2.11 |Emerie

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É engraçado como a vida pode tomar um rumo totalmente inesperado. Por exemplo, seus planos podem ter um futuro totalmente diferente do o que esperado, como se você seguisse em linha reta sua vida toda mas de uma hora para outra aparecem curvas, outros caminhos são oferecidos, e sem que você perceba está vivendo uma trilha que apareceu no meio da trajetória, e não tem como voltar atrás sendo sua única opção seguir em frente desejando encontrar o caminho de volta, a trajetória certa que vai te levar até o destino esperado. No entanto, em um determinado momento você está perdida, sozinha e com medo e procura seguir o caminho mais fácil, o que você não sabe é que ele só vai fazer você se perder mais. Acho que passei a maior parte da minha vida escolhendo o caminho mais fácil e por esse motivo estou perdida, estive tão perdida ao ponto de querer desistir de prosseguir, acho que parei num túnel sem fim e cansada de continuar quis encerrar minha caminhada do jeito que me pareceu mais fácil, até que houve outra mudança me deixando assustada ao notar o que era aquela mudança, aquela mísera luz no fim do túnel brilhando incessantemente. Uma única vez eu quis saber o que era e o que significava.

Eu sabia o que queria, conhecia os meus motivos para me jogar na frente daquele carro na rodovia. Naquela época eu estava no túnel, mas quando o carro bateu, quando meu sangue escorreu e meus ossos se quebraram eu vi, pude enxergar a luz. Não era uma luz, não um brilho sobrenatural mas uma pessoa, alguém louco o suficiente para ir até mim ver o meu estado, me oferecendo outra saída. Eu quis aceitar, eu aceitei e agora estou de volta naquela trajetória sem fim, mais uma vez sozinha e com medo, medo porque qualquer escolha que eu decidir pode me levar de volta para o túnel e sendo sincera, não tenho pretensão de voltar para lá.

Contudo, penso que nesse exato momento eu estava a um passo de ir direto para aquele túnel.

- Estou noivo. - Ele repetiu para mim, ou para ele. Evitei pronunciar qualquer palavra pois não confiava em mim mesma para dizer alguma coisa.

Não consegui olhar para o rosto dele. Limitei meus ouvidos a ouvir qualquer som que ele reproduzisse. Obriguei-me a parar de desejar o toque da sua pele contra a minha. Meus pensamentos estavam um alvoroço de emoções que eu não conseguia compreender, eu não sei se eram raiva, mágoa ou tristeza, de repente todos juntos. Não sei dizer.

- É complicado dizer isso Emerie porque nem mesmo eu sei o que é essa relação. Eu sou muitas coisas Emerie, mas não um hipócrita pra te dizer que não sinto nada por ela, pela mulher que espera ser minha esposa. Mas ao mesmo tempo não posso negar que não há nada entre eu e você, e isso está me corroendo porque não faço a menor ideia do que fazer. Eu sei que não posso continuar com uma pessoa a qual não merece o que estou dando, não merece esse desdém. Eu sei disso, mas de alguma forma sinto que não posso acabar com tudo apenas porque estou começando a viver de verdade agora e-

- Espera. - Interrompi. - Por que você está me dizendo isso? - Gael me olhou silenciosamente. - Acha que eu quero ouvir sobre sua relação amorosa? Acha que sou idiota o suficiente pra saber o que nós.. o que é isso entre a gente Gael?

- Eu achei que você deveria saber Emerie, não queria que você soubesse desse jeito mas não sei de que outra forma eu poderia dizer.

- Você está realmente me dizendo que vai casar, que tem sentimentos por uma pessoa ao mesmo tempo em que me diz que há algo entre nós dois? - Ele ficou calado, percebi que seu silêncio afirmava. - Gael nós não temos nada, não somos nada uma para outro. A quem você está tentando enganar?

- Como assim não somos nada Emerie? - Ele ficou de pé rapidamente. - Porra, você é sim alguma coisa para mim. E eu esperava ser alguma coisa pra você. Ou quê? Essa merda que a gente ta fazendo não significa nada pra você? O fato de eu dormir todos os dias não valem nada Emerie?

- Nunca pedi pra você dormir aqui Gael. - Um golpe baixo, eu sei. - Nunca cobrei nada de você. Sinceramente, nem mesmo sei porque você está fazendo isso sendo até um mês atrás éramos estranhos um para outro.

- Exatamente, um mês atrás. - Ele deu um passo na minha direção, mas voltou atrás. - Agora não somos mais, Emerie. Não venha me dizer que não sente o mesmo que eu.

Respirei fundo. Acabei rindo pra ele, rindo dele e de toda essa merda que estávamos fazendo. Esse jogo infantil.

- O que é tão engraçado que você está rindo?

- Gael pelo amor de Deus. - Suspirei abafando o riso que ameaçou sair dos meus lábios. - Somos duas pessoas distintas, não sabemos nada do outro, somos dois idiotas que por uma merda de uma coincidência se encontraram num acidente. E daí? Isso deveria significar alguma coisa? Porque agora estou realmente começando a achar que não.

- Não. O que você está dizendo Emerie? - Ele me analisou incrédulo. Levantei da cama indo em sua direção, ignorando a pontada de dor no meu joelho. Eu precisava chegar até ele.

- Gael me escute. - Parei na sua frente, tocando sua face com uma mão em cada lado das maçãs do seu rosto. - Sou muito grata a você por tudo que você fez. De verdade, nesse pouco tempo que você esteve aqui, que você ficou foi maravilhoso. Você me fez rir, chorar e até ficar com um pouquinho de raiva por esperar, mas foi isso Gael. Não aconteceu nada demais, fomos apenas dois estranhos que sabiam o nome um do outro e interagiram e nada mais.

- Por que você está dizendo isso? - Fechei os olhos. Eu estava mentindo, mas ele não precisava saber. - Não é verdade Emerie, você sabe então pare de tentar me enganar, pare de fazer isso consigo mesma.

- Não. Não. Quem está mentido pra si mesmo é você Gael, não eu. - Observei aquele rosto. Os olhos azuis, as sardas que embelazavam seu rosto, aqueles lábios que apenas nos meus sonhos eu tinha tocado. Era isso, foi apenas nos meus sonhos. Ele nunca foi meu de verdade e talvez nunca seria. - Você tem uma vida e ela não pode parar por causa de uma mulher que já tentou contra a própria vida. Você não pode interromper seu caminho só para me ajudar Gael. Não pode e eu não quero que faça isso.

- Emerie. - A voz dele suavizou, seus olhos suavizaram ao fitarem os meus. - Não faça isso, não diga algo que vai se arrepender depois.

- Não estou fazendo, aliás estou justamente pedindo para que você não faça isso Gael. Não tente distorcer a realidade, não tente procurar uma saída onde não existe. - Seus braços envolveram minha cintura, tentei me afastar mas ele me puxou mais contra ele.

- Você não entende, não é Emerie? - Franzi a testa, desviando da intensidade a qual ele me olhava. - Não diga que isso é uma mentira quando você sabe que não é. Olhe para mim.

Não olhei. Fechei os olhos, por pirraça sim, mas por medo do que aqueles olhos podiam fazer comigo. O modo o qual tinham a capacidade de fazer meu corpo desmoronar.

- Olhe para mim. - Minhas pálpebras tremeram com a vontade de abrir. - Olhe para mim Emerie e diga que não sente nada por mim. Diga que não me ama da mesma forma que eu amo você.

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Leiam "A CLAVE DE TI" disponível no perfil de uma amiga Akniight

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