1.31 |Emerie

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Uau. Tipo realmente uau era a única frase, o único som que eu poderia reproduzir observando ele se trocar, de maneira tão graciosa e atraente. Tão formoso vestindo a camisa branca, vestindo a calça jeans e fechando a fivela do cinto. Ah. Tantos pensamentos e lembranças com meu anjo, tantas memórias que pretendia guardar dele, de nós dois.

Gael estava passando as mãos no cabelo quando me dei conta de que ele já estava devidamente vestido enquanto eu ainda estava nua, enrolada numa toalha e sentada sobre a cama perdida demais nos meus pensamentos e na magnífica imagem do meu anjo se vestindo. Engoli em seco ao lembrar de que ele não estava usando cueca, bom segundo meu anjinho suas roupas literalmente apareciam do nada, tipo um kit angelical, ou algo do tipo. Porém, ao que parece a cueca não estava incluída nesse kit. Uma mera coincidência para os meus planos.

O que ele não sabe é que, a peça que misteriosamente faltava eu já tinha pego muito antes dele perceber. Oras, devemos fazer o necessário para que nossos objetivos deem certo, e no caso os meus estavam dando mais do que certo. Por que choras Gael?

- Você vai assim? - Sua voz me despertou. - Olha não me leve a mal, mas eu prefiro você nua apenas para mim.

Mordi o lábio deixando escapar um sorriso. Levantei e totalmente ciente de seu olhar deixei a toalha deslizar pelo meu corpo. Meu anjo suspirou.

- Tão ciumento. - Peguei o vestido de tom azul claro do cabide, um tecido fino e confortável adequado para um jantar em família.

O fecho do vestido era um pequeno zíper na região das costas. Tão óbvio.

- Você pode me ajudar anjinho? - Ele já estava lá. Pronto atrás de mim, meio hesitante fechando o zíper.

Senti seus dedos encostando minha pele causando um arrepio familiar na minha coluna. Em seguida seus lábios na minha nuca. Um beijo leve e doce.

- Você ainda não vai me contar em que lugar vamos? - Perguntou meio rouco.

- Ainda não.

As estrelas brilhavam no céu quando saímos com o carro. Por mais que eu não quisesse admitir seria hipocrisia eu dizer que não estava nervosa, porque eu estava. Muito. As borboletas dançavam na boca do meu estômago, mas não as mesmas que causavam a sensação gostosa quando eu estava com meu anjinho. Essas eram desconfortáveis. Será que Gael sentia o meu medo? Ele apertou a minha coxa como se respondesse. Nenhuma de suas perguntas ou comentários estavam relacionadas aos meus sentimentos, provavelmente ele não os entendia considerando que nem eu mesma era capaz de fazê-lo.

As coisas estavam tão diferentes ultimamente, tão confusas e eu diria estranhas. Talvez por esse motivo eu tenha aceitado jantar com meu pai. Na casa dele. Com a família dela. A casa que um dia eu morei, a qual eu tanto odiei por mil questões diferentes. O trauma da perda da minha mãe ainda doía, agora menos. Agora eu tinha alguém que realmente se importava comigo, com a minha vida. Com a Emerie e não apenas a garota que perdeu a mãe. Ele me amava, eu sabia.

A ligação do meu doador de esperma me pegou de surpresa, não que eu não esperasse seu sinal de vida mais cedo ou mais tarde, porém não esperava um pedido educado e triste para que eu fosse jantar na casa dele. Foi tão repentino que eu não soube o que dizer, tão pouco sentir. No fim das contas acabei cedendo e aceitei. Evidentemente não fiz isso por ele, mas por mim. Pela minha mãe.

Angeline nunca quis que eu o odiasse, mesmo depois de toda merda, de toda dor ela ainda queria que nós tivéssemos uma boa relação de pai e filha. Embora ele não, já que em poucos meses depois se casou e adotou os dois filhos de sua nova esposa como seus filhos esquecendo completamente da garotinha que abandonara com sua primeira e magnífica mulher. A ausência dele nunca me fez falta, minha mãe se encarregou de ocupar o espaço dele na minha vida, porém somente depois dela perceber que ele não faria qualquer obrigação comigo, minha mãe fez o papel dele. No fim acho que ela sempre soube que ele havia ido embora de vez deixando ela e eu.

E quando ela morreu, eu não tinha ninguém e então meu pai apareceu dando uma de herói e pela primeira vez pai. Me levou embora, contra minha vontade até mesmo contra a dele. Então não é fácil encarar ele, muito menos sua família perfeita e meus meio-irmãos. Quando eu fui embora daquela casa não foi somente por conta da babaca e infantil da minha "irmã" mas porque eu realmente não aguentava viver naquele lugar fingindo que estava tudo bem, que tudo ia passar e melhorar. De certa forma até melhorou.

Não tentei mais suicídio, parei de me machucar não apenas fisicamente mas com uma tortura mental que me dizia todos os dias que eu não era ninguém e não valia porra nenhuma. Minhas crises cessaram, meus choros angustiantes secaram e tudo isso graças ao meu anjo que muito antes de eu saber já estava cuidando de mim com todo amor e carinho que podia ter.

Parei o carro. A luz dos faróis iluminavam a fachada da enorme residência. Gael não disse nada. Ele sabia de quem era aquela casa.

Sua mão deixou a minha coxa e subiu até o meu pescoço numa carícia reconfortante. Fechei os olhos, uma pequena lágrima escorreu pela minha bochecha.

- Você tem certeza? - Perguntou, beijando minha garganta. - Não precisamos faz-

- Tudo bem. Eu consigo Gael. - Olhei para ele, seus olhos brilhavam tão cheios de paixão. - É só um jantar anjinho.

Ele assentiu abrindo um sorriso.

- Você quer que eu volte? Digo, quer que fique na minha forma de anjo?

Encostei nossos lábios, nossos narizes se tocando leves como uma pluma.

- Não. Quero que você fique comigo anjinho, a não ser que você esteja com medo de conhecer meu pai. - Sua risada, foi interrompida pela minha boca.

Descemos. Estávamos na porta, eu ia apertar a campainha quando meu anjo interrompeu segurando minha mão. Olhei curiosa e artodoada para ele. Gael estava rindo.

- Posso te dizer uma coisa antes de entrarmos Emerie? Ou melhor, confessar uma coisa.

- Sim?

- Eu sei. - Sua mão ajeitou um fio de cabelo rebelde atrás da minha orelha.

- Sabe?

- Eu sei que você escondeu minha cueca. - Corei. - Não se preocupe, fiquei tentado a fazer o mesmo com sua lingerie, mas como sempre você é mais esperta e nem a colocou.

Meu pai abriu a porta. Gael se ajeitou. Fiquei inerte olhando ele cumprimentar meu progenitor de maneira educada. Podia sentir meu rosto vermelho quando olhei para homem na minha frente sorrindo, oscilando seu olhar entre mim e meu anjo.

- Que bom que veio Emerie e... acompanhante da Emerie?

-Namorado. - Corrigi, passando pela porta.

- Namorado? - Os dois pergutaram em uníssono. Gael corado numa tosse forçada. Ignorei.

- E então quando vamos comer? Estou faminta. - O anjo se juntou ao meu lado. Meu pai na nossa frente nos guiando. - Embora Gael não possa dizer o mesmo já que ele comeu antes de sair de casa.

A vez do meu pai tossir, engasgado com a própria saliva. Meu anjinho ficou ainda mais vermelho. Não pude evitar rir.

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