e preso na cadeia, ele continuou a me assombrar até eu ter de entrar em seu jogo. Meu objetivo era incendiá-lo dentro do casarão e quando eu a vi sendo abordada por aquela garota, quis impedi-las de entrar no casarão que estava sendo mergulhado em gasolina. A festa do Halloween atrapalhou, mas eu não podia adiar mais.  O assassinato daquela Instagrammer também atrapalhou tudo e a polícia seria meu maior obstáculo. 

Eram cinco horas da manhã e minha mãe deveria estar completamente desesperada. Só não tinha ideia onde eu estava e Gaby estava querendo me convencer de que a verdade só nos prejudicaria. 

Os mortos não se defenderiam e como éramos as sobreviventes, automaticamente, nosso antagonismo prevaleceria acima de qualquer desespero. 

Eu mataria e Gaby também mataria para ficar viva. E fizemos isso, só que eu teria de engolir os episódios anteriores e traumatizantes. 

Eu tinha desmaiada há duas horas e só acordei numa cama de hospital, recebendo soro pela veia. 

Minha mãe estava sentada ao meu lado, segurando minha mão e chorava, agradecendo a Deus pela minha vida. A imagem das explosões só me perturbavam e a sensação de estar se queimando não saía da minha mente e meu corpo reagia, como se quisesse fugir. 

  —  Gaby...—  eu só queria vê-la. —  O...onde ela está, mãe?

— Ela está com a família dela e está bem filha. Lisandra o que aconteceu?

Fingi desmaio para fugir daquela pergunta e do mundo perturbador que eu tinha atraído para mim. 

 As horas passariam e os dias também. E a polícia chegou antes de eu ter montado um roteiro. Então tentei me calar e fingir cansaço só para não ter de responder contrário ao que Gaby diria. Se houvesse divergências, com certeza, nós duas seríamos acusadas a matar três pessoas mais perigosas do que nós duas juntas. 

A polícia voltaria no dia seguinte e eu daria um jeito para me encontrar com Gaby, situação proibida pela polícia, imaginando nosso acordo.

E foi através do direct do Instagram que Gaby implorou meu silêncio. E se aquela conversa nos traísse, seria nosso fim. Então, as conversas foram imediatamente apagadas e nossos depoimentos foram compostos pelas palavras: desespero, sobrevivência, união. Nós tínhamos provas das ameaças sofridas. 

Nunca precisei ameaçar ninguém e o fogo lançado foi o mal necessário.

— Promete nunca dizer a verdade? Vini me ameaçava e eu precisava me livrar dele. 

—  Nunca direi, pois se você não estivesse lá, eu estaria morta. 

Gaby me deu um breve beijo nos lábios. 

— Por que fez isso? — perguntei, assustada. 

— Esse é nosso pacto e se me trair, eu te levarei junto. Pois a nossa cumplicidade começa desde que mentimos os detalhes. 

 — Precisamos nos unir e acabar com essa rivalidade que só nós destrói, Lisandra — falou Gaby, querendo estabelecer uma amizade.

  — Eu já senti inveja de você, Gaby e agora entendo que não é fácil ser você. Nunca quis seu mal e o que mais quero é a paz entre nós duas. 

— Então, vamos ser unha e carne. Porque não será fácil encarar nossos seguidores após aquele episódio trágico. E se eles souberem que fomos unidas como realmente fomos, não estarão mais divididos e nos respeitarão.  Estaremos unidas através de nossos seguidores. 

Ela tinha razão e a culpa que eu carregaria seria eterna. 

  — Por favor, Lisandra. Para o nosso bem, vamos nos unir. 

— Eu concordo, Gaby. 

— Isso inclui Christian. Por favor, se afaste dele. 

Aquilo foi uma surpresa. Christian entrou em nossa conversa abruptamente. 

—  O que tem ele?

— Para selarmos uma amizade eterna, não podemos sofrer pelo mesmo cara. E não leve isso, como se eu quisesse ficar com Christian, mas a nossa relação foi tão forte que eu tinha a certeza de que ele não amaria uma garota como ele me amou. Quase construímos uma família juntos e depois que você surgiu, ele se desligou do passado completamente. Eu o tinha quando precisava, e com você perto, ele passou a ser uma pessoa diferente. 

  — Quê...

— Lisandra, antes de você, eu ligava para Christian quando quisesse...não queria voltar para ele para ter um relacionamento sério, pois eu queria ficar com Isaac, estávamos felizes, mas Christian ainda acendia o passado dentro de mim. 

—  Você é louca, Gaby! 

— Christian sempre quis voltar para mim, mas eu não queria, não estava preparada. Mas os nossos encontros marcados deixava a certeza de que ele só me amaria e eu gostava de brincar com a situação até você aparecer e estragar tudo. 

  — Prometo —  digo, mordendo os lábios.

 —  Não fique assim, pense no bem dele. Você não suportaria ficar com ele, escondendo esse segredo. Afinal, nós duas precisávamos fazer aquilo. 

  —  Eu não fiz nada!

— E te garanto que não fazer nada é fazer muito. Poderia ter me impedido...mas não impediu. 

— Vini queria nos matar!

— Então, pronto! Aguente! Se quer dizer a verdade para a polícia e pagar para ver como será tratada pelos seus seguidores, então terei de dizer uma coisa: o seu pesadelo começará e nunca chegará ao fim.  

Meu Deus! Os três pares de olhos nunca me deixaram em paz. Matheo morreu por minha causa e aquela garota que só precisava de um  pouco mais de atenção estava morta, sem ter a chance do arrependimento. 

 

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