Um pedaço de folha branca, escrita com a mais brutal intenção. A culpa já instalada dentro de mim parecia não ser suficiente para me fazer sofrer. Amassei o papel e chorei calada, temendo o pior. Se algo acontecesse com Noah, eu jamais me perdoaria e ficar de braços cruzados estava longe da minha intenção.
Retornei para dentro de minha casa, sentindo calafrios e um medo terrível, imensurável. Encontrei minha mãe degustando uma taça de vinho e chorando.
— O que aconteceu, mãe? — perguntei, preocupada. Minha mãe estava usando seu pijama verde, com corações também verdes, mas num tom mais escuro.
— Lis, não foi nada, minha filha. E a doutora Carmem? Eu nem a vi sair, peguei num sono profundo e só acordei agora.
— A senhora está chorando, não mude de assunto, pelo amor de Deus! — aumentei a minha voz, pois eu não sabia o que fazer em seguida e deixar minha mãe sozinha naquele apartamento estava me enlouquecendo.
— Tive uma briga boba com George, só isso.
George era o namorado de minha mãe. Os dois se conheciam desde a faculdade e após duas décadas, reencontraram-se e decidiram namorar. Eu apoiei o relacionamento imediatamente, mas nunca me atentei à personalidade de George.
— Ele a traiu? — questionei com o mais óbvio entre os casais.
— Sim — ela consentiu e começou a chorar mais ainda, deixando a taça sobre a estante ao seu lado.
Abracei minha mãe e puxei delicadamente sua cabeça até meu peito. Eu precisava ser forte e era uma tarefa quase impossível, se eu não estivesse me esforçando tanto.
— A senhora vai dormir, porque precisamos acordar amanhã cedo e saudáveis — falei e a incentivei a me acompanhar para o seu quarto.
Eu a vi se deitar com os olhos e nariz vermelhos. Voltei para o meu quarto e encontrei meu celular sobre a cama. Peguei-o e tentei ignorar as notificações do Instagram.
Talvez, aquela pessoa que sequestrou Noah tenha deixado alguma mensagem em meu direct.
Sentei-me sobre meu colchão e chorei como nunca. Solucei e joguei meu celular contra a parede com toda força. Ele se despedaçou na minha frente. A força foi resultado de tanta dor que sentia. Se acontecesse algo com Noah, eu nunca me perdoaria.
Só preciso vê-lo vivo e feliz com seu filho nos braços, somente isso. Meus lábios sagraram ao mordê-los.
Saí de meu quarto e fui até a sacada, apoiei-me sobre o parapeito, querendo me jogar dali. O meu vizinho do lado escutava música oriental e aquele som instrumental conseguia acalmar minha dor.
A época de Natal só me dava esperanças. Já era possível ver alguns apartamentos enfeitados e os pisca-piscas só me faziam recordar de uma infância que jamais retornará.
Cansei de enxugar minhas próprias lágrimas e voltei para a sala de estar, encontrando o celular de minha mãe.
Algumas chamadas perdidas de George. Eu as ignorei e digitei o número de Christian, mas ele mudou o seu número de contato, então criei a coragem de ir até sua casa.
Chamei o motorista de aplicativo e chorei a viagem inteira, rezando para que Noah não estivesse sofrendo.
Mais de uma hora de viagem e finalmente cheguei em frente à sua residência. Desci do veículo e apertei a campainha.
Danúbia me atendeu e surpresa com minha visita, convidou-me para entrar.
— Minha filha do céu, o que houve? Por que está aqui numa hora dessas? Já são onze horas da noite.
— Desculpa, é que eu precisa ver Christian.
Danúbia engoliu em seco.
— Filha, o Christian não está mais morando aqui.
Um golpe certeiro em meu estômago.
— Não precisa mentir, mãe...— ele estava descendo as escadas e senti um alívio. Ele usava uma calça moletom cinza e uma regata branca.
— Que merda você faz aqui, sua lunática?
Aquelas palavras ríspidas cortaram meu coração.
— Não fale assim com ela, Chris!
— Mãe, pode nos deixar a sós?
— Vou, mas não é para expulsar a garota, está me ouvindo? — Danúbia trancou a porta atrás de mim. — E a senhorita não vai sair daqui hoje. Não quero saber de você sozinha nesse horário — ela me alertou e subiu as escadas, levando a chave consigo.
Christian cruzou os braços e me encarou, com o semblante cerrado.
— O que você quer? Sinceramente, não temos mais nada.
— E nunca mais vamos ter — digo, pensando nas palavras seguintes.
— Então, me deixa ser feliz, Lisandra. Realmente, estou conhecendo uma pessoa legal e ela só está aguardando meu sim.
— Estou aqui para pedir ajuda. Porque eu sinto falta da sua amizade, do seu apoio. Não importa se outra garota vai estar em seu coração, mas eu preciso de você. Não me negue sua amizade.
Ele veio até mim e segurou delicadamente minhas mãos, conduzindo-me para um dos sofás.
Ajoelhou-se na minha frente e me olhou com aqueles olhos escuros e brilhantes.
— Ok. Me diga do que precisa.
— Você soube do incêndio?
— Sim, e pode me achar insensível, mas eu fiquei do lado do hospital, querendo saber sobre seu estado mesmo corroendo aqui dentro — ele apontou para o próprio coração. — Mas minha mãe me ajudou e sem precisar perturbar sua paz, eu sempre quis saber como estava seu estado e o de Gaby. — ele mordeu o lábio inferior e vi seus olhos lacrimejarem.
— Aquele incêndio e mortes foram causadas por mim — revelei, sem me aguentar.
— Não...— Christian não queria acreditar.
— Sim...Gaby acendeu o fósforo e tudo explodiu na nossa frente. Agora Noah está pagando pelo nosso pecado. Algum familiar está querendo se vingar de mim e Noah está com ele, pronto para morrer. Preciso que me ajude a tomar a decisão certa. Como faço para salvar Noah?
Christian juntou as duas sobrancelhas e me abraçou, sentando-se ao meu lado, afagando meus cabelos em seu peito.
— Noah não vai morrer, eu prometo.
CONTAGEM REGRESSIVA!!!
FALTAM SETE CAPÍTULOS!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Na Mira do INSTAGRAM
Teen FictionLisandra é uma adolescente que não compreende o porquê das pessoas seguirem outras e admirá-las, como se fossem intocáveis, entretanto, ela não se dá conta de que também faz parte desse mundo e sempre está de olho nos passos de seu cantor favorito q...