Minha família era o verdadeiro significado da palavra "disfuncional". Não era, nem de perto, uma família normal, isso eu posso dizer com toda a certeza do mundo, e nem mesmo morando em um lugar pacífico como Creta é o suficiente para acalmar os ânimos da minha família quebrada. Não que eu me importasse, sinceramente. Quer dizer, na maior parte do tempo, eu tinha que manter minha calma, pois sabia o como tinha sido um inferno convencer minha mãe e tia Aya a aceitarem aquilo e, mesmo que três anos tenham se passado, não tenho lá muita certeza se elas aceitaram completamente. Sei que toda vez que uma merda muito grande acontece, minha mãe gosta de gritar um "Violeta, a culpa é sua esse merda estar aqui em casa" e o merda é sempre meu pai, simplesmente impressionante.
Apesar disso, por mais incrível que pudesse parecer, eles não brigavam quase nunca. O que realmente era mesmo um surpresa levando em consideração que, quando eu era mais nova e estavamos morando no Japão, lembro muito bem das incontáveis discussões que eles tiveram e do como minha mãe largou meu pai e simplesmente foi embora. Sem contar o incrível detalhe que ela escondeu dele por praticamente dez anos que eu existia.
Mas eu entendia, até porque, sei que meu pai não costumava ser lá uma boa pessoa antigamente. Claro que as coisas já não são mais assim porque, no fim das contas, pessoas podem mudar, até mesmo criminosos membros de gangue! Minha mãe é burra se acha que não sei que meu pai e meu tio ainda são procurados pela polícia pelas coisas que fizeram no passado. Tipo, pelo amor de Deus, eu tenho internet e não sou lesada, ela que tente esconder, mas eu sei exatamente as coisas que eles fizeram, assim como também sei que não são mais essas pessoas. E nem mesmo tia Aya é santa nessa história! Definitivamente mamãe se meteu em um buraco.
Como eu disse: uma família totalmente e completamente disfuncional.
Isso porque nem falei sobre a tia Aya e sua incrível e bizarra confusão com o tio Ran, mas isso é um assunto que prefiro não me meter, sinceramente. Três anos com todos nós morando juntos, e eu ainda assim não entendo o relacionamento deles, se eles se odeiam ou se amam, então vou apenas fingir que nada disso existe.
E agora, era simplesmente irritante ver o quanto meu pais se amavam apesar de tudo. E também era muito irritante meu pai fazer literalmente tudo o que minha mãe queria sem nem mesmo protestar, ou seja, toda vez que ela minha me dar uma bronca, não tinha uma boa alma pra me defender nessa casa.
Sim, se amavam, mas às vezes minha mãe surtava tipo agora que ela tá bem perto de atirar o vaso de vidro na cabeça dele só porque meu pai disse que seria lindo se dessem o nome do meu irmão de "Sanzu". Eu nem sei quem é Sanzu, mas pela reação da minha mãe, ela sabe e não gostou nem um pouco, e pelo sorriso maldoso que meu pai dava dando pra ela, ele claramente tinha feito de propósito.
Alguém esqueceu de avisar pra ele que não é boa ideia irritar uma mulher grávida, ainda mais se essa mulher é minha mãe que pode construir uma bomba com, sei lá, bicarbonato de sódio e alguma outra merda (eu não sou minha mãe. Odeio exatas).
-Eu disse pra sua mãe não cair no erro de ficar com um Haitani pela milionésima vez. - Tia Aya resmungou, olhando para meus pais se estressando e revirando os olhos. Na verdade minha mãe que estava se estressando porque meu pai claramente estava rindo da cara dela. -Mas sua mãe é burra, e não contente, ela foi lá e ficou grávida de novo.
-Tia Aya, para de ser hipócrita. - eu disse com um sorrisinho e ela me lançou um olhar que prometia morte, o que apenas me fez querer rir. -Você sabe que eu sou uma Haitani também, né?
-Você é a única coisa boa que seu pai fez nessa vida, garota. - tia Aya disse e eu não sabia se dava risada ou fazia uma careta. Sim, ela e meu pai se odiavam, assim como minha mãe odiava o tio Ran, e esses eram os únicos mistérios que eu ainda não tinha solucionado: como depois de três anos morando juntos, ainda existia espaço para tentativas de assassinato?
-Para de colocar merda na cabeça da minha filha, Takahashi.- meu pai disse e, em resposta, recebeu um tapa da minha mãe tão forte que fez barulho. Torci o nariz, ainda mais quando tia Aya riu.
-Cala essa boca, Rindou. Sua moral ta na casa do caralho. - minha mãe disse, visivelmente ainda muito, muito irritada com aquele papo de nomes.
-Acho incrível o como essa família é carinhosa e amorosa. - Tio Ran zombou, provavelmente apenas aparecendo pra descobrir o porque de minha mãe estar tão puta com meu pai.
-Cala essa boca. - sim, a resposta em sincronia dos três "adultos" para tio Ran foi realmente engraçada. Às vezes chego a pensar que a única responsável nessa droga de casa sou eu, e eu tenho só quinze anos.
Começei a dar risada, o que chamou a atenção nos quatro para mim, me olhando com caretas confusas, como se eu estivesse doida por estar rindo. Sério que eles acham muito normal esse comportamento deplorável deles uns com os outros? Parecem um bando de crianças! Sim, é realmente difícil acreditar que minha mãe, uma pessoa tão inteligente e estudada e que ganhou um Nobel, perde todos os neurônios perto do meu pai, e, sendo sincera, também é difícil acreditar que ele, tia Aya e tio Ran fizeram tanta merda levando em conta que parecem só um bando de adolescentes sem um pingo de maturidade.
Como eu disse: família completamente quebrada e totalmente fora dos padrões esperados e impostos pela sociedade. Se eu trocaria essa minha família merda por qualquer outra?
Definitivamente não.
Por isso, apenas sorri para eles e os forcei a se abraçarem apesar das caretas que surgiram no processo, como se fossem crianças birrentas. No fim, eu realmente amava minha família disfuncional.
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Sinners • Tokyo Revengers
FanfictionAs vidas de Aya Takahashi e Asuka Nakamura não eram, nem de perto, parecidas. Enquanto Aya lutava para sobreviver aos traumas do passado que insistiam em ainda atormenta-la, Asuka buscava, a todo custo, esconder quem ela era de verdade, em uma tenta...