2.32 |Emerie

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- DESCULPA. - Gritei, na esperança de que ele escutasse, as pequenas gotas que desciam do céu começaram a nos molhar. Ele estava do outro lado da rua, virado de costas para mim. Repeti, ainda mais alto desejando que a minha voz não fosse abafada pelo som dos trovões. - DESCULPA GAEL!

Ele parou por um instante e então virou devagar pra mim, desacreditando da cena. Meu coração palpitou mais rápido, quase saltando da minha boca. Eu estava errada, estava sendo orgulhosa, egoísta e uma babaca. Uma tola por deixar ir embora a única boa que tinha me acontecido. No instante em que Gael saiu eu me arrependi, saber que ele estava partindo por minha causa doía mais do que a agonia que arrasava o meu peito. Eu não queria isso, não queria acabar com tudo mas o orgulho e arrogância estavam me guiando para aquilo, fazendo com que agisse de maneira errada, tomando as decisões erradas. Escolhendo o caminho oposto ao qual eu deveria seguir.

Gael continuou parado em silêncio, seu rosto estava úmido pelo chuvisco, mas tenho certeza ser mais do que isso. Ele não disse nada, permaneceu com aquela expressão serena quase como de dor. Impassível e terrivelmente quieto. Minha mente dizia pra fazer alguma coisa, dizia pra ir até ele ou continuar gritando infinitas desculpas para tentar concertar o meu erro, o estrago que causei sozinha.

- Desculpa. Desculpa. Desculpa. - Repeti aos berros. As palavras saindo ser ordem da minha boca, repetidas, incessantes e irrefutáveis.

Gael não fez nada a não ser me olhar, vazio, sem nada a oferecer e eu não o culpava por isso. Ele deu um passo até o meio fio, não era necessário que eu gritasse por isso parei entendedo sua brecha. Sua feição não mudou, mas percebi o suavizar da sua testa esquecendo-se de franzir como sempre fazia quando não ouvia bem ou estava confuso e atordoado, penso que nesse caso foram todos esse fatores.

- Estou com medo. - Comecei, respirando fundo. - Estou com medo de deixar você, sou uma covarde egoísta e sei disso. Sou orgulhosa e na maioria das vezes imatura, então perdoe-me por estar agindo como uma mais uma vez.

Não houve resposta. Apenas o som do despencar da chuva que aumentou, em gotas pesadas caindo de forma violenta contra o chão duro.

- Estou estilhaçada e não sei como concertar isso, sei que não é desculpa para o que fiz. Perdoe-me por ser tão egocêntrica pensando apenas em mim, mas passei minha vida toda fazendo isso. Não estou acostumada com gestos de amor e carinho, fico assustada pensando em como isso pode acabar ou pode ser apenas um sonho o qual vou acordar num instante. Tenho medos e demônios que me assombram todos os dias. - Gael não olhava pra mim, seu olhar estava fixo nos meus pés. Concentrado-se apenas nas minhas palavras e evitando meu rosto. - Mas quando você está comigo. Quando você diz que me ama, não apenas com palavras, mas quando seus olhos revelam isso, essas assombrações param. Elas somem.

Sua face se ergueu. Ele me olhou.

- Sinto-me sufocada, à deriva e não faço a menor idéia de como fazer isso parar. - Um raio cortou o céu com sua luminosidade e o ruído como se partisse as nuvens ao meio. - Quando estou prestes a desabar, a cair no mesmo penhasco de novo, você aparece. Você me salva e eu o amo por isso. Eu amo você Gael, desculpe não ter falado antes, mas eu temia não poder te deixar se dissesse e agora entendo que não posso.

Isso era estranho. O céu parecia chorar junto comigo e era um horror.

- Desde que você chegou Gael, eu tenho pensado em viver. Entende o que isso significa? Significa que não quero, não tenho aquele desejo repugnante pela morte porque sei que tenho você. Eu tenho outro coração além do meu e me arrependo amargamente por ter machucado ele.

Ele dou outro passo e uma explosão de sentimentos confusos explodiram em mim.

- Não é sua culpa o que aconteceu, sempre soube disso mas de alguma modo não consegui evitar sentir raiva e mágoa, não de você, mas de mim. Ainda mais agora, logo depois de ter falado tanta merda pra você sendo que a única coisa que você fez foi tentar me proteger, cuidar de mim como tem feito desde o hospital. - Minha voz era um som estrangulado. - Desculpe. Perdoe-me. Entendo se não quiser voltar a me ver, entendo se estiver com raiva ou magoado e entendo se não quiser mais saber de mim.

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