Prisioneira do Tráfico (Livro 1)

Capítulo 2

O homem sorria ainda glorioso.

- Vou te soltar, mas já sabe... nada de gritos, caso contrário, sua filha pagará pela sua imprudência.

- Eu conheço gente da sua laia! Eu não colocarei minha filha em perigo!

Ele começou a desamarrar as cordas que me prendiam, e eu o olhava enfurecida.

- Vista sua roupa! - Ele me comia com os olhos. Psicopata!

Abri meu armário, e peguei uma calça jeans e uma camiseta, fui para o banheiro me trocar, antes que eu entrasse no mesmo ouvi o homem asqueroso:

- Cadê seu celular?

- Em cima do criado mudo.

Ele assente e eu entro, tranco a porta e me permito chorar... choro muito... e começo a relembrar o dia que mudou minha vida drasticamente...

- Eu quero que ela seja a responsável pela ONG! - o sotaque castelhano daquele homem moreno claro, olhos claros, pele bronzeada, fez todo meu corpo estremecer.

Estávamos no segundo ano da faculdade de educação física, tínhamos ido em uma comunidade carente do Rio de Janeiro para realizar um projeto para as crianças carentes, levar várias modalidades de esportes para a comunidade.

Diogo, se apresentou como empresário financiador do projeto, nós ingênuos, acreditamos. O que não sabíamos é que o homem bem vestido, culto e educado era o chefe do tráfico na região.

Ele me cercou de todas das formas, eu com então vinte anos, me entreguei aos encantos daquele homem experiente dez anos mais velho que eu.

O começo era tudo um mar de rosas, um ano de namoro, um ano de conto de fadas. Eu realmente achava ter encontrado o meu príncipe encantado, eram viagens internacionais, passeios de iate, restaurantes caros, roupas de grife, tudo um completo sonho.

Um ano depois ele me pediu em casamento no seu iate em alto mar, foi tão romântico, me entreguei como uma idiota apaixonada. Casamos no mês seguinte. Tinha muito orgulho de ser chamada de senhora Sara Martínez.

Só não pensava que depois do casamento ele ia mudar da água para o vinho, como todos os bandidos fazem. Nós morávamos numa mansão luxuosa na Barra da Tijuca, de frente para o mar. Quando discutíamos por causa dos segredos que ele escondia de mim, eu ficava no nosso quarto, perdida nos meus pensamentos, olhando para a imensidão do mar...

Meses depois ele recebeu a notícia que o pai dele havia falecido, vi um misto de tristeza e rancor estampados no rosto dele.

- Eu sou sua esposa! Eu tenho que lhe acompanhar! - Começamos a discutir novamente, pois ele não queria me levar ao velório do seu pai.

- Não, eu já disse que não! Minha família não presta, melhor você ficar no anonimato, é mais seguro para você!

- Você tem vergonha de dizer que casou com uma brasileira? - Meus olhos eram cheios de decepção.

- Claro que não! Por favor confie em mim! Eu amo você, eu só quero protegê-la.

Depois de muita discussão, ele partiu. O que eu não sabia era que ele viria transformado daquela viagem, ele era outra pessoa. Nervoso, bravo, agressivo.

Certa vez eu cheguei da faculdade e o peguei em uma reunião com os traficantes de várias favelas. Meu sangue congelou, descobri que o meu esposo distribuía droga para toda a região.

Ele ficou furioso com a minha descoberta, e a nossa vida se transformou. Eu queria o divórcio, ele me ameaçava e me bateu pela primeira vez quando eu arrumei as malas para ir embora.