Minha cabeça estava explodindo de dor. Não pela ressaca, claro, mas sim por ter meus pais gritando nos meus ouvidos por terem descoberto sobre minha DP. Bom, pelo menos não tinham me deixado de "castigo", o que era uma puta evolução! Não nego que fiquei um pouco assustada e com medo quando percebi que meu pai sabia sobre minha DP. Medo verdadeiro mesmo. Porque somente eu sabia que tipo de coisas eu passava na mão desse arrombado, ainda mais quando ele se irritava de verdade comigo. Pelo menos aquilo não havia sido o suficiente pra tirar o humor do velho, principalmente depois dele ter passado a tarde bebendo whisky e fumando na beira da piscina, como o belo vagabundo rico que ele era.
Era uma bela noite de domingo e, sinceramente, o pior dia da porra da semana. Quer dizer, a parte ruim é que eu tinha que aguentar meus pais o dia todo já que não tinha faculdade e a boate não abria, a parte boa é que eles nunca notavam o sonífero que eu jogava nas taças de vinho deles, esperando os dois velhos capotarem para passar a mão nas chaves do porsche do meu pai e sair fazendo merda pela rua.
De domingo, eu não bebia nada, nem mesmo ousava colocar uma gota de álcool na boca ou fumar maconha. Porque de domingo, minha diversão, o que me fazia esquecer de tudo, era outra coisa.
O Porsche entrou derrapando na pista da avenida vazia conforme eu virava o volante para recuperar o controle do carro e metia o pé no acelerador. Apenas abri um pouco a janela do carro para permitir que o vento gelado entrasse, açoitando com força meu cabelo comprido que estava preso em um rabo de cavalo.
Eu gostava daquilo; gostava de roubar o carro do meu pai, cobrir a placa e sair em disparada pelas ruas, a adrenalina me consumindo por completo. Ao mesmo tempo que o medo de ser pega ou até mesmo morrer me possuía, o desejo de ir cada vez mais rápido também era bem real. Eu sempre me perguntava: e se eu acelerasse só mais um pouquinho? Faria tanta diferença assim, afinal?
Participar de rachas era algo interessante, mas correr em alta velocidade sem estar, de fato, competindo com alguém, me trazia um tipo diferente de sentimento. Como se tudo pudesse acabar assim, em um piscar de olhos, se eu cometesse o mínimo erro que fosse. E, de fato, tudo poderia mesmo acabar, levando em conta a alta velocidade que eu corria pelas ruas.
Ainda assim, pressionei mais o pé no acelerador, sorrindo com o barulho do motor chiando.
Tudo passava como um borrão; as luzes dos postes e do farol, os letreiros coloridos das lojas ao redor, a escuridão das folhas das árvores ao redor; nada importava, pelo menos, não de verdade.
Virei o volante com tudo, uma curva tão fechada e arriscada que qualquer um com menos prática naquilo do que eu poderia facilmente ter pedido o controle do carro e o batido, graças a alta velocidade que o veículo se encontrava.
Com um suspiro, diminui a velocidade do Porsche, ciente de que não poderia fazer aquilo pelo resto da noite, apesar que minha vontade fosse exatamente essa: correr pelas ruas até que o sol começasse a nascer.
Novamente, fechei o vidro, levando o carro até um local mais afastado e discreto para poder remover os panos que tinha usado para cobrir a placa do carro. Eu tinha sorte de nunca ter sido pega fazendo isso, caso contrário, estaria muito, muito fodida. Mas eu, sinceramente, não me importava, não de verdade. Correr com o carro, ciente de que qualquer deslize poderia me matar, ainda assim, me trazia uma adrenalina que movia todo o meu corpo. Aquilo era melhor que qualquer droga e qualquer álcool. Se eu pudesse, faria aquilo todos os dias e a todo momento, apesar de ser extremamente perigoso. Eu era uma puta motorista, e se eu acabasse morrendo um dia por causa disso, bem, então eu mereceria!
Quando voltei para o inferno que chamava de casa, não pensei muito antes de atirar as chaves do Porsche no prato de cerâmica que ficava ao lado da porta, arrancando minhas botas pretas e as largando pelo caminho enquanto caminhava em direção ao meu quarto que havia sido decorado pela minha mãe, já que eu nunca tinha a opção de escolher nada que eu queria.
Afundei no colchão macio, me virando para enfiar meu rosto no travesseiro. Apenas desejava, do fundo do meu coração, que tudo fosse diferente. E, se fosse ser bem sincera... Eu apenas queria desaparecer do mundo.
-Porque você tem tanto medo de um bostinha que deve ter seus dezenove anos, Hiroki?- perguntei ao homem de cabelos cacheados na minha frente, enfiando alguns comprimidos na boca. Depois da péssima noite que eu tive, minha cabeça latejava de dor. Talvez eu não devesse ter exagerado demais ontem, corrido demais. Agora que a adrenalina toda daquele momento tinha passado, eu apenas me sentia exausta demais até mesmo para fazer o básico.
Hiroki estava me observando atentamente, como se tentando descobrir qual era a merda da vez que estava errada comigo. Bem, minha vida era um caos, a questão era o que ainda tinha sobrado no lugar! E, sinceramente, acho que nada.
-Ele é a porra de um delinquente e eu já não te contei as histórias que sei, não? Porque tá tão obcecada por isso, cacete? - ele disse e eu franzi o cenho antes de dar de ombros.
-Sei lá. Por algum motivo, o jeito que ele me olhou como se eu fosse um cachorro irritante querendo atenção me irritou.- eu resmunguei. Hiroki revirou os olhos.
-Você tava bêbada pra caralho, Asuka. - ele reclamou. -Flertando como uma imbecil, e logo com aquele cara, puta que pariu!
Apenas revirei meus olhos com pura irritação. Tá beleza, depois que Hiroki me explicou quem era esse tal de Rindou, percebi que além de babaca, era um belo de um arrombado! E uma pessoa que deveria, sim, ser temida. Mas agora já era tarde demais pra essa porra! Eu estava curiosa sobre ele e isso só me levaria a um lugar, sabia bem disso.
Eu gostava de desafios e, principalmente, adrenalina. Por isso, não me importei antes de arrancar o envelope com o dinheiro das mãos de Hiroki e caminhar para fora da boate. Ele fez uma careta, mas não protestou; até porque, ele se cagava de medo do tal Rindou, então se eu fosse resolver as merdas dele por ele, bem, Hiroki não reclamaria.
Por isso, apenas fui para fora da boate. O encontrando já ali, no mesmo lugar da outra noite, com a mesma cara entediada. Os olhos roxos do delinquente se fixaram em mim, inexpressivos e muito, muito irritantes. Revirei os olhos, mas abri para ele um sorriso cheio de malícia.
-E aí, gatinho, veio me ver?- cantarolei. E, pela forma que ele me olhou, já sabia que daquilo poderia resultar em duas coisas: uma foda muito foda ou com minha língua sendo cortada fora. E eu estava disposta a descobrir qual dos dois eu teria a sorte (ou o azar) de receber.
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Sinners • Tokyo Revengers
FanfictionAs vidas de Aya Takahashi e Asuka Nakamura não eram, nem de perto, parecidas. Enquanto Aya lutava para sobreviver aos traumas do passado que insistiam em ainda atormenta-la, Asuka buscava, a todo custo, esconder quem ela era de verdade, em uma tenta...