2.47 |Emerie

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Perto das três da manhã do dia 22 de dezembro, três dias antes do natal, minha bolsa estourou. Nós chegamos no hospital com Gael me empurrando em uma cadeira de rodas com a bolsa que preparamos para o bebê no ombro, ele estava tão nervoso que quem parecia que ia ganhar o nenê era ele.

Duas enfermeiras chegaram para nos auxiliar, Gael estava com um telefone numa não e na outra segurando a minha enquanto eu o apertava em cada onda das contrações cuspindo ofensas a torto e a direito.

— PUTA QUE PARIU. — Gritei, quando outra onda percorreu meu corpo. — Eu juro por Deus Gael, nunca mais. Nunca mais.

— Calma linda. Respira. Respira vai ficar tudo bem. — As enfermeiras nos levaram até um quarto, onde trocaram minha roupa por uma de hospital.

— Vai ficar tudo bem porque não é você que vão arregaçar. — Meus dedos apertaram os dele, se Gael sentia dor não demonstrou pois soprava sobre o meu rosto e me mandava respirar.

Nossa obstetra chegou para me examinar, abri as minhas pernas contando todos os motivos de eu amar meu noivo e não querer mata-lo por me dizer para respirar.

— Seis dedos de dilatação, precisamos de mais para o bebê nascer. — Disse a médica.

— Isso é bom, certo? — Gael perguntou, enquanto eu controlava cada inspiração de forma rápida e contava até dez.

— Sim, isso é ótimo. Só precisamos que você aguente mais um pouco Emerie.

— Misericórdia senhor. Jesus, Maria José.  — Gael abriu um sorriso torto. — Não ouse sorrir anjinho, tem partes minhas doendo que eu nunca senti na vida. E não me elogie, porque sei muito bem como estou agora nem vem com esses olhinhos brilhando pro meu lado.

As contrações seguiram com uma série de insultos baixos a maioria referindo ao meu parceiro que não parava de sorrir e suar frio, sem contar todas as vezes que eu prometi nunca mais ter relação sexual com ele.

Finalmente.  FINALMENTE. Fiquei com dez de dilatação pronta para o nascimento.

— Eu vou com ela, sou o pai do bebê. — Disse Gael quando eu era carregada em uma maca para uma sala onde aconteceria o parto normal. Em cada momento ele ficou ao meu lado com a mão grudada na minha.

— O bebê já está em posição pronto, então você precisa abrir bem suas pernas Emerie, e fazer força. Apenas força, assim você ajuda seu bebê. — Instruiu a doutora, eu estava sentada de modo que ela ficava entre as minhas coxas com Gael ao meu lado. —Na próxima contração você faz força, tudo bem?

Não estava tudo bem. Tal como dito na nova onda de dor fiz toda força que eu aguentava, juro que nem um pingo de vergonha passou por mim se eu tivesse me cagado naquele momento. A dor era tão grande que só me importava em tirar meu filho de dentro de mim logo.

— Isso, muito bem mamãe. Mais um pouco. Já consigo ver a cabeça. — A médica anunciou.

Gael deixou o meu lado para dar uma olhada e foi o pior erro da vida dele, suas últimas palavras antes de cair no chão com uma cara nada boa foram: "isso é a cabeça?".

— EU NÃO ACREDITO. EU VOU MATAR ELE, ALGUÉM ACORDA ESSE HOMEM PELO AMOR DE DEUS. — Berrei em meio ao esforço.

Uma das enfermeiras que nos acompanhavam seguiu para acordá-lo e em poucos minutos Gael ficou consciente de novo.

— Acho melhor eu ficar do seu lado mesmo. — Comentou meio grogue, voltando a segurar minha mão. — Tá uma bagunça lá.

Não me dei o trabalho de responder, muito menos a médica que apenas deu uma risadinha antes de me incentivar novamente.

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