2.6 |Emerie

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O entardecer estava chegando, os tons de laranja pintavam o quarto, geralmente durante esse horário de fim de tarde o movimento de pacientes e enfermeiros no corredor era menor. Mary tinha acabado de me deixar no quarto depois dos exames que Phill exigiu, lá estava eu sentada sobre a cama morrendo de tédio, embora uma pequena parte de mim estava feliz por saber que no outro dia era dia de visita, estava ansiosa para ver Ayla e fofocar sobre os acontecimentos da semana, incluindo os flertes do meu médico que não deixei passar despercebido e o repentino encontro com Gael. Sorri imaginando a reação dela ao saber sobre eles, certamente ela faria piadas maliciosas relacionada à essas coisas.

Jade tinha passado no meu quarto para ver o ursinho que Gael tinha me dado, a garota riu dizendo que ele estava caidinho por mim porém era cuzão demais para admitir, depois me contou sobre os garotos que ela já tinha gostado ou que já teve um tipo de relacionamento entre todos eles o único que falava com sentimento era o seu último namorado. Para uma garota de dezessete anos ela já tinha tido muitos namorados. Ela foi voltou para o quarto dela quando sua enfermeira a chamou.

Decidi que aquele momento era o certo para ler a carta dele, eu estava sozinha e ansiosa, mais do que devo admitir, para ler. Nunca tinha recebido uma carta, era emocionante.

Peguei o pequeno envelope escondido debaixo do travesseiro, abri e tirei o papel amassado com marcas evidentes de várias tentativas anteriores de escrita, as letras apagadas revelavam isso.

Não faço a menor ideia de como escrever uma carta, sou péssimo com palavras porém sou ainda pior para expressar o que eu sinto, então tudo bem se você não gostar ou achar um mero aglomerado de frases sem sentido, acredite vou entender se ao terminar de ler você quiser jogar fora, no entanto não posso deixar de pedir para que você leia até o fim, pretendo te explicar um pouco sobre mim, sobre o Gael que passa as noites naquele sofá velho em frente o seu quarto, sempre cansado mas incapaz de deixar você desde o dia que em que te conheceu.

Sou um homem de vinte e dois anos que ainda está conhecendo o mundo, fui embora de casa com vinte anos deixando minha mãe e minha irmã mais nova, basicamente minha mãe meio que me obrigou a ir embora e viver a minha vida porque segundo ela, elas estavam me prendendo em casa porque sempre deixei minha família em primeiro lugar ignorando os meus sonhos e desejos, por isso me mudei faz pouco tempo e trabalho numa agência de contabilidade, meu patrão é um homem justo porém com um péssimo hábito de tomar café o tempo todo, eu te juro sempre que vou falar com ele mantenho uma certa distância para não ter que lidar com o mau hálito dele, enfim isso foi bem idiota, não dei porque escrevi então pode ignorar. Agora vou te dizer como minha vida mudou em apenas uma noite.

Naquele dia, assim como todos os outros, eu estava exausto, tudo o que eu mais queria era chegar em casa e me jogar na cama e acordar só no outro dia. Eu sempre odiei dirigir na chuva, aquele noite não era exceção. Eu estava fazendo o trajeto de volta para casa quando vi um carro me ultrapassar em alta velocidade, me perguntei quem era o idiota que corria pela rodovia num noite chuvosa. Posteriormente vi uma pessoa correr perdida e desesperada para frente dele, acho que aquele momento foi o pior que já presenciei, não consigo passar uma noite sem lembrar, tanto que as vezes sou obrigado a ir te ver adormecida no quarto só para ter certeza de que você está viva. No dia que você acordou fiquei sabendo através de uma ligação do hospital, fazia tanto tempo que não me sentia eufórico que quase caí nas escadas enquanto corria desesperado para o seu quarto. Você tem todo o direito de me insultar se quiser, mas não precisa dizer que sou um bundão sem coragem de ir até você, a verdade é que me senti como um garoto de dezesseis anos com medo e vergonha de falar com a garota mais bonita da escola. Me perdoe por te deixar esperando tanto tempo, mas como eu disse não sou conhecido por ser autoconfiante e muito menos corajoso.

Me desculpe pela comparação idiota mas é só pra você entender que entre todas as pessoas que já conheci, você foi a que mais me afetou tanto que minhas pernas tremem e meu coração bate frenético no peito só de te ver. Acho que deve ser um tipo de reação normal no corpo humano quando estamos esperando um tempo para falar ou simplesmente ver alguém que tanto queria. Desde da noite do acidente não consegui mais dormir em casa, sempre qua tentava uma necessidade incomum me incomodava, era a necessidade de ver a garota de olhos assustados e saber que aqueles mesmo olhos não temiam mais a morte e não sentiam mais dor. Passo todas as noites no hospital porque não consigo deitar a cabeça no travesseiro sem saber como você está, acredite eu entendo se você achar que sou algum tipo de stalker ou um cara obssecado por você, na verdade alguns médicos e enfermeiros também pensavam isso, agora deduzem que somos um tipo de casal de amantes ou alguma coisa assim. Bizarro não?

Acho que agora estamos oficialmente conhecendo um ao outro, bom agora você sabe um pouco sobre o maluco que dorme no sofá velho, embora eu ainda saiba tão pouco sobre você. Enfim, a única coisa que posso te revelar a mais é que esse tempo todo eu estava esperando por você.

Obs1: Caso queira jogar essa carta no lixo, jogue em um lixo que eu não veja, esqueci de dizer que sou um cara sentimental. Por favor não diga isso a ninguém, é um segredo que carrego desde criança e nunca foi revelado até agora.

Obs2: Não sou bom em escolher presentes, principalmente para mulheres então vou entender também se você não gostar do urso que escolhi de última hora num posto de gasolina.

Com carinho,

Gael.

Quando terminei de ler eu estava rindo e chorando, sem saber o que sentir do que havia lido. O gosto salgado das lágrimas estava na minha língua, minha boca estava aberta dando passagem a risada genuína que escapava da minha garganta. Devia ser umas cinco horas da tarde e o som da minha risada ecoava no corredor, alguns enfermeiros foram até a minha porta para ver o que estava acontecendo e me deixaram ao perceber que não havia nada errado, era apenas uma garota em recuperação rindo sozinha. Meus olhos estavam lacrimejando, pela risada e pelo choro que ainda não havia cessado.

Vi o vulto de alguém na minha porta. Pensei ser só mais um enfermeiro, mas não quando olhei não era Mary ou nenhum outro funcionário, muito menos a Jade. Era ele. Gael estava sorrindo também, de braços cruzados me olhando. Minha risada se encerrou enquanto o fitei naqueles segundos que pareciam infinitos, ele se aproximou devagar.

— O quê você está fazendo aqui? — Indaguei confusa. — Você não devia estar trabalhando?

— Devia, mas uma pessoa me ligou dizendo que algo estava errado com você então vim desesperado achando que algo ruim estava acontecendo mas quando cheguei percebi que você estava apenas rindo.

— Eu estava. Acabei de ler sua carta e devo dizer que foi a coisa mais idiota que já li mas também foi a coisa mais linda e maravilhosa que alguém já escreveu pra mim Gael.

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