Capítulo 3

5.7K 451 18
                                    

O homem me olhava com aquela cara asquerosa de desejo. Aff! Ser imundo! Eu o odiava mais que tudo.

Peguei duas malas, minha e da minha filha. Coloquei em cima da cama e sob os olhares intensos dele eu comecei a arruma-las, comecei pela da Rebeca, era tão dolorido separar da minha filha, eu estava quase tendo infarto, poucas vezes eu ficava longe dela. Minha mãe algumas vezes a pegava para passar uma semana com ela, mas eram raras vezes.

Agora, eu tinha que deixá-la para poder preservá-la. Terminei de arrumar tudo, o homem estava sentado na cadeira e me olhava atentamente.

O sol já estava raiando, quando saímos de casa, ele carregava as malas e eu segurava minha filha no colo. Na rua tinham dois carros pretos parados, realmente aqueles criminosos não estavam para brincadeira.

Voltar aquela vida que eu tanto odiava, fazia-me sentir a pior mulher do mundo. O homem abriu a porta de um dos carros e entramos, outro homem muito forte pegou nossa bagagem e colocou no porta malas.

Seguimos em silêncio até Rebeca acordar.

- Pa onde nós vamos mamãe? - Ela falava confusa. Minha bonequinha tinha quase três anos, era esperta e falava tudo.

- Nós vamos para a casa da vovó! - Falei com meu coração entrecortado.

- Quem é "exe" homem?

- Digamos que amigo do seu pai! - Ele respondeu antes de mim.

- Você tem a voz engaçada igual a do meu pai. Eu vo ver meu papai? Mas a vovó diche que eu não podia falar pa mamãe quando eu fo ve ele!

- Como é que é Beka? - Será que eu estava entendo o que ela queria falar.

- Opa! - Ela ficou sem graça e desconfortável.

- Pode contar para sua mamãe, seu pai disse que já pode! - O homem sorria debochado olhando minha cara de espanto.

- O papai diche que eu não podia falar pa mamãe, xinão ela ia ficar muito brava e não ia deixar eu nunca mais ve ele.

Os olhinhos verdes dela eram intensos. Que filho da puta! Ele encontrava minha filha escondido de mim!

- Pode contar minha princesa, a mamãe não vai ficar mais triste. - Tentei agir naturalmente, embora por dentro eu estivesse com ódio mortal da minha mãe.

- Quando eu vo pa casa da vovó, eu paxava um monte de dias com ele e com a vovó. Mas era nosso seguedo. Mas a vovó diche que ele foi morar no céu e que eu não vou pode mais ve ele.

Ah bando de desgraçados! Como eu vou deixar minha filha nas mãos de uma mulher que sempre me enganou? Vendia-se por dinheiro? Meu coração estava aflito, estou entre a cruz e a espada.

- Oh meu amor! - Eu a abracei, pelo visto os traficantes sabiam de tudo.

- O papai voltou do céu mãe? - Ela perguntou, e eu nunca pensei que essa pergunta pudesse mexer tanto comigo.

- Não meu amor! - Ele devia está ardendo mais era no inferno, pensei.

- Poque eu vou pa vovó então?

- A mamãe vai ter que fazer uma viagem muito longa.

- Eu não poxo ir?

- Não, você não pode porque lá não tem crianças e a mamãe vai trabalhar.

- Mas eu...

Os olhinhos dela encheram-se de lágrimas, fazendo meu coração se partir em milhões de pedaços.

- A mamãe vai te ligar sempre, e quando eu terminar o trabalho, eu volto e nós vamos podermos viver felizes para sempre tá bom?

- Igual duas princesas? - Os olhinhos dela brilhavam de alegria.

Prisioneira do Tráfico (Livro 1) Onde histórias criam vida. Descubra agora