Adormeci sobre a cama, pude esquecer um pouco das coisas ruins e reais. Eu estava dentro de uma bolha e para estourá-la, eu não conseguia encontrar a agulha certa. Deitada de lado, do lado oposto da porta, ouvi o rangido dela sendo aberta e quase tive um impulso de me levantar, mas me contive, fingindo dormir. É necessário manter a calma para fugir.
Uma mão mais fria que a minha pele me tocou o lado do rosto e estremeci, sem saber de quem se tratava. Acredito que seja Matheo. Mas só terei a certeza quando puder ouvir sua voz.
- Pilantra, maldita, merdinha...- era uma voz feminina e estava perto demais do meu ouvido. Não tive coragem de me mexer, porém era difícil me manter completamente impassível. Demorei um pouco para processar aquela voz e a imagem de Miriam veio à minha mente.
- Acorde, sua vaca, acha que vai roubar Isaac de mim, é? - ela continuava e me sacudia, apertando meu braço. - Se não abrir esses olhos, eu vou te cortar inteirinha, estou com uma tesoura afiada e vou acabar com você.
Me virei num impulso e nossos olhos se fitaram; os dela estavam imbuídos de ódio e ela chorava, apontando uma tesoura em mim. Rolei para o outro lado e pensei em fugir, mas ela me ameaçava com a tesoura e não consegui mais ser corajosa, imaginei sendo perfurada por aquele objeto pungente e uma dor me incorporou inteiramente.
- O que você quer comigo? - falei, recuando.
Miriam franziu o cenho e comprimiu os lábios. Aproximou-se de mim e me mandou ficar calada e não fazer nada para impedi-la de cortar meus cabelos.
- Se não me obedecer, vaca, então irei não só machucar você, como também farei o mesmo com Isaac. Ele está sob meu domínio e poderei fazer o que eu quiser com ele. Do amor ao ódio. Ajoelhe-se! - ela gritou e segurando todas as lagrimas e dores para não me fraquejar diante dela, ajoelhei-me devagar.
- Se ousar me tocar, juro furá-la, sua merdinha - ela me alertou, fazendo a ponta da tesoura encostar em meu pescoço.
Permaneci em silencio e temi o pior quando ela começava a puxar meus cabelos violentamente e passava a tesoura neles. Aquilo foi muito forte e intolerável. Chorei como uma criança e solucei, imaginando as mechas de meu cabelo no chão. Aquilo me assemelhava a um pesadelo e logo acordaria, encontrando todos meus fios novamente no lugar.
- Agora Isaac vai gostar de mim e você não significará nada.
Miriam falava como se estivesse a base da loucura. Ela gargalhava e chorava, orgulhosa por me humilhar. Ela pegava alguns fios do chão e simulava um bigode.
- Otária! Você é horrorosa! Isaac só vai querer usá-la e depois jogar no lixo, o seu verdadeiro lugar!
Ela me deu um tapa na cara e cravou a tesoura no colchão ao nosso lado.
- Minha vontade é de matá-la, mas a merda do Matheo se interessou por você!
Ela subiu sobre mim e começou a me estapear alternadamente. Eu ouvia e apanhava, resignada.
- Isaac vai te levar para cama e depois vai te chutar, como se não fosse nada.
- Só porque ele fez isso com você? - rebati, não aguentando mais permanecer calada, sem ter condições de me defender. Meu pulso estava quebrado e minha outra mão estava sendo esmagada pelo seu joelho.
- Maldita! - Miriam se ofendeu e apertava meu pescoço.
- Pare, Miriam! - berrou Matheo, tirando Miriam sobre meu corpo e a repreendendo, jogando-a para fora do quarto. Virei-me de lado e tossi, recompondo-me em busca de ar.
Matheo me ajudou a se levantar e a sua expressão de pasmo demonstrava o quanto ele estava arrependido por me ver naquela situação. Seus olhos alternavam entre a tesoura cravada no colchão e nos fios de cabelo espalhados no chão.
- Me perdoa, Lisandra, eu não queria que acontecesse com você. E-eu...nã..não sei o que dizer ou fazer para...
- Me tire daqui! Tenha piedade de mim e me devolva à vida! - cortei-o, desesperada. Sacudi seus braços, implorando por ajuda. Eu não aguentava mais aquilo.
Ele me abraçou e chorei aos soluços, batendo em seu peito.
- Por favor, Matheo...
- Me perdoa, Lis...
Abraçados, agachamos ao chão e me desmontei em um choro constante. Ele me pedia calma e prometia não deixar ninguém mais me machucar.
- Nós vamos sair daqui vivos, eu prometo, Lis - ele garante, suavizando seu abraço.
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Novela JuvenilLisandra é uma adolescente que não compreende o porquê das pessoas seguirem outras e admirá-las, como se fossem intocáveis, entretanto, ela não se dá conta de que também faz parte desse mundo e sempre está de olho nos passos de seu cantor favorito q...