Angel In My Life

1.4 |Gael

Gael

Quando fui "criado"- como gosto de chamar - tinha apenas um propósito: cuidar daquele que a mim foi confiado sua vida.

E assim eu fiz por dezessete anos. Cuidei de uma garotinha adorável, durante oito anos de sua vida nunca tive o que reclamar. Ela sempre fora doce e meiga com todos, assim como sua mãe, uma mulher incrível que cuidou e a amou sem depender de ninguém e mesmo que o mundo fosse cruel, essa mãe sempre demonstrara a bondade, muitas vezes oculta nas coisas e principalmente nas pessoas.

Porém, nem tudo é um mar de rosas e o destino pode não ter misericórdia, até mesmo com uma jovem de apenas oito anos. As vezes penso que aquela mulher, aquela mãe que era tão incrível dona um coração imensurável não merecia estar num lugar tão horrendo como a terra, por isso foi levada ao paraíso.

Desde então, a garota doce e meiga que eu conhecia morreu, no dia em que sua mãe foi tirada dela. Naquela noite não foi apenas Angeline quem faleceu, mas sua filha Emerie também.

Ela se tornou fria e com desgosto pela vida. Muitas coisas mudaram na vida dela e eu acompanhei todas elas. Passei muitas noites de coração apertado enquanto suas lágrimas escorriam sem fim pelo seu lindo rosto.

Tive de pensar em mil maneiras diferentes para salva-la de si mesma. Fiz tudo o que estava em meu alcançe para mantê-la viva e saudável. Emerie poderia não saber, mas ao contrário dela sua mãe desejava que ela vivesse. Este foi seu único pedido para mim, que mantivesse sua amada filha sua maior preciosidade, nesta terra pútrida, viva.

Todas as vezes em que Emerie tentava uma maneira de ficar com sua mãe novamente, eu estava lá atrapalhando seus planos. Fazendo com que ela desistisse da ideia ou que de alguma forma desse errado.

O erro de Emerie sempre foi achar que a morte era mais bela que a vida, ela achava que a morte podia curar todas suas feridas mas não, podia oculta-las certamente, mas não cura-las, isto só Emerie podia fazer por si mesma.

Então ela foi crescendo e amadurecendo, se tornando ainda mais formosa, uma de suas semelhanças com sua mãe era com certeza sua beleza.

Emerie era e é uma obra de arte e merecia ser apreciada da maneira certa.

Sempre achei engraçado a forma de como ela escondia seus sentimentos dos outros, sempre fingindo ser a garota que não sente nada, que não chora e que não se importa. O irônico é que essa mesma garota chora ao assistir filmes tristes, principalmente aqueles que tem animais. Dei muitas risadas quando a observei assistindo Para sempre ao seu lado pela primeira vez.

Ela chorou tanto que por um segundo me preocupei se ela não ficaria desidratada se continuasse a chorar de tal forma, para nossa sorte ela sempre fora do tipo que tomava uma boa quantidade de água.

Com o tempo ela aprendeu que para assistir um filme daquele gênero, uma garrafinha de água era sempre bem vinda para acompanhar.

Devo dizer que de tanto observa-la e conhece-la melhor do que ela mesma, acabei me apaixonando por ela, a questão é que não tinha como evitar.

Emerie sempre foi e sempre será a minha maior certeza num mundo repleto de incertezas.

Por muito tempo ela achou que ninguém a amava ou se importava se ela morria ou vivia, ela estava completamente enganada. Eu a amava como jamais amei qualquer outra coisa durante a minha mísera vida de anjo.

Talvez por este motivo nunca consegui deixa-la, porque ela era a coisa mais intensa que eu já senti e ao mesmo tempo a mais difícil de deixar.

A cada dia a mais eu me apaixonava por seus sorrisos sinceros, pela forma como ela adorava contrariar seu pai - que sempre fora um completo babaca.
Me apaixonava pelas danças estranhas que ela fazia quando estava feliz ou pelos choros dramáticos ao assistir um filme. Eu amava cada parte dela. Cada curva e cada marca. Eu amava sua história e quem ela era.

Por isso quando a vi mergulhada naquela banheira sem respirar, entrei em desespero e fiz a única coisa que passou pela minha mente, e a única coisa que fui mandado fazer; salva-la, do mundo, da crueldade humana e dela mesma.

Eu tinha acabado de voltar de uma memória, - eu estava revendo sua trajetória - quando me dei conta de que ela não estava respirando.

Uma das coisas positivas de nossas vidas estarem ligadas é que sempre sei o que está acontecendo com ela. Por isso voltei frenético para o banheiro, a questão é que esqueci de tomar a forma de anjo naquele momento.

Então obviamente Emerie se assustou ao me ver. Não vou mentir, foi bem satisfatório saber que ela me achava "o ser humano mais lindo que ela já havia visto em toda sua vida". Não posso ler seus pensamentos mas posso sentir suas emoções, e com certeza desespero e medo era o menor sentimento que ela sentia naquele momento.

Ri sozinho ao vê-la pegar uma gillete para se defender.

Quem pega uma gillete para se defender de um anjo?

Não a culpei, provalmente se eu fosse uma humana que estava somente de lingerie de renda vermelha - quase esqueci do meu trabalho quando a vi assim - sozinha com um completo estranho no meu banheiro também teria pego a gillete.

Ponto para ela no quesito ideia de como se defender um maluco em seu banheiro.

Eu estava totalmente despreparado para o nosso encontro, em realidade jamais cogitei a possibilidade dela algum dia me ver. Mas enfim, ao que parece houve uma repentina mudança de planos.

Emerie estava muito brava, e muito sexy. O fato dela não estar vestida corretamente me desconcertava, principalmente sob luz de velas o que deixava o ambiente ainda mais inebriante. A única coisa que meu corpo queria era mergulhar no seu, e experimentar seu sabor. Ver o que fazia aquela humana - minha protegida - queimar de verdade.

O que está havendo comigo? Sou um anjo, pelos Céus Gael. Foco.

Estava tão distraído com sua beleza e na forma como era perfeita na maneira certa. - Emerie também não se achava exatamente bonita, um de seus erros que eu sempre achei inaceitável era o fato dela se comparar com outras garotas. Para mim ela sempre foi perfeita na medida certa.

Nunca me importei com sua barriguinha e com suas dobrinhas, - o que ela sempre chamava de pneus. Para mim ela deveria se sentir honrada por ter excesso de gostosura.

Acabei nem percebendo que ela já estava na minha frente esperando eu sair para ela poder se trocar - já que eu estava exigindo isso para colocar os pensamentos em ordem.

No mesmo instante em que ela entrou na sala e ameaçou chamar a polícia, - o que vamos ser sinceros era irrelevante naquela situação, - tive de tomar medidas dramáticas e acabei quebrando a tela de seu celular.

Pela suas emoções sabia que ela havia ficado confusa, não foi atoa que perguntou se eu era algum tipo X-Men.

Como ela não estava facilitando, fui em seu quarto e peguei um vestido florido. Um que eu adorava.

Ela fcou resmungando, dessa vez ao invés de uma gillete estava segurando uma faca.

Acabei soltando sem querer o fato de que sua mãe já havia me alertado de sua teimosia. Isso ela não deixou passar.

Depois de alguns minutos a deixei só para se trocar, mesmo que eu já tivesse visto incontáveis vezes ela fazendo isso. A questão é que meu corpo de anjo não a deseja da forma como meu corpo humano deseja agora.

Não dei um tempo apenas para ela, foi para nós dois.

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