O céu nublado escondia o brilho do sol. Pequenas gostas caíam e escorriam pelo meu rosto, a brisa gelada era um acompanhante desagradável do leve chuvisco no fim da tarde.
Já passavam das cinco horas. Eu ainda tentava decidir se valia a pena ou não entrar. Todo ano isso se repete e todo ano fico hesitante quanto ao entrar ou não.
Meu celular vibrou e imediatamente vi uma mensagem de Logan, revirei os olhos. Estava tentando ao máximo ignorá-lo, embora ele não tenha notado ou tenha fingido não notar.
Desde a quarta e quinta-feira passada eu passei a evitar falar ou esbarrar com ele entre os corredores do colégio, mesmo sendo um pouco difícil já que ele sempre surgia com uma nova dúvida e eu respondia que na próxima quarta - no caso amanhã - iria ajudá-lo no necessário.
Ayla ao menos não comentou nada sobre o assunto, mesmo que percebesse minha inquietação sempre que Logan se aproximava. Na verdade, ela me olhou curiosa na quinta de manhã quando cheguei com ele na enorme moto, abriu um sorriso malicioso e por fim apenas disse: "eu avisei". Meu xingamento encerrou o assunto que com certeza não estava afim de começar e muito menos explicar.
Meu telefone vibrou novamente, estava quase cogitando desligá-lo quando para minha surpresa - e infelicidade - não foi o nome de Logan que apareceu, mas sim um número desconhecido que não era de fato desconhecido. Era meu pai.
"Eu sei o que o dia de hoje representa para você Emerie, por favor se precisar de alguma coisa me liga.
Papai"
Nem fudendo que esse hipócrita escreveu papai. Obviamente não respondi. Quem ele pensa que é? O que eu disse na minha casa entrou por um ouvido e saiu por outro? Não teve nenhuma relevância?
Sorri irônica, apagando o sms no mesmo instante. Desliguei o celular.
Contei até dez, respirei fundo e depois de meia-hora inerte no mesmo lugar, entrei no cemitério.
Haviam poucas pessoas visitando seus entes queridos. Algumas carregavam pequenos arranjos de flores, outras carregavam lágrimas doloridas nos olhos.
Uma senhora de cabelos grisalhos me deu um sorriso repleto de compaixão ao me ver andar entre as lápides. Sorri de volta, provavelmente a dor dela fosse maior do que a minha, ou de repente ela nem sentisse dor quem sabe já havia superado sua perda.
Continuei a caminhar devagar até chegar ao espaço separado onde estava o nome da minha mãe escrito numa lápide de bronze, não só apenas o nome dela, mas o que ela representava para todos os quais a amavam, para o mundo e para mim.
Em memória de
Angelina Joyce.
Amada filha e
mãe.Minha visão embaçou com as gotas salgadas tristes. O nó na garganta ficou mais dolorido.
- Sinto sua falta mamãe. - Murmurei com a voz embargada. - Todos os dias, sinto sua falta.
Deixem as lágrimas deixarem marcas molhadas pelo meu rosto conforme traçavam seu caminho pelas minhas bochechas coradas.
- As vezes penso que não faz sentido algum eu viver sem você, - Continuei. - Mas então me lembro das suas últimas palavras naquele hospital.
"Viva Emerie, apenas viva filha"
- Estou tentando mamãe, prometo continuar tentando viver com você sempre no meu coração.
Hoje faziam exatos nove anos desde que Angeline morreu. Não sei como o homem que responsável por doar sêmen sabia disso e muito menos aonde eu estava, o encontrei encostado em seu carro logo na saída.
- Você está bem? - Perguntou se aproximando.
O ignorei seguindo meu caminho para o meu carro, estacionado do outro lado.
- Emerie, eu prec-
- Como você sabia que eu estava aqui? - Indaguei de forma brusca.
- O quê?
- Como você sabia aonde me encontrar? - Repeti impaciente.
Ele deu um longo suspiro desviando seu olhar do meu rosto analisando a entrada do cemitério.
- Eu sabia, aliás sei onde sua mãe está enterrada, não foi difícil descobrir que você estaria aqui.
- Como?
- Foi um tiro no escuro. - Respondeu, franzi a testa e o deixei voltando meu foco para o carro, o qual já havia apertado o alarme.
- Não fil-, Emerie. Desculpa... eu preciso, eu quero falar com você sobre uma coisa. - Ele tentou me parar pegando meu pulso mas desviei notando sua intenção.
- Meu Deus! Qual é o seu problema? Você não percebeu que eu não quero falar com você? Verdade seja dita, não quero nada de você.
Meu pai parou, desistiu de tentar dizer, acrescentar algo que pudesse me fazer dar devida atenção para ele.
- Quer saber de uma coisa Emerie? Você tem razão.
O quê?
- Eu sei que sou um completo babaca, um mísero escroto e entendo seu ódio e repulso por mim. Não te julgo, no seu lugar faria o mesmo.
- Não ligo para o que você faria, não me importo e já disse isso antes deixando bem claro.
- Eu sei. A questão é que não vou me explicar, não se você não quiser. Mas tem uma coisa que você precisa saber, e tudo bem se de fato você realmente não se importar e ficar feliz e aliviada ao saber, porque estou começando a me sentir assim toda vez que olho para você percebo a merda que fiz.
O silêncio toma a vez quando encerra seu discurso. Gostaria de dizer mais alguma coisa, de jogar na cara dele tudo o que sinto e penso a respeito dele e tudo relacionado a ele.
No entanto, uma pequena parte de mim quer saber o que tens de tão importante - ao ponto de vir atrás de mim - para anunciar.
- Diga. - Falo e sua cabeça se ergue ao me escutar, as tristeza e remorso em seus olhos são quase como um soco no estômago.
Meu progenitor respira fundo, se preparando para seja lá o que for dizer.
- Estou morrendo Emerie.
{...}
Encontrei a garrafa de whisky, já pela metade numa das prateleiras da cozinha. Atordoada demais para pegar um copo adequado, virei a garrafa na boca.
As palavras se repetiam na minha mente constantemente.
Estou morrendo, câncer terminal. Meu corpo está doente. Não há mais chance. Tenho apenas questão de meses ou dias.
A bebida desceu queimando pela minha garganta, quanto mais pensava mais engolia o whisky.
- Planeja beber até morrer ou até esquecer o próprio nome? - Soou a voz angelical tão doce quanto um mel e tão forte quanto o estrondo de um trovão.
Gael.
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Angel In My Life
Romance(Concluído/Completo) A maior tensão sexual entre um anjo da guarda e uma humana que você irá encontrar... Emerie e Gael, uma humana e um anjo. Dois mundos completamente diferentes... o que eles têm em comum? A resposta é: os mesmos desejos devassos...