Gael
Meu coração estava apertado. Eu não conseguia pronunciar aquelas palavras. Não conseguia admitir a verdade, a revelação que mudaria a vida dela. Isso era um erro, desde o início fora e a culpa era totalmente minha - minha por permitir que essa relação se prolongasse. - Logo Emerie começaria a sentir os sintomas e então nessa hora, somente quando este momento chegasse eu teria de dizer a Deus para o que tínhamos, para o que construímos juntos.
Ela ainda estava sorrindo quando ficamos sozinhos naquele banheiro feminino novamente. Como eu poderia acabar com aquele sorriso? A vida que brilhava em seus olhos quando focavam em mim. Eu era um covarde. Sempre fora quando se tratava dela. Um tolo egoísta.
Emerie ocultou o nervosismo mas eu sentia sua emoção confusa quanto a verdade que Ayla confessara. Acho que no fundo eu sabia, porém não permiti pensar a respeito com mais clareza. Era óbvio que a amiga escondia alguma coisa, algo não estava certo. No entanto ela tinha um modo um tanto quanto estranho de demonstrar, não foi atoa que Emerie se afastou. Ayla estava sendo tóxica, provavelmente incoscientemente.
- Por que essa cara anjinho? - Sua testa franziu. Forcei um sorriso falso.
- Estou pensando. - Admiti roubando lhe um beijo. Ela emburrou a cara como uma criança.
- Não gosto quando você pensa Gael. Geralmente quando isso acontece você fica meio aéreo, meio afastado.
- Não é verdade. - Emerie gesticulou com a mão ignorando, seguindo para a pia.
- Mudando de assunto anjinho, posso te confessar uma coisa? - Ela estava envergonhada?
- Por favor. - Encostei contra a parede fria de uma das cabines. Eu já sabia qual seria sua confissão.
- Lembra aquela vez em que você apareceu nesse banheiro, em que você me acusou de estar te evitando? - Sua mão passeou pela beirada da pia.
- Você estava me evitando Emerie.
- Isso não vem ao caso anjinho. - Nosso olhar se enontrou através do reflexo. - O fato é que aquele dia foi a primeira vez em que me dei conta de que te desejava. Não queira saber as depravações que pensei com você sendo essa pia parte da minha imaginação.
- Você acha que eu não sei? - Cruzei o curto espaço que nos separava. Ela me observou como um gato. - Pois pensei nas mesmas coisas Emerie.
- O que seu mestre diria dessa sua falta de decoro Gael? Sem contar sua indecência. - Ironizou. Suas palavras se perderam quando beijei sua nuca exposta.
- Tenho medo só de pensar. - Cogitar isso causava um calafrio desconfortável por todo meu corpo. Uma consequência totalmente justa.
- O que pode ser pior do que ir para o inferno Gael? Pense pelo lado bom, pelo menos estaríamos juntos pelo resto da eternidade.
- Queimando incansavelmente num fogo incessante, não nos esqueçamos.
- Então é melhor aproveitarmos o tempo que ainda nos resta, você não acha anjinho?
Eu estava sorrindo quando notei sua pele ficar pálida. Emerie me olhou percebendo a repentina mudança do seu organismo. Seus lábios repuxados nos cantos se desfizeram quando ela colocou uma das mãos na cabeça e usou a outra para se apoiar na pia. Eu estava imediantamente ao seu lado segurando seus ombros.
- O que foi? Você está bem?
- Não sei. Não sei Gael, estou tonta. - Seu rosto se ergueu lentamente. - Não sei o que aconteceu.
- Calma, deve ser apenas um mal-estar.
- Que momento inoportuno para eu ficar enjoada. Estranho você não acha?
- Com certeza, mas como eu disse provavelmente é só um mal-estar. - Menti. - Você não comeu muito no café, deve ser isso.
- É talvez, você deve ter razão anjinho. - Ela suspirou. - Que merda.
Confirmei incapaz de contrariar o que eu mesmo propus. Embora meu coração tenha ficado frenético percebendo o que aquela tontura significava. A mentira que contei mais uma vez ocultando a verdade dela. De nós.
- É melhor você ir até a enfermaria Emerie.
- Não. Não, já estou bem. Foi só um susto, não se preocupe. - Suas mãos jogaram água em seu rosto. - Aliás, quem precisa de médico quando se tem um anjo?
- Um anjo que não tem diploma de medicina não vale de nada. - Emerie revirou os olhos.
- Relaxe anjo, estou bem. - Respirei fundo cerrando o punho. - Ainda tenho aulas as quais devo comparecer.
Parei de fazer objeção, ela desconfiaria se eu continuasse a insistir.
- Não tem com o que se preocupar Gael, isso é normal quando humanos não se alimentam o suficiente, obviamente nosso corpo vai reclamar.
- Eu sei. Desculpe.
- Eu tenho que ir anjinho. Prometo comer alguma coisa até chegar na sala. - Sua boca roçou a minha. - Não apareça de novo, você sabe como é complicado. Assenti.
- É uma pena você não ter como se livrar de mim, porque vou te incomodar até você comer alguma coisa.
- Não duvido.
Emerie voltou para o corredor seguindo seu horário. E durante o restante do dia observei ela, pensando em como dizer o que deveria ter dito desde o início. Calculando quanto tempo o próximo sintoma viria, quão forte seria. Como explicar meu motivos por mentir, como fazê-la entender a complexidade que ia muito além do que ela pensava.
Como dizer que todo esse tempo que ela viveu sozinha, comigo não passara de um grande engano. A distorção da realidade, a confusão que eu deveria ter deixado claro no dia em que a encontrei naquela banheira ou talvez muito antes. O embaralho que sua mente havia feito por autoproteção. A minha missão de protege-la mas ao mesmo tempo de lhe mostrar como as coisas deveriam ser. Como confessar que sua tontura fora apenas um sintoma de algo muito maior que viria.
Como explicar para a mulher que amava que eu teria que acordá-la. Como explicar que tudo o que ela viveu não passara de uma grande mentira que eu não poderia mudar mas ela sim. Ela ainda tinha esperança mas eu não. Como explicar que o que vivemos juntos não foi real e se pudesse iria até o inferno para poder mudar o futuro ou o passado, evitar que isso acontecesse.
Como dizer que eu existia por causa dela, porém se ela não me quisesse mais eu deixaria de existir porque a minha existência dependia dela. Porque eu era parte dela. Gael fazia parte da Emerie porque ela necessitava de algo, alguém para se sentir segura durante esse tempo, mas que uma hora acabaria e eu seria obrigado a deixá-la viver.
Como dizer para Emerie que sua vida era uma mentira? Que eu não passava de um projeto criado por ela mesma.
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Obrigada ♡Leiam "A CLAVE DE TI" disponível no perfil de uma amiga Akniight

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Angel In My Life
Romance(Concluído/Completo) A maior tensão sexual entre um anjo da guarda e uma humana que você irá encontrar... Emerie e Gael, uma humana e um anjo. Dois mundos completamente diferentes... o que eles têm em comum? A resposta é: os mesmos desejos devassos...