1.2 |Emerie

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Me sinto sufocada e espremida nesse corredor repleto de pessoas com hormônios à flor da pele. Até parece um formigueiro de adolescentes cheios de testosterona e progesterona. O que de fato é.

Por incrível que pareça consigo encontrar meu armário da cor padrão como os inúmeros no imenso corredor, a diferença notável é a customização por dentro. Letras de músicas e fotos que apresentam certa importância.

Leio uma das letras, uma música da Katy Perry. - The One That Got Away. - Sem que eu perceba estou cantando baixinho, com a melodia tocando em meus pensamentos.

In another life, I would be your girl
We'd keep all our promises, be us against the world

- Você não parece o tipo de garota que curte Katy Perry. - Soa uma voz masculina atrás me dando um susto.

Respiro fundo acalmando os nervos que me dizem para socar sua cara incrivelmente perfeita masculina.

- E que tipo de garota eu pareço Logan? - Pergunto ainda de costas para ele, organizando os livros didáticos.

- Ainda não descobri. - Responde com uma risadinha maliciosa, acabo me virando notando que um de seus braços apoiados contra o armário do lado.

- Você quer alguma coisa ou vai ficar parado esperando que eu beije você?

- Na verdade nenhuma das duas opções, se bem que a segunda me parece bem tentadora.

Arco um sobrancelha numa expressão acusatória, saindo de sua frente.

- Até onde me lembro você e o Hunter, que por um acaso é meu ex, são amigos. Não?

Ele anui, dando ombros. Incerto da afirmação e não dando a mínima.

- Isso muda alguma coisa?

- Tirando o fato de ser um babaca com kit completo, nada.

Ele solta outra risada, dessa vez como se realmente estivesse se divertindo da situação.

- Sabe aquele ditado: amigos, amigos, negócios à parte. - Não é bem uma pergunta, mas não precisa de resposta. - Exatamente isso.

Reviro os olhos impaciente. O deixando no vácuo, antes que siga o meu caminho sinto sua mão segurando com firmeza meu pulso, me mantendo no lugar.

- Mais alguma coisa?

- Na verdade queria falar com você sobre uma coisa. - Ele diz, ao que parece meio tímido.

- Jura?

A vez dele suspirar impaciente, me soltando devagar.

- Emerie para sua sorte, você é uma garota muito inteligente.

- De fato.

- Sendo assim, - Continua, ignorando meu comentário. - Você poderia me ajudar com as notas em física?

Sabe quando dizem: quem ri por último, ri melhor?
Então...

- Não é piada Emerie.

- Eu nunca disse que era. - Respondo em meio ao riso que escapou dos meus lábios.

- Não precisa dizer, está bem claro na sua cara.

Respiro fundo me recompondo. Logan me analisa com a paciência quase se esvaindo.

- Ok deixa eu ver se entendi, então você quer ajuda para recuperar suas notas? - Ele anui. - Provalmente vai ter que sair do time se não conseguir, certo? - Outra confirmação. - O que eu ganho ajudando você Logan?

- O que você quiser! - Ele responde satisfeito. - Óbvio que seja algo o qual eu consiga cumprir ou de repente lhe dar.

- E desde quando você acha que eu preciso de alguma coisa?

- Ora minha cara, todos precisam. Você não é exceção.

Logan me deixa confusa, tem dias em que acho que ele é um acéfalo e em outros tenho certeza.

- Todas as quartas, na minha casa. - Digo por fim, aceitando sua proposta, afinal mesmo que eu não queira admitir ele está certo e eu preciso de dinheiro. - 150 reais por semana.

- Por semana? - Ele indaga incrédulo.

- Alguma objeção?

Logan parece pensar, não é idiota provalvelmente tem outras opções, mas nenhuma que seja tão boa quanto eu.

- Feito. - Ele estica sua mão em cumprimento. Ignoro.

- Começando nessa semana. - Digo, retomando meu caminho, volto a escutar o som da sua risada ecoando no corredor.

{...}

Chego em casa às oito em ponto. Ayla já se foi deixando apenas uma nota num post-it na geladeira.

Se você está lendo isso, é porque provalvelmente já fui embora. Obrigada por me deixar passar a noite aqui, prometo te recompensar.
Beijos, Ayla.

Minha barriga ronca demonstrando a fome que me assola após algumas horas sem ingerir nada, exceto por água. A frustração se torna recorrente ao recordar que não possua nada considerável para um refeição noturna.

Ligo para a mesma pizzaria, a qual tem me salvado durante a semana. Fazendo o mesmo pedido: uma pizza marguerita.

A exaustão se torna mais presente fazendo com que eu acelere um banho de banheira, enquanto "minha janta" não chega. Consigo sentir a tensão deixando meus músculos só de pensar na banheira que me aguarda.

Meus banhos durante as segundas são quase como um ritual. Apago todas as luzes, deixando apenas as das velas acesas com incensos de alecrim e baunilha, tornando um ambiente agradável muito convidativo.

As peças de roupa se acumulam no canto inferior do cômodo, todas as peças que usei durante o dia exceto o conjunto de lingerie de renda vermelha que permito continuar usando por pura luxúria.

E por fim mergulho na banheira com água morna repleta de espuma, acompanhada por pétalas de rosas. A música suave soa como um mantra no banheiro, toques suaves e prazerosos de serem ouvidos. Deixo todo o corpo inerte debaixo d'água, para logo em seguida mergulhar a cabeça e limpa-la dos pensamentos que me atormentam de alguma forma durante o alvorecer até o fim do dia.

Ficar debaixo d'água numa banheira, não chega nem perto de estar mergulhada num oceano profundo, mas é assim que me sinto. Mergulhada e perdida numa profundidade sem fim, obscura sem saber o que espera do outro lado.

Fico assim durante alguns minutos, até ser interrompida por mãos que me agarram pela cintura. Entro em desespero me debatendo, mas as mãos são mais fortes e me tiram da banheira me pondo de pé, ignorando os constantes movimentos frenéticos que faço no intuito de me soltar.

- Que porra é essa? - Grito atordoada para seja lá quem for o sorrateiro que estava me vigiando e teve a audácia de me agarrar.

Meus olhos continuam fechados enquanto tento limpar a espuma deles, meu peito sobe e desce ofegante sinalizando a busca frenética dos meus pulmões por oxigênio.

Ouço os murmúrios repetidos. Graças a Deus. Graças a Deus. - Diz a voz masculina completamente aliviada.

Por fim consigo abrir os olhos, ficando uma mistura de choque e surpresa.
Não sei se estou sonhando ou imaginando coisas, mas tenho certeza ver o ser humano mais lindo que já vi em toda minha vida o que não ameniza o fato dele ter me agarrado.

- Eu deixei você por cinco minutos, por cinco minutos! - Ele grita. - E nesse meio tempo você tentou se afogar na banheira?


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