☪ . ☆ FIFTY TWO ☆ . ☪

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Não queria acordar

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Não queria acordar. Não queria abrir os olhos e voltar para aquele inferno, para mais um dia onde eu desejava morrer mas não tinha isso. A primeira coisa que senti foi a dor por todo o meu corpo, antes mesmo de abrir os olhos. Ela era o motivo de eu ainda estar acordando todos os dias, porque quando ela se tornava insuportável, não me deixava outra alternativa que não me manter acordada. Acordada por tempo o suficiente apenas para desmaiar de novo.

Mas percebi que tinha algo diferente no instante que abri meus olhos. Por um segundo, achei que talvez fosse alguma alucinação da minha mente já muito fodida. Pisquei os olhos, franzindo o cenho ao me dar conta que estava em um quarto enorme, numa cama enorme, e que meus ferimentos tinham sido cuidados. Tudo bem, tinha algo errado... E senti meu coração ir parar na garganta.

Tentei me levantar daquela cama, tentando caminhar até aquela janela, mas tudo o que consegui foi cair de boca no piso de madeira. Pisquei os olhos para afastar as lágrimas que surgiram quando meu nariz atingiu o chão. Merda do caralho!

Tremendo, eu me agarrei ao colchão da cama pra tentar me levantar, mas estava tão, tão fraca que nem isso eu consegui. Super sensacional uma merda dessas.

Nem mesmo escutei a porta ser aberta, só sei que mãos se fecharam ao redor de mim, me ajudando a levantar. Ou poderia ter gritado; provavelmente teria gritado, mas eu já não tinha forças para sentir nada além de vontade de morrer.

-Caralho, você é pesada pra porra.- aquela era a voz de Kazume. E, por mais bizarro que fosse, saber que ele estava ali foi a única coisa que me deixou mais calma.

Ele me ajudou a sentar de volta na cama e eu gemi de dor. Todo meu corpo doía, doía de uma forma absurda. Kazume me olhou, parecendo preocupado. Ele só me olhava assim, na verdade.

Eu o encarei, esperando por respostas. Como onde caralhos estávamos, o que caralhos tinha acontecido, porque estávamos ali... E claro que ele entendeu perfeitamente o que eu queria saber, porque suspirou e revirou os olhos, se sentando na minha frente.

-Acho que estamos seguros aqui.- ele disse e eu fiz uma careta, ou ao menos tentei fazer uma careta. -Sua amiga, eu acho, achou a gente. Você tava apagada. Foi a porra de um caos, porque claro que Shiori ia fazer mais alguma merda e também apareceu outra surtada da porra. Ela está morta, aliás. - por um segundo, Kazume ficou em silêncio. Em profundo silêncio. E eu sabia quanto aquilo machucava nele, mesmo que Shiori tivesse feito o que fez. Eu apenas suspirei. -Sua amiga tomou um tiro no ombro, mas acho que ela tá bem. Aqueles irmãos do caralho apareceram da puta que pariu com um outro cara e jogaram a gente em um carro enquanto todo mundo atirava que nem um bando de imbecil. Na verdade, achei até que eles iam me matar.

Torci o nariz e pisquei os olhos, tentando entender o que tinha acontecido. Certo... Aya tinha tomado um tiro? Deus, aquilo foi o suficiente para me deixar apreensiva e um pouco assustada, mas Kazume me puxou de volta quando fiz menção de, sei lá, me levantar.

-Você tá bem agora, Asuka.- ele disse apertando minha mão com força.

Mas isso não era verdade. Eu podia estar fora de perigo agora, mas estava longe, muito longe, de estar bem. E eu não sabia sequer se eu ficaria bem de novo. Meus olhos queimaram com as lágrimas, senti aquela dor esmagadora dentro do peito arrancar totalmente o meu fôlego. Não importava que Shiori estivesse morta agora, porque ela já tinha conseguido o que queria, já tinha quebrado algo dentro de mim, algo que eu não sabia quanto tempo levaria para consertar ou se eu sequer poderia dar um jeito nisso.

Kazume abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas a porta se abriu, fazendo com que nós dois nos encolhessemos com o barulho.

Quando Rindou entrou no quarto, parou no segundo que me viu acordada e viu Kazume ali. Kazume arregalou os olhos, parecendo bem perto de correr para aquela mesma janela que tentei alcançar e pular dela.

Rindou olhou com raiva para Kazume, e eu o conhecia bem o suficiente para saber que ele estava bem perto de socar o nariz dele. Ele deu um passo na nossa direção e eu coloquei o braço na frente de Kazume, encarando Rindou, que pelo menos se tocou e parou de avançar. Ele olhou para mim e piscou os olhos, parecendo perplexo ou como se eu tivesse enfiado uma faca nas suas costas. Bem, foda se, eu não tinha mais estruturas psicológicas para aquele tipo de merda.

-Eu te disse pra ficar longe dela.- Rindou falou olhando Kazume com irritação. Kazume resmungou algo que nem mesmo eu entendi, mas não importava. -Acho bom você sair antes que eu me irrite.

Eu não queria que Kazume saísse. Sinceramente, não queria ficar sozinha e não queria ficar sozinha com Rindou. Porque a única pessoa que sabia e entendia o que eu estava sentindo agora... Era Kazume. Porque ele esteve comigo durante essas duas semanas, passando pela mesma merda que eu, então ele sabia. E Rindou não sabia de nada, sequer era capaz de entender.

Kazume me olhou, como se tentasse entender se eu o queria ali ou fora. Eu o olhei de volta, e ele até que tava ficando bom em entender o que eu queria sem eu precisar abrir a boca pra falar.

-Não vou sair.- ele retrucou, cruzando os braços, mesmo que todos nós soubéssemos que ele tava se cagando de medo de apanhar.

Rindou o encarou como se tivesse planejando mil e um jeitos diferentes de torturar Kazume e, o conhecendo bem, sabia que era exatamente isso que ele estava fazendo. Por fim, ele apenas bufou com irritação, bagunçando os cabelos.

-Preciso falar com ela e não com você. - Rindou disse e Kazume deu uma risada sem nenhum humor.

-Você pode tentar, mas te garanto que não vai dar certo.- Kazume disse arqueando a sobrancelha. Dessa vez, Rindou avançou contra ele, o agarrando pela gola da camiseta.

-Que porra isso quer dizer?- ele rosnou. Kazume o olhou com raiva.

-Quer dizer que você é um imbecil do caralho já que não consegue enxergar que Asuka não tá bem. E que é um imbecil do caralho por estar fazendo essa porra do caralho agora.- Kazume disse irritado, empurrando Rindou. Rindou não se afastou, mas soltou Kazume, piscando os olhos com confusão e me olhando por um instante. -Ela não vai falar com você, simplesmente porque ela não tá falando, porra.

-Quê?- Rindou pareceu genuinamente confuso e Kazume revirou os olhos irritado.

-Você não sabe o que aconteceu lá. - Kazume disse e Rindou o encarou. -Então também não sabe o que fazer para arrumar as coisas. Então, deixa pelo menos ela respirar.

O pior de tudo era admitir que Kazume tinha razão, no fim das contas. Rindou não sabia, nenhum deles sabia. Tudo o que Shiori quebrou dentro de mim e que talvez não desse para colocar de volta no lugar.

E claro, nenhum deles sabia o quanto eu ainda queria sumir do mundo e apenas... Nunca mais voltar.

 Nunca mais voltar

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Sinners • Tokyo RevengersOnde histórias criam vida. Descubra agora