Angel In My Life

2.28 |Emerie

Emerie

Meus olhos se abriram e de súbito reconheci aquele lugar. Eu estava deitada na cama, ou melhor na minha cama no meu apartamento. Tudo estava normal quanto eu me lembrava, nada fora do lugar. As coisas organizadas como eu costumava deixar. Percebi pelo intenso brilho que atravessava a janela que era de dia, o espaço estava silencioso e tinha um cheiro imensamente familiar, a sensação prazerosa de estar em casa me preencheu. Levantei em passos calmos andando encantada por estar de volta. A saudade aquecendo o meu peito transformando a dor da perda e do luto em um sentimento agradável e tranquilo. Foi então que ele apareceu, surgiu como os primeiros raios de luz num alvorecer da primavera. Meu anjo estava ali, meu anjinho estava parado me olhando com todo amor e carinho que cabia nele.

- Anjinho? - Minha voz saiu num sussurro ressoando em um eco pelo quarto. Ele se aproximou lentamente, parando na minha frente passando os braços ao redor do meu ombro, puxando o meu corpo para o dele.

O envolvi de volta. Abraçando sua cintura, afudando a minha cabeça em seu peito. Gael, o anjo, não me soltou. Permaneceu com seus braços ao meu redor, me apertando contra ele. Entendi o que estava fazendo, o motivo dele estar ali comigo, tão próximo matando os demônios que me matavam. Mantendo-me viva. Ele estava me salvando de mim mesma, como fez anteriormente e continuava a fazer. As lágrimas escaparam dos meus olhos sem permissão, silenciosas e dolorosas elas escorriam pelas minhas bochechas, umedecendo o tecido da sua camisa clara e fina. A dor estava menizando, o luto desaparecendo aos poucos como uma fumaça. Senti a sensação de ser rasgada por dentro parar conforme eu chorava com ele, conforme ele me segurava impedindo que mais uma vez eu caísse num abismo de agonia e sofrimento.

- Melhor? - Perguntou ele, baixinho no meu ouvido. Recuei o bastante para ver o seu rosto. Assenti num movimento fraquejado.

- Você sabe o que aconteceu? - Indaguei, segurando sua camisa com medo dele sumir instantaneamente.

- Eu sei.

- Por que estou aqui? - Olhei ao redor, dando ênfase. - Por que você está aqui?

- Você sabe como sua mente é incrível, Emerie. Ela me trouxe de volta, quando um gatilho é acionado em você sua mente me traz. - Seus dedos macios e delicados guardaram meu cabelo atrás da orelha. - Digamos que você está se afogando e eu sou seu salva-vidas.

Um riso fraco escapou da minha boca, ele sorriu também. O sorriso logo morreu, dando espaço para os lábios comprimidos e a expressão serena.

- Eu perdi, alguém anjinho. - Comentei, as palavras saindo como um segredo. - Ela morreu e eu não estava lá.

- A culpa não é sua, Emerie. - Disse ele, de maneira tão doce e gentil que uma dor diferente abatia o meu peito. - Você não podia ter feito nada, de qualquer modo.

- Não. Eu podia ter feito algo, pelo menos estado com ela quando ela precisou. - Neguei, movimentando a cabeça. - Aquela garota era minha amiga anjinho, sempre esteve comigo dizendo bobagens pra me fazer rir, pra fazer eu me sentir melhor e quando ela precisou eu não estava lá.

- Não diga isso Emerie. - O anjo segurou meu queixo, obrigando meus olhos a permaneceram nos dele. - Jade sabe quem você foi pra ela. Ela não morreu infeliz ou com algum tipo de remorso, pelo contrário, a garota estava feliz e grata por ter pessoas que estiveram com ela em seus últimos dias, e uma dessas pessoas foi você.

- Não tem como você saber, anjinho. - Recuei de seus braços, dando passos para trás. - Ela devia estar com medo, temendo o q-

- Emerie. Emerie para. - Ele puxou meu braço. - Não se culpe por isso, você fez o que podia. O que ela sentiu ou deixou de sentir já acabou, foi breve e passageiro e ela sabia que ia parar.