2.17 |Emerie

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Era uma terça de manhã quando Phillip declarou a minha alta. Eu estava no quarto da Jade, me despedindo da garota que me fez companhia durante aqueles dias exaustivos no hospital. Ela estava deitada na cama, sua pele extremamente pálida e suas olheiras profundas embaixo dos olhos não impediram que a garota abrisse um sorriso enorme ao me ver andando com as minhas próprias pernas após longas sessões de fisioterapia, Phill me olhava do mesmo jeito analisando o meu caminhar lento.

- Eu sabia que você ia conseguir. - Ela disse baixinho. Jade teve uma crise forte durante o fim de semana, o que ocasionou a piora do seu estado. Ela estava mais fraca do que eu já tinha presenciado.

- Você também vai. - Me aproximei lentamente, deixando um beijo no topo da sua cabeça lisa. Ela sorriu, percebi que ela não botava fé no que eu dizia. - Vai sim Jade. Você é tão forte quanto eu.

- Sua amiga chegou, Emerie. - Phillip interrompeu, ela lançou um agradecimento silencioso pra ele, não deixei isso passar despercebido. Algo estava errado.

- Você sentir sua falta, Eme. - Resmungou baixinho nos meus ouvidos quando eu me inclinei para abraça-la.

- Também vou sentir a sua, e é por isso que você tem que sair dessa. Preciso de você lá fora. - Respondi, permitindo que uma pequena lágrima escorresse pela minha face. - Não ouse morrer.

- Vá logo, não se preocupe comigo. - Ela interrompeu o meu protesto. - Você tem alguém te esperando, não o deixe escapar pensando em mim.

- Não seja boba ao dizer isso, é claro que vou pensar em você. Ter você ao meu lado durante esses dias foi importante Jade, não vou te esquecer tão fácil. - A garota sorriu em agradecimento, olhei seu rosto jovem marcado pela doença que abrangia o organismo dela, tentei não pensar nisso enquanto dava um último beijo em sua testa.

Mary nos afastou me puxando delicadamente,a enfermeira deixou que eu passasse meu braço em torno do seu como apoio, nós estávamos indo em direção a porta quando a Jade sussurou me nome, me voltei pra ela.

- Não o deixe escapar, Eme. - Gotas salgadas escapavam dos seus olhos, mas o sorriso permaneceu em seus lábios. - Fique com ele.

Assenti quieta, eu sabia de quem ela falava. Nós saímos a tempo de ver Phill colocando uma máscara de oxigênio nela, eu não sabia o que estava acontecendo só esperava que ela ficasse melhor logo pra poder fazer parte da minha vida do lado de fora. Mary sabia o que ela tinha, mas nunca me falou, nem mesmo Phill me deu uma dica. O máximo que eu deduzi é que ela tinha câncer, eu só não sabia qual e o quão ruim era.

O elevador parou no térreo, Mary ficou comigo enquanto andávamos pelo saguão, avistei Ayla de longe, não tinha como não vê-la. Ela estava dando pulinhos histéricos acenando com os braços pra cima, de repente seguia rapidamente na minha direção, nossos corpos se encontraram com força, cambaleei para trás mas Mary apoiou uma mão nas minhas costas.

- Tenho uma supresa pra você. - Comentou abraçada a mim, me afastei o suficiente pra ver seu rosto. - Está em casa.

Franzi a testa, particularmente eu não era fã de surpresas. Ela sabia disso, seu rosto não entregou nada nem um vestígio do que me esperava. Soltei dela para me virar pra enfermeira que sorria e chorava me analisando.

- Obrigada Mary. - Falei, abrindo o mais largos dos sorrisos, embora eu estivesse meio triste. - Desculpa ocupar seu tempo com as minhas crises.

- Ah, garota. - Ela riu grudando o meu pescoço com seus braços curtos. - Estou muito orgulhosa de você. Sei que sua mãe também está.

Mais uma vez eu chorava, em geral me sentia como uma patética quando me permitia chorar na frente dos outros, porém hoje eu me sentia grata e feliz por todas as pessoas que de alguma forma me ajudaram e acreditaram em mim. Era um sentimento que eu nunca tinha sentido antes.

- Lembre-se do que eu te disse, viva sem pensar no seu passado. Reescreva sua história, Emerie. - As mãos dela estavam nas minhas bochechas, seu polegar limpando minhas lágrimas. - Seja feliz Emerie, você merece isso.

Agradeci mais uma vez, e logo após um beijo dela na minha testa Ayla me levou até o carro empolgada. Ela parecia mais feliz do que eu e com certeza sua alegria espontânea tinha a ver com a supresa que ela preparou em seu apartamento o qual serviria como meu lar até eu me estabilizar e acostumar novamente com a rotina.

- Não vai adiantar perguntar o que é a supresa né? - Perguntei, fechando o cinto de segurança no banco do passageiro. Ela olhou pra mim antes de dar partida no carro.

- Não é o que, é quem. - Respondeu, a chave virou e ligou o veículo. Ayla não disse mais nada após isso, o que só aumentou a pulga atrás da orelha.

Cerca de quarenta minutos depois, devido ao trânsito encurralado, nós chegamos no apartamento. A empolgação dela estava me deixando inquieta, mas ignorei isso até pisarmos no andar em que ela morava.

- Primeiro. - Ela colou a chave na tranca. - Teoricamente eu não tenho nada a ver com isso, foi um surpresa pra mim tanto quanto é pra você.- A chave girou, a porta se abriu. - Segundo, surpresa!

Antes que eu me desse conta do que era, senti braços fortes me envolvendo. O cheiro de loção masculina preenchendo as minhas narinas. Ele me puxou contra ele, afundando sua cabeça no meu pescoço.

- Você cresceu. - Aquela voz familiar ao mesmo estranha e esquecida falou. Eu conhecia aquela voz, fazia anos que não ouvia. Me afastei dele pra olhar seu rosto e ter certeza de quem era.

- Matheo? - Perguntei incrédula. De fato era uma surpresa reencontrar meu ex-namorado da infância e ex-vizinho. Ele sorriu observando meu rosto, um sorriso genuíno com dentes perfeitamente alinhados.

- Senti sua falta também, sininho.

Acabei rindo agarrada ao seu pescoço do apelido infantil que ele me deu, justamente por me achar parecida com a minha personagem preferida da Disney quando tinha oito anos. Os cabelos loiros e a pele clara faziam jus ao apelido na época.

- O que você está fazendo aqui? - Indaguei, após me afastar definitivamente. Mateo deu de ombros, pensativo.

- É uma longa história. - Suspirou. - Mas resumindo, minha família voltou pra cá. Então por pura coincidência, encontrei Ayla a alguns dias atrás aí perguntei de você. - Ele me olhou deixando claro que sabia o que tinha acontecido comigo. - Sinto muito por não estar aqui.

- Obrigada, mas já passou. Não há mais nada para se lamentar. - Ele anuou e me puxou pra ele mais uma vez.

Abracei seu quadril, enquanto os braços dele envolviam meu pescoço. Matheo tinha sido um amigo muito querido durante a minha infância e um pouco da adolescência, nossas mães eram grandes amigas na época, até a minha morrer e alguns anos depois a família dele se mudar. Desde então nunca tínhamos tido contato.

A campainha tocou, Ayla avisou que iria atender. Matheo apoiou suas mãos no meus ombros, olhando pra mim com toda saudade daqueles longos anos separado, ele sorriu mais uma vez e eu também. Ayla voltou pouco depois, pelos sons dos passos deduzi que ela não estava sozinha. Olhei pro lado quando ela chegou acompanhada pelo... Gael?
Era ele, ele estava aqui mesmo com o meu pedido. O olhar dele oscilou entre mim e o rapaz que me abraçava, não pareceu muito satisfeito com a visão, seu sorriso foi se desmanchando aos poucos entendendo totalmente errado a situação. Puta merda.

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