2.4 |Gael

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Ela estava encolhida. Atormentada por sua mente, Emerie não se assustou com o meu toque, com a ponta do meu dedo acariciando suas costas, aquele olhos que temiam o horror dos seus pensamentos encontraram os meus. Ela parou de chorar. Uma sensação estranhamente satisfatória me preencheu. Sua boca sussurrou meu nome, tão baixo que não ouvi, mas percebi seus lábios se movendo.

— Sou eu, Emerie. Sou o Gael. — Afirmei baixinho. Ela me olhou mais uma vez, estudava minha face. Seus olhos inchados passeavam pelo meu rosto. — Estou aqui.

— M-me desculpe. — Seu tom estava embargado pelo choro. E então seus ombros relaxaram, ela desviou seu olhar para o chão. — E-eu não queria acordar você. Eu precisava respirar, precisava de ar fresco, me desculpe.

O tom de tristeza em sua voz partia meu âmago e eu não fazia ideia do motivo, não fazia ideia do porquê meu corpo respondia dessa forma quando eu a via nessa situação. Triste, tão vulnerável.

— Não precisa se desculpar. — Respondi. Ela não me olhou. — Eu não estava dormindo.

— Não? — Confirmei. — Por quê?

— Ultimamente tem sido difícil dormir. Parece que o sono me abandonou. — Percebi seu lábio se repuxar levemente para o lado.

— Eu também não. — Admitiu e em seguida ergueu seu rosto, ela sentou na grama úmida, fiz o mesmo deixando uma curta distância entre nós. — Toda vez que eu fecho meus olhos e-eu volto para lá. Para o acidente. Não lembro muita coisa daquele dia, só lembro de sentir o carro contra mim e então uma dor horrível e depois só escuridão.

— Você não lembra do resto? Ninguém te contou o que aconteceu? — Indaguei confuso. Ela negou. — Então você não sabe...

— Não sei? — A garota me analisava curiosa, a decepção me atingiu ao me dar conta de que ela não lembrava de mim.

— Você sabe quem eu sou?

— Se você está perguntando se eu sei quem é o cara que dorme todos os dias em frente ao meu quarto, que sempre chega atrasado e esconde segredos com a minha enfermeira. Então sim, eu sei quem você é.

Escondi o sorriso apertando meu lábios. Ficamos em silêncio por um tempo, apreciando a companhia um do outro, surpresos com o encontro em que provavelmente ela não imaginou que seria assim, tal como eu.

— Posso te fazer uma pergunta Gael? — A observei de soslaio, seu rosto estava inclinado para o meu com a mesma expressão de curiosidade e desconfiança. Assenti. — Por que você passa todas as noites aqui?

Pensei na pergunta, na possível resposta que eu poderia dar, na verdade não havia resposta porque nem eu sabia o motivo de continuar dormindo no hospital. De começo, era apenas porque me preocupava com ela, porque Emerie havia me tocado de maneira que eu não conseguia explicar. Nos primeiros dias eu não suportava ficar em casa, não conseguia dormir lá sabendo que ela estava internada e eu não sabia como estava ou o que poderia acontecer. Desde então, o sofá do hospital se tornou o único lugar em que eu conseguia, pelo menos, descansar os olhos, sabendo que apenas uma parede nos separava.

— Acho que precisamos entrar, já está muito tarde e você não pode ficar exposta ao frio. — Levantei evitando seus olhos desconfiados. Emerie não respondeu, ofereci minha mão e ela a pegou como apoio para se levantar. — Você consegue andar?

Ela olhou para as pernas, ainda não estavam 100% e isso me preocupava.

— A-acho que sim. — A garota analisou suas pernas, deduzindo se aguentariam caminhar de volta para o quarto. — Bom, se eu consegui vim eu consigo voltar.

Percebi que ela não estava totalmente convencida, por isso pensei em ajudá-la de certa forma.

— Venha, eu pego você. — Ela me olhou assustada. Tive de me segurar para não rir do seu rubor. — Eu aguento pegar você no colo.

— V-você o quê? — Emerie olhava para o meu rosto e para os meus braços esperando ela aceitar minha oferta. — Não, não precisa Gael, você já fez muito vindo até aqui, eu acordei você e... não precisa.

Revirei os olhos ouvindo sua resposta esfarrapada.

— Veja assim, eu estava descansando meu corpo depois de um dia exaustivo e então fui acordado no meio da madrugada e agora estou passando frio esperando você deixar seu orgulho de lado. — Seus cabelos dançavam conforme a brisa gelada atravessa nós dois, um de frente para outro. Emerie concordou tímida.

De repente até eu estava tímido, com vergonha de pega-lá nos braços, porém não deixei isso me atrapalhar e com muito cuidado e hesitação envolvi sua cintura e suas pernas. Ela estava contra o meu peito como uma noiva. Engoli em seco ignorando o arrepio que atravessou minha coluna com o calor do corpo dela.

Nosso caminho de volta para o quarto foi silencioso, exceto pelas minhas constantes perguntas que se referiam em como ela estava ou se estava confortável. Fiquei satisfeito quando sua cabeça se apoiou no meu ombro e senti seu hálito quente no meu pescoço. Quase caí derrubando nós dois no chão quando ouvi sua voz falando o meu nome.

Entrei no quarto e coloquei ela sobre a cama, fui interrompido por sua mão agarrando minha camisa. Olhei para ela confuso.

— Você vem amanhã? — Sua voz ecoou na escuridão, suave e atrativa. Agradeci aos céus por ela não poder ver meu rosto corado no escuro.

— Sim. — Respondi. — Amanhã e todas as noites que você quiser. — Ouvi seu suspiro profundo de alívio, ela me soltou e deitou.

Eu estava na porta quando escutei sua voz mais uma vez.

— Obrigada Gael. — Sussurrou.

— Pelo o quê?

— Por cuidar de mim.

Fechei a porta. Não consegui pensar em mais nada depois daquilo, decidi por fim que o sono de fato me abandonara. Meus ouvidos não conseguiam ouvir nada a não ser a voz dela, meu corpo não sentia nada além dela, meu nariz não sentia nada além do cheiro, o aroma dela. Não sei o que estava acontecendo comigo, não sei por qual motivo eu estava agindo daquela jeito, tão afetado, tão perdido que eu não sabia como agir em situações normais do dia a dia, porque para onde eu olhava eu a via e só isso bastava para o meu coração acelerar.

Durante o resto da madrugada fiquei olhando o teto pensando no que fazer, procurando uma saída para o labirinto que eu mesmo havia me enfiado, porém na maior parte do tempo não tinha certeza se queria sair.

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