1.13 |Gael

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Gael

- Planeja beber até morrer ou até esquecer o próprio nome? - Perguntei. Ela reconheceu minha voz no mesmo instante.

- Ora ora, bem que dizem que quem é vivo de fato sempre aparece. - Outra vez ela engoliu a bebida e ao terminar sorriu preguiçosamente. - Onde você estava anjinho?

- Antes de tudo você não quer me dar essa garrafa?

- E eu pensando que você era um completo perfeitinho que não comete erro algum. - Peguei a garrafa de suas mãos antes dela se quer perceber minha atitude e aproximação repentina.

- Para começo de conversa não vou beber. Segundo, você precisa de um banho.

- Você vai entrar? - O brilho em seus olhos refletia a malícia em sua pergunta. - Foi em um banho que nos conhecemos, não? Ou melhor, que eu conheci você.

- De fato, mas pelo o que me lembro você não estava bêbada e muito menos vestida.

- Gael, Gael você tem uma ótima memória. - Seu sorriso se alargou acompanhando meus movimentos ágeis limpando e guardando as coisas na pequena bancada. - Você não respondeu a minha pergunta.

- Qual delas?

- A qual se referia a você entrar no chuveiro comigo.

- Obviamente que não.

Emerie soltou uma de suas risadas que em outros momentos aqueciam meu peito. Sua mão bateu num copo de vidro fazendo com que o objeto escorregasse e fosse direto contra o chão.

Seus olhos se arregalaram, suas mãos foram para sua boca quando ela abafou o som surpreso.

- Ah.

O pequeno copo se espatifou se tornando pequenos pedaços de vidro espalhados aleatoriamente.

Talvez o instinto de querer ajudar após ter feito merda, tenha feito Emerie se abaixar e tentar juntar os pedaços.

- Não faça is-

Tarde demais, um dos vidros cortou seus dedos. Além de cuidar de uma garota bêbada, agora tenho que cuidar de uma garota bêbada com a mão ensanguentada. Enquanto a garota em questão sorri da situação.

- Pelos céus Emerie, você não me escuta nunca?

- Só quando convém e geralmente você não está dando chilique de anjinho super protetor.

- Anjinho super protetor? - Perguntei, mas distraído demais analisando seus dedos machucados.

- Meu Deus Gael, são apenas cortes, não é como se fosse a primeira vez que isso acontece.

- A questão é que você nunca me teve por perto para cuidar de você. - Segurei mais firme seu pulso quando ela tentou puxá-lo.

- Você não estava aqui ontem nem durante o dia de hoje, aliás por dezessete anos você não esteve. - Murmurou antes de comprimir os lábios.

- Só porque você não me vê não quer dizer que eu não esteja com você. E estou aqui agora, isso é o que vale. - Terminei a fiscalização em sua mão, senti seu olhar em mim durante aqueles míseros segundos. - Vamos ao banheiro.

{...}

Emerie estava sentada em cima da privada de pernas abertas, comigo entre elas - limpando os ferimentos de seus dedos com uma toalha úmida.

- Gael?

- Sim?

- Posso te fazer uma pergunta? - Ergui meus olhos e encontrei os seus tão escuros quanto o céu da noite.

- Se ela não for maliciosa ou alguma pergunta a qual estou impossibilitado de responder, pode.

- Engraçadinho, mas é sério Gael, quero saber de uma coisa.

- Diga Emerie.

Soltei sua mão focando em seus lábios, não por desejo mas por curiosidade em saber sobre o quê eles iriam dizer.

- Você realmente me salvou? Digo, realmente tentou me impedir de tirar minha própria vida?

- Sim. Todas as vezes. Em cada aniversário da morte de sua mãe eu sempre estive com você.

- Por quê?

Respirei fundo me preparando para responder, de alguma forma sabia que uma hora ou outra essa pergunta viria.

- Porquê por mais que você não enxergue Emerie e por mais que esse mundo não a mereça, sua mãe sempre desejou que você vivesse, que crescesse e se tornasse quem você quisesse, que você viajasse e conhecesse o mundo e suas maravilhas e acima de tudo que você encontrasse o amor.

As gotinhas salgadas escorregam pela sua face rosada.

- Ela sabia que quem você escolhesse seria uma pessoa afortunada por poder ter seu coração e vice versa.

- Você a conheceu? - Sua voz saiu embargada pelo nó que tenho certeza estar em sua garganta.

- Sim. Falei com ela apenas uma vez, mas foi o foi suficiente para saber o quão extraordinára ela era.

As palavras morreram em seus lábios - que permaneceram fechados deixando apenas as lágrimas dizerem o que sentia.

A carreguei até a cama. Ela já havia terminado o banho, vestia uma camisola de seda rosa. Seu rosto tinha um leve tom avermelhado, suas pálpebras já estavam pesadas.

Emerie deitou contra a maciez do colchão e dos travesseiros, se perdendo em meio a enorme colcha branca.

- Você vai ficar Gael?

- Receio que não Emerie, embora não fisicamente.

- Você sabe que eu não posso te pedir desculpas por agir de forma natural, não é?

- Eu sei, por isso não cobrei.

- De qualquer forma saiba que você não é capaz de se enojar de mim tanto quanto eu.

- Não me enojo de você, pelo contrário. E você também não deveria faze-lo.

- Talvez. - Seus lábios formaram um sorriso discreto. - Você vai ficar?

- Já disse que não.

- Não estou me referindo à agora Gael. Quero dizer para sempre, se ele existir.

O sono profundo se apossou dela antes de eu pronunciar uma resposta coerente. Creio que assim como eu, Emerie já tinha noção do que eu iria responder, sabia o que eu não precisava dizer. Ela sempre fora uma garota esperta, não precisava de palavras específicas para tornar as coisas mais claras, pegava as coisas no ar.

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