Kaku me fitou com seus olhos bicolores, vermelho e o acinzentado que apenas mostrava um dos resultados do acidente que matou seus pais deixando uma terrível cicatriz em seu rosto. Os lábios do homem se repuxaram, criando um sorriso que me fez empurrá-lo para o lado com meu ombro. De repente, me pareceu que voltamos a ser aqueles órfãos que não tinham a mínima ideia de como o mundo poderia ser sombrio quando quisesse e por mais que tivesse me privado do pensamento, eu quase podia enxergar Izana ao lado de Kaku, falando algo que eu parecia alguém responsável com as peças azuis e jaleco branco.
"Sonhos de órfãos não se cumprem, Aya. Fomos abandonadas pela vida e jamais vamos voltar a tê-la." Foi o que Yuna havia me dito a muito tempo atrás quando ainda éramos irmãs felizes, parte de mim ainda acreditava que ela apenas tinha dito aquelas palavras pois desejava que eu fosse líder da gangue que criamos juntas no orfanato ao lado de Izana e Kaku, brincando que seríamos inimigos até o fim dos tempos por conta de nossas gangues.
O importante que eu havia provado a ela que estava errada e que sonhos de órfãos se realizam, afinal eu estava ali como prova física que aquilo era real.
─ Nunca pensei que a veria mais uma vez quando soube que foi embora.
─ Não se chega muito longe com pouco dinheiro.─ Confessei, abraçando meus joelhos. Kaku riu.
─ Seria muito mais simples se você dissesse que só não queria estar muito longe dele.─ Ele disse, eu sabia muito bem de quem estava falando e não pude ser capaz de negar. Era a verdade. Eu não queria estar muito longe de Ran, ele me deixou ir, mas eu não deixei com que ele fosse embora de meu coração, pelo menos não completamente.
Suspirei, passando as mãos por meus cabelos curtos, tão curtos que muitas vezes chegavam a me confundir com um homem e iguais a dez anos atrás quando eu mesma cortei meus cabelos para que Asuka visse que nada e ninguém poderia quebrá-la sem que ela quisesse. Pisquei meus olhos, tombando minha cabeça para o lado e deixando com que ela se apoiasse no braço de Kaku.
─ Ele está estável.─ Não precisei dizer nomes, pois sabia muito bem o motivo pelo qual ele estava ali, da forma que sem dúvidas todos os executivos da Bonten se encontravam por ali pelo hospital, sendo procurados por policiais enquanto se escondiam, nada além de um jogo de pega-pega que não tinha como dar certo.─ Vai precisar estar no hospital por um pouco mais de tempo, os ossos das suas pernas se quebraram e um dos ossos atingiu uma artéria importante, fizemos uma cirurgia que deu certo mas ele precisa ficar em observação então é melhor cancelarem qualquer tipo de merda que vocês planejaram para que Manjiro saia daqui sem ser dentro de uma viatura.
Kaku me encarou seriamente e assentiu, naquele momento, passos soaram. Não precisei dizer nada para que Kaku me fitasse antes de desaparecer nos corredores, provavelmente indo se encontrar com o resto de seus imbecis. Me levantei e me virei, passando as mãos por minhas calças, pronta para dizer alguma desculpa para estar ali em meio ao caos que ocorria no hospital. Meu cenho se franziu, assim que fitaram olhos roxos que esbanjavam inocência da mesma forma que seu sorriso mostrava o quão estava feliz por me encontrar ali.
─ Tia Aya!─ Ela gritou, correndo para meus braços, quase caindo entre tropeços nas escadas. Eu a segurei com força antes que atingisse o chão, Violeta riu e instaneamente tive vontade de quebrar a cara de Asuka por ser tão burra a esse ponto.
Não sei como caralhos consegui andar com uma criança nos braços conforme atravessava os corredores como se estivesse sendo perseguida por um psicopata maluco, o que era meio verdade já que Rindou era um sádico da porra e isso só tinha piorado nos últimos anos pelo que eu havia acompanhado pelos jornais e também não vou dizer que não estava fugindo de Ran. Consegui não me encontrar com ele durante todos esses dez anos, mesmo recebendo seus presentes. Não seria agora que eu me encontraria com ele e por culpa de seu líder suicida.Estava focada em chegar no escritório de Lee, algo que ele recebeu de seu pai que era nada menos que o diretor daquele hospital, e ligar para Asuka. Violeta precisava sumir do Japão o mais rápido possível. Estava tão focada que assim que senti um toque em meu ombro, soltei um grito alto e tentei atingir a pessoa atrás de mim com o pé, mesmo que tivesse quase caído com aqueles gestos por conta de Violeta que também acabou gritando.
─ Ei, calma! Sou eu!─ Gritou Hakkai. Pisquei os olhos, recuando e grunhi algum xingamento, me aproximando, dando um tapa em seu braço após colocar Violeta no chão que rapidamente abraçou minha perna.
─ Seu imbecil! Você me assustou pra porra!─ Gritei, estapeando seu braço com força. Ele também começou a retribuir meus tapas de forma leve. Não sei quanto tempo ficamos assim mas sei que finalmente chegamos no escritório do Lee. Fechei a porta com chave, depois que adentramos no cômodo da mesma forma que fechei todas as cortinas. Tudo bem, só isso...
─ Que porra tá rolando?─ Perguntou Hakkai. Eu o ignorei, me sentando na cadeira estofada de Lee e pegando o telefone fixo. Ok, acho que ainda me lembro do número da Asuka.
─ Vi, você disse pra sua mãe que tava indo atrás de mim?─ Perguntei para Violeta que se aproximava. Sorri em sua direção fazendo carinho no seu rosto enquanto ela balançava a cabeça, negando.
─ Eu te vi e vim falar com você!─ Ela disse, animada. Meu Deus, ela é surtada que nem a mãe e o pai... Estalei um dedo na direção de Hakkai, o telefone continuava chamando...
─ Manjiro Sano está no hospital. E pelo que parece, a Bonten veio atrás do líder. Eles devem estar espalhados por aí.─ Hakkai franziu o cenho, levemente confuso.─ Cadê a Hinata e os outros? Eles estão por aí? Vieram ver o Takemichi?
Ele assentiu com a cabeça.
─ Trouxemos algumas flores e alguns médicos tranquilizou a Hina, apesar de tudo, ela tá bem...─ Ele suspirou, relaxando no sofá de couro que estava jogado.─ Não sei como aconteceu, eu só...
Não ouvi o resto que ele disse, pois a voz chorosa de Asuka chegou aos meus ouvidos mas eu não consegui dizer nada, já que exatamente no momento que ia proferir algo, Violeta começou a brincar com as cortinas e então...
Olhos roxos me fitaram com malícia antes de desviar e encarar a criança em sua frente. Por um momento, jurei que ele iria desmaiar antes que seu olhar voltasse para mim e eu soubesse que estava muito bem fodida.
─ Escritório do Lee, vem pra cá, agora!─ Rosnei para Asuka antes de desligar a ligação e eu me levantasse, pronta para enfrentar Rindou, caso ele fizesse alguma merda.
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Sinners • Tokyo Revengers
Fiksi PenggemarAs vidas de Aya Takahashi e Asuka Nakamura não eram, nem de perto, parecidas. Enquanto Aya lutava para sobreviver aos traumas do passado que insistiam em ainda atormenta-la, Asuka buscava, a todo custo, esconder quem ela era de verdade, em uma tenta...