2.2 |Emerie

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Isso era realmente bizarro. Nós estávamos andando pelos corredores, na verdade Mary estava, enquanto empurrava minha cadeira de rodas. — Devido à cirurgia que fiz nos joelhos, eu estava impossibilitada de caminhar normalmente. Não que eu fosse reclamar, já que a Emerie preguiçosa do meu interior estava grata por não ter que andar às oito da manhã.— A enfermeira como sempre estava sorrindo, porém era um sorriso mais aberto, um olhar mais gentil. Essa mulher realmente amava seu trabalho. Ela não me disse para onde íamos nem o porquê, apenas me ajudou a subir na cadeira e começamos a passear pelo hospital, a única justificava que ela deu foi "você precisa de ar fresco" e fim da conversa, nem mais uma pista.

Como amante de séries e filmes eu sempre amei um bom spoiler, no entanto era realmente ruim não receber nenhum da sua própria vida. Conforme continuamos nosso caminho — para o misterioso lugar — cumprimentei algumas pessoas que eu conheci na minha estadia ali. Como as enfermeiras que sempre me traziam um nova fofoca todas as vezes que levavam comida para o quarto, ou os residentes que adoravam falar da vida dos médicos mais velhos naquela área e em como eles eram medíocres como pessoas, devo agradecer por não ter tido a oportunidade de ser avaliada por nem um desses. Também fiz amizade com alguns pacientes, minha mais nova amiga era a Jade, um adolescente que não economizava língua e falava tudo na lata quando queria.

— Você sempre é tratada como princesa assim ou é só porque ta na cara que aquele doutor gatão está babando por você Emerie? — Foram essas as primeiras palavras dela para mim. Viramos amigas no mesmo instante.

Jade estava acompanhada por alguns enfermeiros quando nos encontramos no setor que dava para o lado de fora do hospital. A jovem garota de dezessete anos abriu um sorriso maroto ao me ver, ela caminhava lentamente segurando-se no suporte do seu soro.

— Nem adianta me olhar com essa cara princesa, não vou dizer nada. — Comentou observando meu rosto repleto de curiosidade e desconfiança.

— Traidora. — Respondi sem som para que ela lesse meus lábios, sua risada foi a resposta.

Mary seguiu nosso trajeto até as enormes portas de empurrar, a enfermeira ignorou com muito custo minhas indagações fingindo não estar me ouvindo.

— Feche os olhos. — Ordenou com doçura. Fechei, pensei em espiar mas tamparam meus olhos com uma venda.

Pelo som deduzi que havíamos passado pelas portas, o que significava que estávamos do lado de fora, um espaço separado para os pacientes em recuperação. O cheiro era mais agradável e dava para ver a imensidão do céu, isso por si só era ótimo. O estranho era que tudo estava em silêncio. Sem som, sem ruído. Mãos suaves e enrugadas tiraram a venda dos meus olhos, pisquei algumas vezes acostumando com a claridade.

— SURPRESA! — Vozes que eu conhecia gritaram de uma só vez.

Observei as pessoas sorridentes segurando balões de diversas cores, notei Ayla com os cachos arrumados em um enorme coque na cabeça, ela segurava um bolo com pequenas velas acesas. Jade se juntou ao meu lado segurando dois balões um sendo o número dois e outro o zero. Vinte anos. Eu estava fazendo aniversário de vinte anos e nem me dei o trabalho de lembrar dessa data. De hoje.

— E-eu não acredito... — Falei sentido vergonha. Não pela surpresa, mas por eles terem recordado e eu não.

— Você não achou que eu iria permitir que sua única memória dos seus vinte anos fosse deitada numa sala de um hospital, não é? — Ayla se aproximou para eu fazer o ritual de "apagar as velas".

— Não sei como ainda fico supresa com você Ayla. — Inspirei o ar e assoprei. Óbvio que fiz um desejo antes disso, mas como dizem desejos não podem ser revelados se não, não irão se realizar.

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