1.6 |Gael

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Gael

Faz cinco minutos que ela está rindo, o pior: rindo de mim.
Quando Emerie diminui o riso tento dizer algo, mas é só olhar para minha cara que ela cai no riso novamente.

- Emer-

- Espera! - Diz em meio ao riso. - Eu vou parar. Só me dê alguns minutos.

Pronto, outro riso.

Geralmente quando ela ri eu dou risada junto, porque na maioria das vezes sua gargalhada é contagiante. Não nesse caso.

Respiro fundo paciente, dando a ela o tempo necessário. Pelo visto minha explicação vai levar mais tempo do que planejei.

E logo sua risada vira tosse, ela se afoga por conta do pedaço de pizza que estava mastigando.

Emerie continua a tossir compulsivamente. Até se levantar e ir em direção ao banheiro. Ouço suas tossidas diminuírem ao mesmo tempo em que as gotas da torneira caiem na pia.

- Quer uma água? - Sugiro já me levantado para ir até a cozinha.

- Não precisa, já estou melhor.

Então ela volta com o rosto ainda corado pelas tosses, tenho certeza de que está segurando o riso.

- Aonde estávamos? - Emerie senta na minha frente comendo o que restou de seu pedaço de pizza.

Respondo meio hesitante:

- An... e-eu estava dizendo que sou seu anjo.

Minha protegida deixa escapar um suspiro como quem se controla para não rir.

- Ah, sim. Anjo.

- Como eu estava dizend-

- Pera - Emerie interrompe. - Isso é sério?

- Não. Era só uma pegadinha para ver sua reação. - Respondo irônico. - Na verdade sou um psicopata mesmo que vem te vigiando a dias, quer saber mais alguma coisa?

Seus olhos se arregalam surpresos, mas ela tem o senso de permanecer em silêncio.

- Óbvio que é sério Emerie. - Ela suspira, provalvelmente de alívio. - Para ser mais específico, eu diria que sou seu anjo da guarda.

Noto sua testa franzir confusa. Sua mão para no caminho de levar o pedaço da pizza até a boca.

Como ela não diz nada, artodoada e perplexa demais, continuo:

- Sou responsável por cuidar de você, consequentemente sei tudo sobre você desde o dia em que você nasceu. - A olho esperando o som de sua voz como resposta ou apenas uma expressão facial que indique o que ela acha disso. - Não sei o que veio antes, a única que sei é a sua trajetória até aqui. Vi seus altos e baixos. A primeira vez que você andou e falou. Acompanhei toda a sua vida.

- C-como?

- A única explicação é simples; sou seu anjo Emerie, queira você ou não. - Desvio o olhar do seu, que me encara intensamente deixando o clima desconfortável. - Mais alguma dúvida?

- Cadê suas asas?

O quê?

- O quê? - Indago surpreso. - Não quer saber o que eu sei sobre você?

Ela nega com a cabeça completando:

- Pelo o que eu entendi você já sabe tudo, o que ainda não sei é se devo acreditar ou não, mas é melhor do que pensar que estou falando com um psicopata.

- Você ainda acha que eu quero machucar você?

- Isso não vem ao caso. Voltando ao assunto; onde estão suas asas?

- É uma longa história e na-

- A não ser que você tenha algum compromisso sendo anjo, temos tempo para você deixar as coisas mais claras. É isso que você vem pedindo a noite toda, não?

- Sim, ma-

- Assunto encerrado. - Ela diz satisfeita, finalmente comendo o pedaço que estava "congelado" em sua mão.

- Vou responder todas as suas perguntas, - Emerie abre um sorriso vencedor, respiro fundo derrotado. - Se você parar com essa mania.

- Qual delas?

- Talvez a de me interromper a cada frase.

Emerie parece pensar para enfim responder:

-Certo, então você tem que parar também.

- Parar?...

- De me olhar assim. - Não tenho certeza do que ela quer dizer. - Seus olhos te entregam Gael.

- Do que você está falando?

Ela pega outro pedaço, havia esquecido de que ela tem um buraco negro no lugar do estômago.

- Ora meu caro anjo, seus olhos me dizem que você está caidinho por mim.

A analiso incrédulo, enquanto ela ri da minha expressão indignada.

- Não estou mentindo, até porque mentir é pecado, não?

- Si-

- Então, eu não minto.

- Se você me interromper mais uma vez, eu vou... vou..

- Vai?

Pensa Gael. Pensa homem, ora não é tão difícil pensar numa punição. Não é?

- Vai?

- Não sei! - Emerie volta a rir. Tenho a impressão de que ela dormiu com um palhaço. - Ainda não.

- Deve ser difícil pensar em como me punir já que sua missão, ao que parece, é me proteger.

-Não quer dizer que eu não possa. Afinal, tenho que deixa-la viva, mas isso não significa que eu não possa punir você.

- Você é um anjo Gael. - Responde, como se isso representasse alguma coisa. - Não seria capaz.

- Quer apostar?

- Não sou chegada em apostas. - Sinto seus sentimentos mudarem repentinamente. - Se bem que eu queria saber qual seria seu tipo de punição. Talvez uma punição mental, ou física. - Seu foco volta ao meu rosto junto de um sorrisinho de canto. - Ou quem sabe, uma punição sexual. Não?

Me afogo com a própria saliva num sobressalto. Eu escutei isso mesmo?

- Ah Gael, você um anjo num corpo humano. É normal se sentir tentado.

- Você está ouvindo o quê está dizendo?

- Sim, mas e você?

As batidas aceleradas do meu coração respondem o suficiente, meu rosto que tenho certeza de estar corado, também.

Solto uma tosse forçada já se levantando.

- Tenha uma boa noite Emerie. Amanhã terminamos isso.

- Uau, para um anjo você se deixa levar muito rápido.

- A questão não é essa, e você sabe muito bem.

- Sei? - Emerie tem a ousadia de se fazer ofendida. - Não disse nada demais. Perdoe-me se eu o ofendi.

Não respondo, apenas a observo numa mistura de incredulidade, indignação e desejo. A cada dia essa mulher me surpreende mais.

- Tenha uma boa noite Emerie.

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