Consegui sair da casa de Asuka. Andei pelas ruas com as mãos enfiadas nos bolsos do moletom que eu vestia, um capaz cobria meus cabelos e boa parte do meu rosto. Eu não sabia onde estava indo até meus passos cessarem em frente ao meu apartamento. A porta estava fechada e tive o cuidado de encostar meu ouvido contra a madeira da porta, em busca de saber se Lee continuava lá ou não. Ele não estava. Eu não sabia se poderia ficar aliviada ou triste por aquilo.
Suspirei e adentrei no apartamento. Fitei os cacos de vidro espalhados pelo piso, havia um cinto deixado para trás perto do sofá. Me abracei com força, mordiscando meus lábios levemente em uma forma de impedir o choro.
Eu havia ido embora. Temi por minha vida e fui embora por conta disso. Ver Lee furioso me fez temer pela minha vida e fugir dele. Fugi de quem amava e claramente ele me deixou, como todos os outros, Lee me abandonou e com razões, afinal não cumpri o que prometemos um ao outro no instante que ele se ajoelhou em minha frente e me pediu em casamento. Eu não estive ali para ele nos seus momentos difíceis.
Que porra de noiva eu era por aquilo? Que tipo de mulher apaixonada eu era por não ter ficado ali e aguentado seu pior lado? Por que eu não havia ficado ali? Meu amor... Ele era o suficiente, ele... Eu amava Lee, não é mesmo? Eu o amava ele com todo meu coração mas...
Pressionei minhas palmas contra meu rosto com força. A gente se amava, então por que tudo parecia estar desmoronando? Por que parecia que nosso amor não era capaz de nos manter juntos? Porra...
Pisquei os olhos, lágrimas caíram enquanto eu cambaleava para frente, tropeçando nos meus próprios pés e acabando por cair com minhas mãos espalmadas nos cacos de vidros. Minha boca se abriu em um grito que não saiu por meus lábios, nem mesmo quando me sentei encima de minhas próprias pernas, fitando o sangue se espalhar pelas minhas palmas e cair no piso.
Sangue, minhas mãos estavam sangrando. Eles não paravam e... Passos. Virei minha cabeça, meus olhos se arregalaram no instante que o vi ali. Mais uma vez naquele dia...
─ Takahashi...─ Ele murmurou, seus olhos roxos fixos nas minhas palmas feridas. Não falei nada enquanto me levantava entre passos vacilantes e um choro que me fazia engasgar.
─ Por favor...─ Choraminguei.─ Por favor, me ajuda.
E acho que aquela foi a última coisa que falei antes de apagar completamente.
Pisquei meus olhos de maneira confusa, escuro... Estava escuro demais, o que era estranho já que Lee gostava de manter as janelas abertas para acordar assim que o primeiro raio de sol aparecer. Me sentei no colchão e senti uma fisgada em minhas mãos quando eu tentei usá-las para me livrar dos lençóis. Movi meus dedos, eles pareciam rígidos como se estivessem rodeados por bandagem. Franzi o cenho, me inclinando para o lado, buscando acender meu abajur. Ótimo, ele havia iluminado boa parte do cômodo e um grito escapou por meus lábios no momento que me deparei com Ran encostado na porta, parecendo estar propositalmente tampando minha única saída.
─ Você está bem?─ Ele perguntou, não se movendo nem um centímetro, indicando que não iria se aproximar. Eu estava confusa... Como ele estava ali? Eu...
Meu Deus, por que ele estava ali, dentro da minha casa e tão, tão próximo do que construí nos últimos dez anos como se estivesse bem próximo de destruir tudo por uma diversão sádica que eu sabia que havia em seu peito. Não respondi sua pergunta, apenas abracei minhas pernas com força e enfiei meu rosto entre os joelhos.
─ Tá legal.─ Ele suspirou, tombando a cabeça para trás, deixando com que ela encostasse na madeira da porta.─ Você costumava de amar, mas agora me odeia, o que aconteceu?
Fiquei calada por um momento. Amar Ran, ah, sim eu havia o amado mas então...
─ Você me deixou.─ Murmurei, meus olhos já se enchendo de lágrimas.─ Eu esperei que você dissesse para eu ficar, esperei que você dissesse que não teria que ir embora sozinha, pois você estaria comigo. Mas isso não aconteceu. Você me deixou ir e eu me tornei isso.
Ran ficou em silêncio, mas pude ouvir seus passos, ele se aproximava e eu me encolhi ainda mais. Tempo, precisava de um tempo... Eu não estava pronta para aquilo, pensei que... Eu não queria perto de mim, não queria encarar seus olhos e me dar conta que dez anos poderiam ter se passado, ele poderia ter quebrado meu coração um pouco e eu poderia estar amando um outro alguém mas ainda assim, eu correria para seus braços no momento que seus dedos estalassem.
─ Isso é exatamente o que, meu amor?─ Ele perguntou novamente. Seus dedos roçaram nos lençóis que cobriam minha pele, me encolhi ainda mais e desejei estar presa em um sonho, em um pesadelo e que tudo desaparecia e eu teria minha vida de volta. Eu teria Lee e uma felicidade.─ Por que você parece tão quebrada, Aya?
Aya... Ah, sim, Ran não conhecia a Junko. Ele não conhecia aquela nova versão mais frágil de mim mesma. Ele não conhecia quem eu havia me tornado ao longo de dez anos. Ele não sabia que eu era noiva, ou pelo menos era antes de...
Solucei.
─ Por que?─ Chorei, me virando para ele e agarrando seu casaco com força. Meus olhos encararam suas orbes roxas.─ Por que você não ficou comigo? Você me amava, nós íamos ter tudo, Ran. Tudo, mas você... Você me deixou, a que custo?
Ele não me disse nada. Apenas me abraçou. Chorei em seus braços, desesperada e sufocada por tudo que aconteceu nas últimas horas. Eu só queria um tempo para processar tudo, um tempo para me sentir um pouco eu mesma mas aquilo era impossível, tão impossível para alguém que estava perdida dentro de sua própria vida, tão impossível para alguém que tinha o passado batendo em sua porta novamente e pronto para acabar com tudo que conquistei mais uma vez.
─ Eu não teria me tornado assim se tivesse você. Eu não...─ Solucei, me agarrando ainda mais nele. Suas mãos acariciavam minhas costas com delicadeza.─ Eu não estaria tão perdida se tivesse você...
Ele beijou minha testa, me puxando para perto em um abraço que não retribui, tentando me afastar de seus braços até que suas mãos seguraram meu rosto, fitando meu rosto com carinho.
─ Eu estou aqui agora, isso não basta?
─ Até quando? Até quando você vai estar aqui e então me abandonar como você já fez uma vez, Ran?
Ele piscou os olhos, e prestes a me responder, seu celular tocou. Pude ver o nome de Asuka no visor, aproveitei a oportunidade para me enfiar nos lençóis, fechando meus olhos com força e me encolhendo, abraçada a mim mesma. Eu só queria tempo... Estava tão perdida, tão cansada.
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Sinners • Tokyo Revengers
FanfictionAs vidas de Aya Takahashi e Asuka Nakamura não eram, nem de perto, parecidas. Enquanto Aya lutava para sobreviver aos traumas do passado que insistiam em ainda atormenta-la, Asuka buscava, a todo custo, esconder quem ela era de verdade, em uma tenta...